
O encontro teve a participação de representantes da BHTrans, das polícias Rodoviária Federal (PRF) e Militar Rodoviária (PMRv), além da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e da Concessionária Via 040, que detém a operação de parte da estrada – mas não do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
O trecho mais crítico do Anel Rodoviário está em um segmento de 10 quilômetros da rodovia coincidente com a BR-040, que foi concedido à iniciativa privada. A Via-040 é a concessionária responsável pela manutenção desse trecho, que vai do entroncamento com a BR-356, no Bairro Olhos D’água, na Região do Barreiro, até a saída para as cidades de Sete Lagoas e Brasília, onde continua a 040. Nesse segmento fica a descida do Betânia, percurso de aproximadamente seis quilômetros em que os veículos normalmente imprimem velocidade maior, inclusive os caminhões.

Depois de dizer que o objetivo das ações é “estancar as mortes de imediato”, Kalil comentou as outras iniciativas definidas na reunião. Ele afirmou que o grupo de trabalho vai ainda estudar a criação de áreas de escape e alargamento nas pistas, considerando que há dois trechos que concentram as mortes na rodovia. “O que nós todos concordamos é que a matança tem que acabar”, afirmou Kalil.
O desafio das obras no Anel Rodoviário
Apesar da iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte de propor medidas emergenciais para reduzir os acidentes no Anel Rodoviário, a efetiva adoção das providências ainda é uma incógnita. Além da dificuldade de execução das intervenções anunciadas, um entrave extra pode vir da falta de participação do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) nas discussões. O órgão federal que dita as regras na rodovia dos pontos de vista administrativo e financeiro sustenta não ter sido convidado pela administração municipal para participar da discussão, nem consultado sobre a viabilidade das mudanças pretendidas. Além disso, na reunião de ontem não se indicou de onde viriam os recursos para execução de iniciativas como alargamento de trechos do Anel ou criação de áreas de escape.
Para o professor de engenharia de transporte e trânsito Márcio Aguiar, da Universidade Fumec, a ausência do departamento federal nas discussões pode ser um complicador. “Essas medidas têm que ser amparadas pelo Dnit. É o órgão que vai indicar como será feito e se pode na legislação federal”, afirmou. O especialista ainda reforça que os problemas do Anel Rodoviário exigem soluções muito maiores do que o pacote de medidas emergenciais. “Por isso, não será uma restrição de veículos que vai melhorar a situação por completo. Além disso, será uma medida difícil por causa dos convênios que terão que ser realizados. Pela estrada passam milhares de veículos de carga que saem de outros estados e vão para outros destinos. Então isso tem que ser mais bem avaliado. Não pode ser feito sem um convênio com o governo federal”, frisou o especialista.
Por meio de nota, a prefeitura confirmou que “não há negociação entre a PBH e o Dnit”, alegando que o grupo de trabalho ainda não iniciou as conversas – o que deve ocorrer amanhã –, nem definiu quais obras serão necessárias. “A primeira ação que será estudada pelos técnicos será a restrição da circulação dos veículos pesados em trechos e horários preestabelecidos, medida que não tem custo e vai exigir somente a divulgação aos motoristas”, informou o texto. Mais detalhes sobre as propostas devem ser divulgados após a primeira reunião.

A Via 040, concessionária que administra um trecho de 10 quilômetros do Anel Rodoviário, informou que está aberta ao diálogo para buscar soluções para a segurança no Anel. A empresa acrescenta que reuniões com o poder público vêm ocorrendo desde junho de 2017 em busca de saídas para o problema dos acidentes na rodovia. A concessionária confirmou ainda sua participação no grupo de trabalho que discutirá soluções o tráfego entre os bairros Olhos D’Água e Califórnia.
Em 8 de setembro, depois que mais um acidente na rodovia tirou a vida de três pessoas da mesma família, a Prefeitura de Belo Horizonte protocolou uma ação civil na Justiça Federal requerendo a gestão da rodovia ao Dnit, responsável pelo Anel Rodoviário. O processo está em tramitação na 10ª Vara Federal de Belo Horizonte. O município também encaminhou ao Ministério Público Federal notícia-crime, pedindo instauração de procedimento investigatório criminal contra o superintendente do Dnit em Minas, Fabiano Martins Cunha, para apurar a contravenção de deixar de colocar sinais alertando sobre perigo, e também por suspeita de homicídio e lesão corporal culposos, além de prevaricação, que é deixar de praticar atos de ofício.
