Paulo Henrique Lobato
Enviado especial
Nova Serrana e Divinópolis – O avanço da criminalidade em cidades do interior forçou moradores a mudar hábitos simples, como reduzir o número de passeios para almoçar com a família nos fins de semana. Acostumados à vida tranquila em cidades de pequeno e médio portes, homens e mulheres agora ficam cismados até no trânsito.
Aeu Miguel Vasconcelos, de 75 anos, foi um dos mineiros que optaram por reduzir as idas a restaurantes, nos fins de semana, por medo da insegurança. “A gente perde a liberdade. Não quero ser a próxima vítima. Eu e minha esposa não vamos com tanta frequência mais ao restaurante”, diz o homem, que mora em Divinópolis, na Região Centro-Oeste.
O taxista Benício Martins, de 34, é outro mineiro com receio de se tornar vítima de bandidos. “Não atendemos corridas se o passageiro pedir para buscá-lo em endereços que não tenham o número do imóvel, como, por exemplo, uma praça. A gente tem de desconfiar de todos. Fui assaltado duas vezes e um funcionário meu foi roubado por três mulheres”, conta.
Ele é dono de três táxis em Nova Serrana, onde a onda de violência assusta os moradores. “A gente tem o receio de ser a próxima vítima”, lamenta Álisson Teixeira, de 35, que também ganha a vida como chofer em Nova Serrana. Nem mesmo agentes de segurança estão a salvo na cidade. No início de dezembro, por exemplo, dois criminosos abordaram um policial rodoviário federal, que estava de folga.
Houve troca de tiros e um dos bandidos morreu dias depois de socorrido ao hospital. A ocorrência repercutiu na região. O policial levou um tiro no abdômen e foi levado de helicóptero ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte.
A audácia de criminosos é tanta que alguns criminosos furtaram objetos, como aparelhos de telefone celular, no interior da delegacia de Campos Altos, no Alto Paranaíba. Em razão disso, uma investigação terminou, em dezembro, com a prisão de 10 pessoas no município e na cidade vizinha de Santa Rosa da Serra. Cinquenta policiais, entre militares e civis, participaram da operação, batizada de Casa Limpa.
INSEGURANÇA O comerciante Danilo Magalhães, de 47, diz que mudou “o hábito de andar nas ruas” há três meses, quando uma dupla o assaltou e lhe tomou um cordão de ouro e a quantia de R$ 1 mil. “Estava com o dinheiro para pagar as contas. Entrei num estabelecimento comercial e dois homens chegaram numa moto. Estavam armados, mandaram todos se deitarem no chão e nos roubaram.”
Agora, ele teme ser assaltado até no trânsito. Por isso, quando desconfia de motociclistas, muda a rota inicial para constatar se o veículo de duas rodas irá segui-lo. “Se sim, paro o carro perto de um policial.”
Outra ocorrência com destaque na cidade foi um assalto com refém no segundo fim de semana de dezembro, quando um trio invadiu uma residência e levou joias, perfumes importados, outros objetos e mais de R$ 10 mil. Na fuga, um dos suspeitos foi detido por militares. O dono da casa contou que foi agredido na cabeça.
Enquanto isso...
… A PAZ NA CIDADE MENOS POPULOSA DO ESTADO
Serra da Saudade, na Região Oeste de Minas, e a 260 quilômetros da capital, é a cidade menos populosa do Brasil, com 815 moradores, segundo a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O pacato município, cuja economia é baseada na agropecuária, não registrou crime violento em 2014, 2015 e 2016. O maior desafio do lugarejo, rodeado por montanhas e rios, é manter os jovens por lá, pois muitos se mudam para outros municípios à procura de emprego.