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Estado de Minas

Antes queridinho, Uber enfrenta crise de desconfiança dos passageiros

Após virar febre em BH, aplicativo passa por problemas com o olhar mais crítico do usuário sobre o serviço, violência praticada contra e por condutores e acirramento da concorrência


postado em 12/03/2017 06:00 / atualizado em 12/03/2017 14:49

O condutor A. H. acredita que a fragilização do cadastro de passageiros, com a aceitação do dinheiro vivo no pagamento das corridas, contribuiu para o assalto que ele sofreu durante uma viagem(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
O condutor A. H. acredita que a fragilização do cadastro de passageiros, com a aceitação do dinheiro vivo no pagamento das corridas, contribuiu para o assalto que ele sofreu durante uma viagem (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
Da unanimidade à desconfiança. Essa é a mudança de perspectiva de usuários do aplicativo de transporte Uber em pouco mais de dois anos, período de funcionamento do programa em Belo Horizonte. Se antes, em novembro de 2014, quando foi lançado, o app era o queridinho dos belo-horizontinos por conta do serviço diferenciado e da qualidade muito superior aos táxis, hoje os problemas criaram um inferno astral para a empresa e mudaram esse cenário.

A violência praticada contra os motoristas, o envolvimento dos próprios condutores em crimes e a queda na qualidade do serviço, principalmente com veículos malconservados e motoristas despreparados, têm criado um ambiente de preocupação para os passageiros. Usuários do sistema ouvidos pela reportagem dizem que essa situação está abrindo brechas para a consolidação de outros serviços de transporte e forçando um retorno aos táxis, que já oferecem facilidades pelos aplicativos, descontos que derrubaram as tarifas e também podem transitar em fase de testes pela faixa exclusiva do Move nas avenidas Antônio Carlos e Pedro I, o que facilita a vida de quem vai para o Aeroporto de Confins.

A Polícia Militar, inclusive, aumentou o rigor nas abordagens quando encontra um motorista parceiro da Uber e dos demais aplicativos, com o objetivo de prevenir possíveis ocorrências, segundo o major Flávio Santiago, que é porta-voz da corporação. Enquanto isso, empresários se preparam para lançar um aplicativo que vai usar motos no transporte de passageiros e também um compartilhamento de carros em Belo Horizonte.

A chegada da Uber na capital mineira trouxe para os moradores de BH uma opção que ocupou uma lacuna aberta durante anos. A má qualidade do serviço de táxi, com inúmeras reclamações, era o cenário ideal para um transporte considerado executivo, apenas com carros luxuosos, motoristas bem preparados e pagamento com cartão de crédito, sem a necessidade de colocar a mão no bolso. A novidade caiu nas graças dos moradores. Nove meses depois, mais uma novidade acirrou a briga com os táxis. A entrada da modalidade Uber X, vista inicialmente com desconfiança, por conta da aceitação de qualquer modelo de veículo fabricado a partir de 2008, também acabou bem-aceita, principalmente devido à tarifa mais barata.

RELAXAMENTO

Porém, as reclamações começaram a aparecer com a entrada cada vez maior de motoristas e o relaxamento em quesitos importantes para garantir a qualidade e segurança, como as vistorias dos carros e as entrevistas presenciais com os condutores. Em 22 de julho do ano passado, a empresa passou a aceitar o pagamento em dinheiro, outro fator que gerou protestos de muitos motoristas. Segundo o presidente da Associação dos Motoristas Individuais Privados de Minas Gerais (Amip/MG), Leonardo Padilha, a cobrança em dinheiro fragilizou o cadastro dos passageiros. “Antes, para fazer um cadastro você precisava de um cartão de crédito, o que dava certa segurança. Hoje precisa apenas de um e-mail e telefone, então você nunca sabe quem está te chamando pelo aplicativo”, afirma.

O condutor A. H., de 39 anos, parceiro do aplicativo, não é contra o pagamento em espécie, mas acredita que foi essa fragilidade no cadastro facilitou as coisas para os momentos de terror que ele passou em novembro do ano passado. “Aceitei uma corrida com pagamento em dinheiro no Bairro Ouro Preto (Pampulha), que estava em nome de uma mulher. Chegando lá, ela disse que era para levar o namorado ali perto, mas outros dois homens estavam junto. Em um determinado momento, um deles me pediu para entrar em uma rua erma e anunciou o assalto, com uma arma em punho”, conta o condutor. Foram momentos de muita tensão, com ameaças e agressões,  e o tormento só terminou depois que os assaltantes fugiram levando a carteira, o celular e a chave do carro, impossibilitando a busca por ajuda. Uma moradora do local acolheu o motorista e ele procurou a polícia. “A partir do momento que exigirem um cadastro rígido, o bandido vai procurar outra forma de assaltar e esquecer a Uber”, completa ele, que também atua pela concorrente Cabify,  devido aos problemas vivenciados no ano passado.

FACA DE DOIS GUMES

Se por um lado a insegurança preocupa pela presença de bandidos que procuram motoristas vulneráveis, por outro ela deixa os passageiros em alerta. Casos em outros lugares do Brasil também assustam os usuários da plataforma em BH, como o motorista que foi preso em Goiânia suspeito de pelo menos três estupros. Ele tinha o costume de fechar corridas sem ativar o aplicativo, combinando os preços na saída de boates. Com uma máquina de choque que simulava uma lanterna, agredia as vítimas antes de cometer a violência sexual. Em São Paulo, uma mulher foi vítima de um sequestro relâmpago em 1º de fevereiro. A vítima relatou que foi agredida e ameaçada por homens armados que já estavam dentro do carro quando o veículo chegou para buscá-la. Dois bandidos entraram em um shopping e a obrigaram a fazer compras com o cartão de crédito. A Polícia Civil investiga o caso para saber se o motorista foi conivente ou se também era vítima (veja quadro com casos de destaque).

Em Belo Horizonte, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) prendeu um homem que estava dirigindo no Anel Rodoviário e é inabilitado. O caso ocorreu no mês passado e, segundo a corporação, Carlos Augusto dos Santos, de 32 anos, é motorista parceiro da Uber e carregava duas passageiras. Porém, o programa estava desligado e a corrida seria cobrada por fora. Outro caso que levantou discussão sobre segurança foi uma denúncia de violência sexual cometida por um condutor ligado à empresa durante uma corrida. O caso teria ocorrido no Bairro Castelo, na Região da Pampulha, em BH, no fim de janeiro. A vítima relatou à PM que chegava em casa quando o motorista mudou a rota alegando problemas no GPS. Ele teria obrigado a mulher a fazer sexo oral nele, mas ela conseguiu escapar depois de morder o agressor, segundo a PM. Porém, a Polícia Civil investigou o caso e concluiu que não houve indícios de violência, finalizando o inquérito sem indiciamentos.

O major Flávio Santiago, assessor de imprensa da Polícia Militar em Minas Gerais, destaca que a PM mudou a postura graças a essa mudança de cenário. Nas fiscalizações que se deparam com parceiros da empresa, tem sido comum o maior rigor nas vistorias. “A PM tem agido não só no sentido da proteção a esse motorista como também para conferir se ele está produzindo esse transporte dentro do mínimo que é preconizado no sistema”, afirma Santiago. O major acredita que a cobrança em dinheiro facilitou a presença de pessoas mal-intencionadas. “Com esse tipo de cobrança, o que certamente não era um atrativo passou a ser. É necessário uma interação entre as plataformas e o poder público no sentido de produzir informações para que a identidade dessas pessoas seja conhecida. As empresas têm que inserir filtros que criem essas barreiras”, afirma o militar.

Como ficou?

Regulamentação
na Justiça

Desde que o aplicativo Uber, precursor desse tipo de plataforma, foi lançado, taxistas e motoristas dos programas de celular entraram em rota de colisão. Para atender às reclamações e protestos dos condutores de táxi, a Prefeitura de BH criou um projeto de lei obrigando os aplicativos a intermediarem apenas corridas conduzidas por taxistas. A lei foi aprovada na Câmara Municipal, mas os órgãos de fiscalização ficaram impedidos de autuar, graças a uma liminar obtida na Justiça pela Sociedade de Usuários de Informática de Minas Gerais (Sucesu/MG), o que ocorreu no início de 2016. Desde então, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) instaurou um procedimento para julgar se o aplicativo será submetido às normas municipais, mas ainda não houve resultado.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)


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