
Um estudante universitário estaciona sua motocicleta próximo da faculdade em que estuda e deixa o veículo esperando pegá-lo ao fim das aulas do dia. Na hora de voltar para casa, a surpresa: a moto não está mais na vaga. Segundo a Polícia Civil, esse tipo de situação tende a diminuir em Belo Horizonte depois da prisão de um trio de criminosos altamente especializados, que buscava esse perfil de vítimas para fazer em média cinco furtos por semana na capital mineira, especialmente no turno da noite. O problema é que esse crime silencioso, que muitas vezes ocorre sem despertar nenhum tipo de suspeita, experimenta uma escalada em BH, segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG). Todos os dias, seis motos são levadas por criminosos na cidade sem que seus donos percebam. O que mais chama a atenção é que, diferentemente dos carros, a proporção dos furtos dos veículos de duas rodas vem aumentando nos últimos três anos em relação aos roubos – casos em que há emprego de violência na retirada do bem.
Um dos motivos apontados para o aumento deste tipo de crime, segundo a Detran, é a falta de dispositivos de segurança. “As montadoras de veículos investiram muito em dispositivos que dificultam o furto de carros, e não fizeram tanto com relação às motocicletas. Como exemplo se pode citar as chaves com codificação para carros, o que dificilmente se vê para motocicletas”, explicou, por meio nota.
Mesmo quando há um cuidado dos donos dos veículos, com a colocação de trancas, por exemplo, as quadrilhas especializadas conseguem meios para levar as motos. “Apesar da necessidade de uma mínima expertise quando há furto, os criminosos costumam usar chaves no formato de estrela para estourar a tranca das motos e, com isso, proporcionar sua partida. A ação demora segundos e pode ser feita por pessoas com pouca ou nenhuma especialidade. Ainda assim, existem quadrilhas especializadas nesses tipos de crimes”, disse o Departamento. Os donos das motocicletas podem usar alguns dispositivos para inibir o furto. Segundo a Polícia Civil, podem ser utilizados cadeados que são presos nas rodas, correntes, alarme e sensor de presença que cortam a corrente e/ou combustível.

O destino da maioria das motos é normalmente o desmanche. “O trabalho diário levou à conclusão que a maioria das motos são desmanchadas. As investigações demonstram que as motos são desmanchadas em minutos e isso ocorre em qualquer tipo de ambiente, até mesmo em residências”, completou o Detran.
Ontem, agentes do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp) da Polícia Civil apresentaram cinco criminosos, identificados em mais de seis meses de investigação, com atuação no furto de veículos em Belo Horizonte. Três deles preferiam motos e buscavam, na maioria dos casos, os veículos que ficavam nas imediações de faculdades, como Facisa e Anhanguera, ambas na Avenida Antônio Carlos, UNA, por incrível que pareça nas redondezas do Detran/MG da Avenida João Pinheiro, entre outras. Segundo o delegado Thiago Machado, esse expediente era usado justamente pela maior possibilidade de sucesso dos bandidos. “Aproveitando que o estudante deixava sua motocicleta ali, se dirigia para a sala de aula para estudar e devido a esse tempo que ele permanecia estudando, eles aproveitavam para ter a tranquilidade em usar uma chave mestra e levar essa motocicleta”, afirma.

Todos foram presos em Neves e o grupo escolhia prioritariamente motos entre 160 e 300 cilindradas, por terem peças de maior valor e liquidez no mercado. Os investigadores estimam que o grupo conseguia movimentar cerca de R$ 10 mil por semana com a prática criminosa. As investigações seguem com foco nos receptadores. Na casa de um deles, que foi liberado da prisão mediante pagamento de fiança, foram encontradas duas motos furtadas. A Polícia Civil acredita que a prisão vai dar um baque nesse tipo de crime, já que toda semana eles furtavam cinco motos e agiam pelo menos desde janeiro, quando foram identificados e passaram a ter os passos monitorados.
MAIS PRISÕES Na mesma operação que deu um golpe no furto de motos em BH, o Deoesp também prendeu outros dois ladrões. Eliseu Laudelino Lopes, de 47 anos, e Rodrigo Luis dos Santos, de 42, são apontados como autores de furtos de veículos mais antigos, normalmente com data de fabricação entre 1995 e 2000. Toda a investigação, inclusive, começou com Eliseu, apontado como autor de um caso de extorsão mediante sequestro em setembro do ano passado, que desencadeou todo o trabalho de descoberta dos cinco criminosos. Ao todo, a PC conseguiu cinco mandados de prisão e oito de busca e apreensão. Eliseu e Rodrigo furtavam carros e repassavam para pessoas de menor poder aquisitivo por baixos valores, muitas vezes em troca de serviços que eles necessitavam.
