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Estado de Minas

Pais de criança em tratamento contra o câncer se casam em entidade filantrópica

Firmes no enfrentamento do câncer do filho e a pedido dele, os pais de José Rodolfo se casaram em entidade assistencial em Montes Claros. O garoto levou as alianças


postado em 19/02/2018 06:00 / atualizado em 19/02/2018 09:26

Andreza e Janael Oliveira com o pequeno José Rodolfo na cerimônia de casamento na sede da Fundação Sara, que organizou a festa: família unida na saúde e na doença(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Andreza e Janael Oliveira com o pequeno José Rodolfo na cerimônia de casamento na sede da Fundação Sara, que organizou a festa: família unida na saúde e na doença (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Teve tudo que marca um casamento: ansiedade, decoração, damas de honra, entrada dos padrinhos... e até o atraso da noiva. Mas o local da cerimônia foi bem diferente: uma instituição que assiste crianças com câncer. Foi assim, na base de muita emoção e esperança, que Janael Alves de Oliveira, de 30 anos e Andreza Martins Oliveira, de 27, selaram sua união e celebraram a força da família, em Montes Claros (Norte de Minas), na sede da Fundação Sara, entidade que presta apoio a crianças de baixa renda em tratamento.


O matrimônio foi realizado na noite de sexta-feira, em cumprimento de promessa dos pais e em atendimento a um pedido do pequeno José Rodolfo Martins OIiveira, de 6 anos, único filho do casal, que recebe tratamento de um tumor cerebral (Ependinoma) e é assistido pela entidade filantrópica, onde se encontra desde o diagnóstico da doença, há cinco meses. A família é natural de São João das Missões, no Norte de Minas, município com mais o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas: 0,529. Mais de 60% dos 12,8 mil habitantes da cidade, que fica a 687 quilômetros de Belo Horizonte, são indígenas, da reserva xacriabá.

Janael e Andreza já tinham se casado oito anos atrás. Ficaram juntos cinco anos e se separaram judicialmente. Voltaram a se relacionar, mas oficialmente continuavam separados. Depois do diagnóstico da doença do filho, o casal mudou-se para Montes Claros, distante 280 quilômetros de São João das Missões, para acompanhar o tratamento de José Rodolfo. Os três foram morar na Fundação Sara, que atualmente assiste 170 crianças e adolescentes que lutam contra o câncer. Ali, eles recebem, gratuitamente, hospedagem, comida, medicamentos e transporte para o hospital.

José Rodolfo enfrentou um quadro muito difícil, com poucas chances de escapar (tumor de grau 4, o mais agressivo) e ficou entre a vida e a morte. Foi submetido a cirurgia no cérebro e a quimioterapia. Sobreviveu. O garoto continua o tratamento, o seu quadro evolui bem em busca da cura, conforme a oncologista pediatra Eliana Cavacami, que o atende.

Durante o tratamento, o menino contou que tinha um desejo: ver casados os pais, cuja união se fortaleceu depois de iniciada a luta do filho contra o câncer. Comovida, a equipe da Fundação Sara resolveu realizar o sonho de José Rodolfo e com a ajuda de parceiros, organizou o casamento de Janael e Andreza na sede da entidade.

A cerimônia foi realizada como manda o figurino. Os padrinhos foram familiares do casal, pais, adolescentes e crianças assistidas pela Fundação Sara e também uma funcionária da instituição. Os pais da noiva se deslocaram de Manga (a 280 quilômetros de Montes Claros) especialmente para o grande dia.

Andreza teve dia de noiva, com direito a maquiagem e outros cuidados especiais proporcionados por um salão de beleza. Com um vestido branco, véu e grinalda, ela chegou à cerimônia com meia hora de atraso e entrou acompanhada por um grupo musical. Foi recebida pelo noivo Janael, muito ansioso e emocionado. Eles disseram o “sim” e oficializaram a nova união diante do juiz de paz.

ALIANÇA Mas  a emoção maior veio com as alianças. O porta-alianças foi o filho José Rodolfo. Vestido a caráter, com um terninho, entrou no espaço numa cadeira de rodas, empurrada por outra criança, que também está em tratamento contra o câncer. Andreza chorou copiosamente. Vários familiares do garoto, funcionários da Fundação Sara e convidados também não contiveram as lágrimas.

“Lido sempre com o sentimento. Mas esta cerimônia tem um caráter especial, por celebrar verdadeiramente a formação da família”, afirmou o juiz de paz Pedro Guimarães. Após o casamento, os noivos tiveram direito ao corte do bolo e ao brinde. Foi servido um coquetel (sem bebida alcoólica), com salgadinhos, bolo e refrigerante para os convidados nas instalações da Fundação Sara. Nenhum detalhe foi esquecido e a noiva também jogou o buquê, em clima de muita alegria.

Janael Alves, que deixou o emprego de balconista em São João das Missões para cuidar do filho, disse que, na prática, só ficou separado de Andreza por cerca de seis meses. Ele afirmou que se preparava para se casar novamente com ela. Com a doença do filho e com o apoio da Fundação Sara, acabou antecipando o novo matrimônio.

O balconista salientou que o matrimônio também foi o cumprimento de uma promessa. “A gente prometeu que se meu filho sobrevivesse, daí pra frente, a gente só faria as coisas certas. E a primeira coisa certa é o casamento”, declarou. “Isso aqui para nós é uma bênção de Deus”, acrescentou Janael.

Andreza revela que viveu grande emoção no casamento na instituição que assiste crianças com câncer, sobretudo, no momento da entrada de José Rodolfo como porta-alianças. “Meu filho esteve entre a vida e a morte. Agora, estamos com fé em Deus de vamos vencer a doença e de que ele será curado”, disse a esperançosa mulher.

A oncologista pediatra Eliana Cavacami ressalta que a união dos pais contribui diretamente na evolução do tratamento e na busca da cura da criança com câncer. “Diante do diagnóstico, é preciso que os pais se sintam motivados a enfrentar a doença do filho. E a união da família reforça esta motivação para seguir em frente e alcançar a cura”, afirma a especialista.

 

Corrente assistencial
Solidariedade. Esta é a palavra que melhor descreve a Fundação Sara. Ela foi criada depois da união de pais, familiares e amigos da pequena Sara, que lutou contra uma leucemia entre 1996 e 1997. Devido ao preço para realizar transplante, foi criada a campanha “Ajude a Salvar a Vida da Sara”. A corrente ganhou força, mas não foi suficiente para salvar a vida da garota. Após a morte da menina, os pais dela resolveram criar a fundação para dar mais apoio às pessoas que precisam de tratamentos. O dinheiro que restou da campanha foi usado para abrir a unidade Sara Albuquerque Costa em Montes Claros, na Região Norte de Minas Gerais, em 1998. Lá começaram a ser recebidos e assistidos crianças e adolescentes com câncer e os acompanhantes deles. Doze anos depois, com o incentivo de médicos e empresários, uma filial foi aberta em Belo Horizonte. A entidade é mantida por associados que contribuem mensalmente, além de parceiros empresários, doadores e voluntários.


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