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Estado de Minas

Professora monta presépio com homenagens aos 120 anos de BH

Tradição de quase seis décadas, o presépio da casa da educadora Lúcia Garcia homenageia este ano também o aniversário da capital mineira, com referência a prédios, aglomerados e à Pampulha


postado em 17/12/2017 06:00 / atualizado em 17/12/2017 08:17

Edifícios representando os bairros nobres e as casinhas dos aglomerados no mesmo tablado da gruta homenageiam a capital mineira(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Edifícios representando os bairros nobres e as casinhas dos aglomerados no mesmo tablado da gruta homenageiam a capital mineira (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
No princípio, era apenas a sagrada família, com as imagens de José, Maria e Jesus. O tempo passou, e chegaram os reis magos, os pastores, o burrinho e o boi. Passou mais ainda e o cenário do nascimento do Menino ganhou peças de cidades mineiras, outras compradas no exterior, até ocupar metade da sala de visitas. “Este presépio acompanha a vida da gente. É uma alegria fazê-lo”, diz a professora Lúcia Garcia, casada há 58 anos com o médico José Estanislau e moradora do Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Há quase seis décadas mantendo viva a tradição, ela homenageia, desta vez, os 120 anos da capital, que acolheu os dois, vindos do interior, logo após a união que gerou quatro filhos, 11 netos e um bisneto.

“Em São Sebastião do Rio Preto (Região Central), onde morávamos, tinha sempre presépio. Meu pai, Luiz, fazia as casinhas de madeira. Quando nos mudamos para cá, meu marido e eu fomos morar num lugar bem pequeno, de fundos, chamávamos de caixinha de fósforo, no Bairro Funcionários (Região Centro-Sul). Mesmo naqueles tempos difíceis, mantivemos o costume, fazendo o presépio em cima da mesa. É muito bom preparar o lar e anunciar o nascimento de Jesus junto com a família”, destaca ela.

Lúcia já perdeu a conta de quantas peças tem, somadas, a gruta do nascimento de Jesus, a fazendinha, as praças e outros espaços distribuídos sobre um tablado. Também não sabe a quantidade de visitantes que batem à porta da residência, ao lado da Igreja Santa Luzia, para conhecer o presépio, famoso na região. “Dom Serafim (cardeal e arcebispo emérito de BH) vem todo ano”, orgulha-se. Na noite de terça-feira, ela recebeu um grupo de orações do Terço e a emoção foi maior, já que toda a iluminação se acendeu e a fonte jorrou água. “Gastei 16 dias, quatro a menos do que no ano passado, para deixar tudo pronto. Recebo ajuda de um sobrinho, que mora nos Estados Unidos e vem nesta época, de um funcionário da igreja e de um primo encarregado da parte elétrica”, detalha.

Professora Lúcia Garcia mantém a tradição há quase 60 anos(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Professora Lúcia Garcia mantém a tradição há quase 60 anos (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Na gruta, em torno da sagrada família estão anjinhos com asas que se acendem a um simples toque. Já o Menino Jesus merece atenção especial. Diferentemente das outras imagens sacras, nessa ele leva o dedão do pé à boca, numa típica brincadeira dos bebês. “Ganhei, há muitos anos, de uma freira. Todo mundo gosta!”, afirma. A imagem de São Francisco de Assis, acompanhado de animaizinhos, não pode faltar, pois foi ele o primeiro a montar um presépio. E tem sempre uma descoberta em cada canto. Diante de uma rampa, São João Paulo II; na fazendinha, os cavaleiros, uma mulher com espigas de milho, a porca com filhotes, os pescadores.

Os olhos não se cansam de descobrir os ambientes cuidadosamente elaborados, tendo ao fundo um céu azul com estrelas prateadas, montanhas reluzentes pelos caquinhos de vidro pregados no tecido rústico e a grama verde confeccionada com serragem tingida com anilina. “Os panos da montanha foram feitos por uma artesã de Santa Luzia, e o gramado, eu mesma fiz”, conta. “É... este presépio acompanha minha vida”, resume o esmero empregado na estrutura e figuras em torno da qual, na noite de 24 para 25 de dezembro, todos se reúnem para rezar e desejar votos de paz, saúde e felicidade.

Presença da igrejinha da Pampulha no presépio é uma das homenagens aos 120 anos da capital mineira(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Presença da igrejinha da Pampulha no presépio é uma das homenagens aos 120 anos da capital mineira (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
A homenagem a BH está presente nos prédios iluminados, feitos de madeira e papelão, que representam os bairros “chiques”, como o Belvedere, nas casinhas representando os aglomerados, nas águas da Pampulha e na Capela de São Francisco, ícone desse patrimônio moderno da década de 1940. Ouro Preto, capital de Minas até 1897, quando BH foi inaugurada em 12 de dezembro, está presente, com direito a uma “licença poética”: perto das igrejas e casarões coloniais há referência a Diamantina, com a casa onde viveu na infância o ex-prefeito de BH, governador de Minas e presidente do Brasil Juscelino Kubitschek (1902-1976).

“Gosto muito de água, é nosso alimento, por isso dedico um lugar a ela. Fazemos uma representação da Santíssima Trindade, onde o Pai é a fonte, o Filho, o rio, e o Espírito Santo, a água que mata nossa sede”, observa. Há também pontes, que representam Maria, “que nos une a Jesus”. A cena é a deixa para Lúcia falar do“pecado social”,  que é ficar indiferente aos pobres nas ruas, aos drogados e outros. Ministra da eucaristia, Lúcia recorda seu trabalho voluntário no Hospital Mário Pena e no presídio de mulheres, onde montou um presépio vivo com as detentas.

120 ANOS LEMBRADOS NA CATEDRAL

 

Como na casa de dona Lúcia Garcia, também nas igrejas, como o Santuário de Adoração Perpétua – Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Rua Sergipe, 175, no Bairro Funcionários, o presépio presta uma homenagem aos 120 anos de Belo Horizonte, diz o reitor, padre Marcelo Silva. Devido às obras de restauração interna, o cenário do nascimento de Jesus está mais perto da rua. Ele convida para a vigília de Natal, que terá missa às 19h30 do dia 24, celebrada pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, dom Geovane Luís da Silva.

“Queríamos ter colocado várias referências a BH, mas fica a homenagem. A tradição católica aqui se manteve forte ao longo tempo”, ressalta o reitor. Nesta temporada, padre Marcelo encabeça a campanha, junto aos paroquianos, #forapapainoel, de forma a destacar Jesus como símbolo de amor, justiça, paz e família. “Papai Noel é apenas consumo, comércio, vendas e presentes”, resume. Em visita ao presépio durante o almoço, o bancário Rodrigo Roque, morador de Sete Lagoas, pai de uma jovem de 20 anos, concorda com a posição do padre. “Gosto de vir aqui rezar, acho que Papai Noel é consumo. Jesus traz a paz”, disse o bancário. A cena bíblica é ressaltada pelo anjo com a faixa Gloria in excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas). O presépio foi montado pelos voluntários Conceição Schettini e Gláucio Junqueira.

CIRCUITO Cidade nascida nos tempos coloniais, Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, inaugurou na quinta-feira o Circuito de Presépios. As visitas vão até 6 de janeiro.  Moradores abrem as casas para a visitação. Informações pelo telefone (31) 3641-4791.

O significado

A palavra presépio significa estábulo, manjedoura. São Francisco de Assis iniciou a tradição em 1223, nas redondezas de Greccio, Itália, com o objetivo de celebrar o Natal da maneira mais realista possível. Com  autorização do papa, ele montou um presépio de palha usando uma imagem do Menino Jesus, um boi e um jumento vivos perto dela. A ideia rapidamente se estendeu por toda a Itália, especialmente nas casas dos nobres e mais pobres. Na capital e interior de Minas, a tradição de fazer presépios continua cada vez mais viva. As famílias se unem para retirar as figuras das caixas, desdobrar os panos enfeitados com esmeril e caquinhos de vidro, que formam as montanhas, buscar areia e pedras para montar a estrutura e, claro, contar histórias e  recordar os antepassados.

Padre Marcelo acerta detalhes no presépio da Igreja da Boa Viagem(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Padre Marcelo acerta detalhes no presépio da Igreja da Boa Viagem (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)

 


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