A celebração é uma referência à quinta-feira santa, quando se deu a instituição da Eucaristia, durante a última ceia de Jesus com os apóstolos. No Centro de BH, católicos passaram o dia desenhando os tapetes e preenchendo as linhas com pó e lascas de madeira. Além de Cristo, Nossa Senhora e do papa Francisco, os traçados retrataram símbolos da Eucaristia (cálice e hóstia), da paz (a pomba) e da ecologia (animais e árvores). Foram usados 300 sacos de serragem. Às 16h houve missa solene na Boa Viagem, seguida da procissão. Na São José, dom Geovane Luís da Silva concedeu aos presentes a Bênção do Santíssimo.
Pároco da Igreja São José, o padre Nelson Antônio Linhares disse que a ideia dos tapetes em BH surgiu motivada por três fatores. O primeiro foi a percepção de que nesse feriado religioso o Centro não era ocupado. O segundo foi a vontade de criar um movimento a partir da religião. E o terceiro foi resgatar uma tradição das cidades como Ouro Preto, na Região Central, e Sabará, na região metropolitana. “Queríamos criar uma movimentação de pessoas que estariam em casa e proporcionar a união, que é justamente o significado da data: a comunhão. Estamos vivendo na prática o Corpus Christi”, afirmou o padre.
Segundo ele, os tapetes, usados genuinamente para enfeitar ambientes, na comemoração religiosa são uma forma de homenagear Jesus. “Em tempos de tanto individualismo, eles são também uma mensagem política. Feitos por pessoas que não cobram nada, mostram que ter Cristo no coração é dar a vida pelo outro. É um grito em forma de gestos, mostrando que, quando nos unimos pelo bem comum, Deus está presente. E no Brasil, em tempos de tantos desacertos, isso é muito importante.”
E, de fato, dona Nélia não se intimidou. O que deu conta de fazer, fez, e com gosto: o Espírito Santo, o papa, a escadaria... não faltou onde ajudar. “O Espírito Santo que recebemos no dia do batismo nos dá força e ajuda na caminhada da vida. Tudo é a fé”, ressaltou.
INTERIOR Pela manhã, o arcebispo dom Walmor Oliveira de Azevedo celebrou o dia de Corpus Christi com os peregrinos que visitaram o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Minas Gerais, em Caeté, na Grande BH. A missa foi seguida de adoração ao Santíssimo Sacramento, canto e bênção. Na homilia, dom Walmor disse que é preciso aprender a lógica do amor de Deus em nossas vidas. “Nossa travessia como povo de Deus não tem sido fácil. Como em todos os tempos, é cheia de agruras e dificuldades. Por isso, hoje damos testemunho público da nossa fé como igreja que nasce e vive da eucaristia, da palavra. Com obediência amorosa ao Pai, que possamos edificar em nós o amor de Deus, para conseguir mudar o mundo e fazer um novo caminho”, destacou.
Dom Walmor também ressaltou que a falta de generosidade e de solidariedade faz crescer o descaso, a violência, a corrupção e o desrespeito, aumentando o número de pobres em todo o mundo. “Celebrar o corpo e o sangue de Cristo é cultivar no fundo do nosso coração a gratidão. Que possamos, com o remédio da gratidão, combater todo o mal.”
A devoção em três momentos
Aos 85 anos, dona Nélia Guth Ferreira chegou cedo para ajudar a traçar os caminhos que os fiéis – incluindo ela própria – percorreriam à noite, em procissão. Fôlego não faltou para um dia inteiro de fé: ‘Considero uma graça muito grande a minha participação. Interiormente, não me sinto com a idade que tenho’.
Tradição e beleza em Ouro Preto
Em Ouro Preto, na Região Central, a confecção dos tradicionais tapetes começou ainda na noite de quarta-feira. Dezenas de moradores se uniram por volta das 21h para iniciar os trabalhos, que entraram pela madrugada e só terminaram ontem de manhã. Às 7h, houve missa na Igreja de São Francisco de Assis, seguida de procissão até a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. “O sentimento no significado da Eucaristia é o centro da fé católica. Aquilo que fortalece e alimenta a vida espiritual”, afirmou o cônego Luiz Carlos César Ferreira Carneiro, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora de Conceição.
