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Estado de Minas

Para desistir de cota, acusada de fraude deve formalizar na UFMG

Professora que havia recorrido à reserva para negros em mestrado na UFMG admite "erro" e desiste da vaga pelo critério. Ela recebeu pesadas críticas nas redes sociais


postado em 28/11/2017 06:00 / atualizado em 28/11/2017 08:20

Ana Carolina Andrade, aprovada para especialização em comunicação como parda, negou má-fé ou fraude:
Ana Carolina Andrade, aprovada para especialização em comunicação como parda, negou má-fé ou fraude: "Minha autodeclaração foi sincera" (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Após ter sido alvo de críticas e ofensas na internet por se autodeclarar parda para concorrer a uma vaga no curso de mestrado em comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a professora de projetos sociais graduada em comunicação Ana Carolina Andrade, de 27 anos, reconheceu que errou ao usar a política de cotas. Em sua página no Facebook, ela publicou uma carta aberta em que divulga novo posicionamento sobre o caso: “Concluí que fiz mau uso das cotas. Não por querer me beneficiar de direitos de outros, mas por uma má compreensão dos usos das cotas raciais. A minha autodeclaração foi sincera, mas não existe coerência em eu optar pela inscrição como cotista. Não cometi uma fraude, cometi um erro”, disse Ana Carolina.

Para chegar a essa conclusão, a professora disse ter pesquisado e conversado com representantes de movimentos negros, estudantes de ações afirmativas e mulheres negras até entender que ela não se enquadra nos critérios da lei. Isso porque, segundo Ana Carolina, as cotas buscam aumentar a representatividade dos negros declarados nas universidades e, para preencher esse requisito, ela teria que ser reconhecida como negra.

“Isso não significa que basta eu não ser branca para poder utilizá-las. É necessário que eu represente os negros, é necessário que eu seja negra. É uma questão simbólica, de representação. Se eu não sou identificada como negra, não serei uma acadêmica negra, nunca serei reconhecida como uma professora negra, porque as pessoas olham para mim e não me veem como negra”, disse a professora. E reforça: “A questão da imagem é fundamental, porque vai muito além do ‘pagamento de uma dívida’ ou de ‘uma compensação’ pelos crimes de racismo praticados histórica e cotidianamente por brasileiros”, sustentou.

O caso veio a público em 24 de novembro, depois de uma postagem de Ana Carolina no Facebook comemorando a aprovação no mestrado. De imediato vieram as críticas nas redes sociais e a professora foi denunciada por integrantes do movimento negro e estudantes da UFMG por suposta fraude. Como resposta, a jovem se defendeu e citou a sua herança familiar como fator decisivo para ingressar no processo seletivo do sistema de cotas como parda. “A minha tataravó era escrava. Ela morava na casa dos patrões. Não precisava pagar comida nem contas. Depois que saiu de lá, passou a ter que arcar com esses gastos, mesmo não estando preparada e inserida no mercado de trabalho. Acredito que o passado da minha família influencia a minha geração”, disse.

Mesmo reconhecendo o erro, a professora mantém a expectativa de poder se matricular no curso, previsto para começar em março. “Gostaria que este erro pudesse ser corrigido da melhor forma possível, sem implicar minha exclusão do processo seletivo”, disse, reforçando ainda que espera levar o tema para o debate público de forma que possa contribuir para futuros esclarecimentos, consolidação e legitimação das cotas raciais na universidade. Ela ainda fez um desabafo, dizendo que o todo o processo de xingamentos na internet e de entendimento sobre as lei de cotas foi muito complexo, difícil. “Não garanto que será compreensível a todos, mas já é o suficiente para pensarmos em sempre desconstruir as certezas e nos abrir às discussões de todos os lados”.

APURAÇÃO A UFMG informou que apura a denúncia do suposto uso irregular de sua política de cotas. Sobre o novo posicionamento da estudante, a universidade afirmou que ela precisa formalizá-lo junto ao colegiado da pós-graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recebeu a denúncia sobre o caso e ficou de repassá-la ao Ministério Público Federal (MPF), o que ainda não havia ocorrido até o início da tarde de ontem.


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