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Estado de Minas

Expedição chega ao fim mostrando cenário de poluição do Rio da Velhas

Em uma semana, navegadores remaram por 107 quilômetros do Rio das Velhas para mostrar a situação do manancial, onde a vida aquática luta contra o ataque da poluição e o assoreamento


postado em 05/06/2017 06:00 / atualizado em 05/06/2017 07:59

Três trechos mostram situações diversas do Rio das Velhas: no pior deles (acima), entre a foz do Arrudas e o Onça, o lixo se acumula, uma desolação já percebida ao lado de Sabará (foto 2) e que se opõe à boa qualidade da água em áreas como Bartolomeu (foto 3)(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Três trechos mostram situações diversas do Rio das Velhas: no pior deles (acima), entre a foz do Arrudas e o Onça, o lixo se acumula, uma desolação já percebida ao lado de Sabará (foto 2) e que se opõe à boa qualidade da água em áreas como Bartolomeu (foto 3) (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Itabirito, Nova Lima, Ouro Preto, Raposos, Rio Acima e Sabará – Quando apenas alguns milímetros de fibra de vidro separam sua pele do esgoto contaminado por bactérias, vírus, arsênio e cianeto, o contágio por doenças passa a ser um risco imediato. Mas esse mesmo casco é a última barreira entre a total integração do homem com a água que sustenta peixes e uma complexa vida aquática que luta para sobreviver. Foi em meio a esses extremos que seis navegadores arriscaram sua saúde para chamar a atenção para a revitalização do Rio das Velhas, descendo em caiaques por 107 quilômetros, entre as nascentes do manancial, em Ouro Preto e os aterros, esgotos, efluentes industriais, lixo, resíduos sólidos e químicos até Santa Luzia, na Grande BH, a área compreendida como Alto Rio das Velhas. Hoje, o Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio das Velhas, a Copasa e representantes dos municípios da bacia se reunirão na empresa para pactuar um novo plano de revitalização do manancial, que pode significar um ganho de qualidade importante para o ecossistema e as populações ribeirinhas.

Na expedição “Rio das Velhas, Te Quero Vivo”, uma realização do CBH-Rio das Velhas e do Projeto Manuelzão, as remadas desses seis homens inspiraram a população ribeirinha, chamaram a atenção das autoridades para vários problemas, mas trouxeram também uma perspectiva especial, de quem esteve inserido na dinâmica do curso hídrico que atualmente abastece 50% da Grande BH e é o segundo maior tributário do Rio São Francisco – já foi o primeiro, mas atualmente sua vazão reduzida perde para a do Rio Paracatu, no Noroeste de Minas. A reportagem do Estado de Minas acompanhou essa aventura desde a última segunda-feira.

(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
O olfato dos expedicionários foi um bom termômetro para a deterioração da qualidade das águas. “De dentro do rio o cheiro ruim, de esgoto, é muito mais intenso e vai só aumentando à medida que vamos chegando a áreas mais habitadas, até passar a nos acompanhar pelo resto da viagem, a partir de Raposos”, afirma o coordenador do Subcomitê das Nascentes, Ronald Carvalho Guerra. Essa impressão do navegador é comprovada pelo Índice de Qualidade das Águas (IQA), indicador que avalia a contaminação dos corpos hídricos em decorrência de matéria orgânica e fecal, sólidos e nutrientes e é medido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). De acordo com o último relatório, que fechou o ano de 2016 e foi publicado em março, as estações de monitoramento que demonstraram IQA “ruim” e “muito ruim” estão concentradas, principalmente, nas regiões de grandes centros urbanos como a Grande BH. “Destaca-se que a Bacia do Rio das Velhas apresentou o maior número de estações com IQA que indicaram qualidade ruim e muito ruim”, atesta o Igam.

CONSTRUÇÕES Veterano nessa expedição, desde a navegação promovida em 2003 até a foz do Velhas, Ronald Guerra ainda se disse impressionado com a degradação testemunhada rio abaixo. “Fiquei surpreso ao encontrar aterramentos empurrando o leito do rio para abrir mais espaços para construções nas áreas urbanas. Isto é incabível. Mas a acomodação que se deu pelo poder público após a revitalização permitiu coisas assim. Como, por exemplo, duas dragas ilegais que funcionam sem qualquer medo, minerando e poluindo o rio para retirar ouro”, afirma.

(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Ainda que a fiscalização não iniba essa atividade mineradora clandestina, seus rastros também estão presentes no relatório do Igam. Os mais altos índices de arsênio dissolvido se encontram em seu alto curso, na região de Nova Lima, onde “o beneficiamento de minério de ouro contribui para sua disponibilização para o corpo de água”. O mesmo ocorre para o cianeto que foi registrado no Rio das Velhas e a suspeita é que “pode ser em função das atividades de beneficiamento de minério de ouro no município de Nova Lima, nas águas do Córrego da Mina”, indica o instituto.

Outro dos canoístas, o engenheiro ambiental Leandro Durães Ávila Santos, praticamente separa o Alto Rio das Velhas em dois, sendo a parte mais próxima às nascentes a de melhor qualidade, enquanto a outra é praticamente desolada. “Trabalhei com todos os dados de monitoramento da bacia e vi que até Sabará, por exemplo, o nível médio de oxigênio da água permite que peixes e espécies aquáticos sobrevivam”, pontua.

Dois navegadores chamaram a atenção para os problemas que a necessidade de grande captação do Rio das Velhas para o abastecimento de BH traz. “Passamos pela época das chuvas e agora o rio vai só se reduzindo. A Copasa precisaria rever esse ritmo de retirada de água, porque os municípios abaixo, como Raposos, estão sofrendo muito, a natureza desse lugar precisa de mais água para que haja uma revitalização”, afirma o voluntário Rafael Gonçalves. “Fiquei muito preocupado com a água que a Copasa entrega ao rio depois da captação de Bela Fama. É uma água com um nível de turbidez muito elevado. Ela está se mostrando a grande vilã do rio, pois, apesar de ter a outorga, o impacto da captação é enorme. A água entra clara e sai turva. Vamos, ainda, constatar cientificamente o que pode estar ocorrendo”, disse o mobilizador social do Projeto Manuelzão, Erick Wagner Sangiorgi.


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