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Estado de Minas

Belo Horizonte rompe a barreira de mil semáforos

Cidade fechou 2016 com 1.006 cruzamentos com sinais, 20% a mais que em 2010. Criticados por emperrar o tráfego, os equipamentos o disciplinam e protegem pedestres, diz a BHTrans


postado em 11/01/2017 06:00 / atualizado em 11/01/2017 08:29

O milésimo sinal da capital mineira foi instalado em cruzamento na Avenida dos Andradas, no Bairro Vera Cruz, no ano passado(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
O milésimo sinal da capital mineira foi instalado em cruzamento na Avenida dos Andradas, no Bairro Vera Cruz, no ano passado (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
“Às ruas fiz dar a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o trafego dos carros (...)”. O trecho do relatório de Aarão Reis (1853-1936), aprovado pelos governantes mineiros em 1895, mostra o quanto o chefe da comissão que planejou Belo Horizonte se preocupava em garantir um bom trânsito na então futura capital, inaugurada em 12 de dezembro de 1897. Quase 120 anos depois, a cidade atingiu uma estatística, talvez, impensável pelo engenheiro: o município já conta com mais de 1 mil interseções semaforizadas.


O milésimo foi instalado na Avenida dos Andradas, no Bairro Vera Cruz, na Região Leste. Levantamento da BHTrans concluiu que BH encerrou 2016 com exatamente 1.006 cruzamentos semaforizados. Houve um salto de 20% apenas em relação a 2010 – 171 interseções a mais. Do total de cruzamentos, 42% estão na Centro-Sul, cuja boa parte da região está no perímetro interno da Avenida do Contorno, a via planejada por Aarão Reis para circular a área urbana.

O avanço de cruzamentos semaforizados é um alerta para que tanto o poder público quanto a sociedade civil discutam melhorias para o trânsito de veículos e o de pedestres. Vale lembrar que a frota na cidade avançou 43% de 2009 (1.227.917 veículos) para 2010 (1.714.233 unidades), segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

A BHTrans e a prefeitura investem em projetos e obras para melhorar a circulação da frota, mas ainda há cruzamentos com semáforos em “quatro tempos”, o que reduz a velocidade média de veículos. Um deles está na esquina das avenidas Abílio Machado e Brigadeiro Eduardo Gomes, no Bairro Alípio de Melo, Região Noroeste.

Um dos quatro semáforos é programado para exibir a luz verde por 30 segundos. Já a vermelha, por 1 minuto e 25 segundos. A disparidade de tempo atrai diversos vendedores, que têm prazo maior para negociar mercadorias com motoristas e passageiros. É o caso de Pedro Paulo Pereira, de 39 anos, que vende cerca de 200 garrafas de água por dia naquele ponto.

“É o melhor semáforo da cidade. Tenho tempo de sobra para vender”, disse o homem, que já ganhou a vida num sinal na Avenida João César de Oliveira, no Bairro Eldorado. “Daí a prefeitura fez uma trincheira lá e eu vim para cá. Tomara que não seja construída uma aqui”.

Desejo oposto ao dele é o do motorista Alexander Eustáquio Silva, de 39. “É muito tempo com a luz vermelha e pouco para a verde. Uma trincheira é o ideal para melhorar o trânsito neste cruzamento”. O condutor acredita que até a segurança de pedestres pode ser beneficiada. Isso porque muitos motoristas, irritados com o tempo que o semáforo fica no vermelho, ignora a ordem de parada e avança o cruzamento.

O consultor em assuntos urbanos e autor do blog SOS Mobilidade Urbana, José Ribeiro, percorreu toda a extensão da Avenida Amazonas, da Praça da Estação à divisa com Contagem. Lá há 43 cruzamentos semaforizados. “Fiz o trajeto em horários alternados e, em todas (as viagens), parei mais de 20 vezes. Ou seja, em mais de 50% do tempo de deslocamento, o veículo está parado, numa sequência de onda vermelha desnecessária e absurda. Queima combustível, tempo e corre-se o risco da perda de compromissos, como se o correto fosse enxergar a cidade em câmera lenta”.

(foto: Arte)
(foto: Arte)
Ele diz que pode contar nos dedos os corredores onde funciona a chamada onda verde (semáforos bem sincronizados). “A Rua Paracatu, que recebe e distribui o fluxo do Complexo da Lagoinha, passando pelo Barro Preto, até a Avenida Barbacena, para quem segue em direção à Amazonas, Raja Gabaglia, é a única sequência de sinais que funciona em onda verde na capital. Deveria ser exemplo para todos os outros corredores importantes”, defendeu.

O diretor de Sistema Viário da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira, diz que BH tem características diferentes das de outras metrópoles. “Brasília (cujos quarteirões são maiores que os de BH) tem mais de 1,6 mil interseções. Nossa cidade não tem muitos semáforos: há são muitos cruzamentos”.

Os equipamentos, reforça ele, disciplinam o trânsito e ajudam na travessia de pedestres. “Em 86% das interseções, há semáforos para pedestres. Nossa meta é chegar a 95%”. Não fossem os semáforos, continua, haveria dificuldades para que veículos vindos de uma via menos movimentada entrassem na artéria principal.

 

Crescem as autuações por avanço

 

O aumento de semáforos na cidade veio acompanhado por um salto nas autuações de avanço de sinais, infração que coloca em risco a vida de milhares de pedestres, passageiros e condutores a cada dia. Em 2014, 48.555 veículos ultrapassaram a luz vermelha. Em 2015, no último ano fechado pela BHTrans, foram 79.486 – diferença de 63,7%.

A BHTrans alerta, contudo, que houve uma ampliação do número de equipamentos de avanço de semáforos de 2014 para 2015, de 48 para 138 aparelhos.

Por outro lado, José Carlos Mendanha Ladeira destaca que muitos infratores não são flagrados por equipamentos ou agentes de trânsito. “Neste momento, por exemplo, podem ter ocorrido 300 infrações e apenas cinco serem flagradas”.

A BHTrans informou ainda que, “nos últimos anos, o número de acidentes de trânsito, assim como o seu grau de severidade e os traumas causados, foram reduzidos drasticamente em Belo Horizonte. É necessário observar que essa redução ocorreu apesar de a frota de veículos da capital mineira ter mais que dobrado nos últimos anos, de 655.227 (unidades), em 1999, para1.605.230 em 2015. Nesse período, o número de mortes nos acidentes foi reduzido para menos da metade – de 392, em 1999, para 143, em 2015”.


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