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Estado de Minas

Cidades mineiras têm média de 10 casos de estupro registrados por dia

Prisão de Luiz Francisco da Silva, que violentou 10 mulheres em Sabará, chama a atenção para números assustadores relacionados a este tipo de crime no estado, e que podem ser ainda maiores


postado em 07/01/2017 06:00 / atualizado em 07/01/2017 08:06

Grande manifestação na capital reuniu mulheres contra cultura do estupro no ano passado(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 01/06/2016)
Grande manifestação na capital reuniu mulheres contra cultura do estupro no ano passado (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 01/06/2016)

A prisão de Luiz Francisco da Silva, de 46 anos, suspeito de ao menos 10 estupros em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, liga o alerta para a quantidade de casos que chegam ao conhecimento das autoridades em Minas Gerais regularmente. Todos os dias, 10 ocorrências de estupro são registradas em Minas, sendo três na região metropolitana, totalizando 3.556 atos de violência sexual em 2016 no estado e 1.177 em Belo Horizonte e mais 45 cidades do entorno. Ontem, Luiz foi apresentado pela Polícia Civil e admitiu que agia cruelmente contra as vítimas.


Apesar de os números serem menores do que os registros de anos anteriores, a situação chama a atenção da advogada Carla Silene, que é diretora do Instituto de Ciências Penais de Minas Gerais (ICP/MG), organização autônoma que congrega criminalistas de vários setores do estado.

Ela destaca que as estatísticas podem ser ainda maiores, já que muitas vítimas acabam não denunciando o crime às autoridades de segurança pública por causa do abalo causado pela violência. “Muitas mulheres preferem ocultar, deixar de formalizar a notícia do crime, para não ter um segundo choque, que seria mais uma forma de vitimização por conta da exposição do caso”, afirma a advogada. A criminalista aponta que, quando os autores são identificados, normalmente a punição é aplicada, mas ainda é necessário evoluir em relação às técnicas para descobrir essas pessoas. “Quando a autoria é inequívoca, a polícia tem feito um bom trabalho e a Justiça tem mantido essas pessoas presas, mas nós precisamos melhorar as formas de coletar as provas, até porque não é sempre que teremos um DNA”, afirma a advogada.

Ainda segundo Carla Silene, um dos fatores que atrapalham o trabalho policial é a ocorrência de abusos praticados por familiares, o que é muito comum nos casos de estupro. O ambiente doméstico como palco do crime dificulta a presença das autoridades de segurança naquele cenário. “Normalmente, quem consegue trazer a Justiça à tona são as escolas, porque os professores que estão em contato com a criança, ou com o jovem, percebem alteração de comportamento. Também precisamos investir em formação, para que as escolas consigam ter profissionais comprometidos com o trabalho e capazes de olharem para os alunos e perceberem os problemas”, completa.

Denunciar para evitar outros abusos

A delegada Camila Miller, da Delegacia de Combate à Violência Sexual, de Belo Horizonte, reforça que a denúncia deve sempre ser feita, pois pode evitar que outras mulheres venham a ser atacadas pelo mesmo estuprador. “Vejo muito medo e vergonha nas mulheres que vêm aqui. A mulher violentada sexualmente é vítima, e não culpada. Ninguém escolhe sofrer esse tipo de abuso. Além de fazer a denúncia, ela deve sempre procurar assistência médica”, continuou a delegada. Ela alerta as mulheres para redobrar a atenção caso estejam em locais ermos.

Na entrevista concedida durante a apresentação de Luiz, a delegada Alessandra Alvares Bueno da Rosa, da 2ª Delegacia de Sabará, classificou as ações dele como “cruéis”. “O requinte de crueldade dele é tão grande que ele fica por volta de 3 horas com as vítimas. Ele é muito cruel, psicótico”, contou a delegada. O modo e abordagem se repetia: o suspeito abordava mulheres – morenas, acima de 30 anos – próximo à linha férrea da cidade, no bairro Nossa Senha de Fátima.

“Primeiro ele esbarrava nas mulheres, que se assustavam. Depois, colocava a mão na boca delas para evitar os gritos. Em seguida, colocava a faca no pescoço”, contou a delegada. As garotas eram levadas para um local ermo em um bairro da cidade. Ele as levava para um barranco, onde tem um vale embaixo, e cometia os estupros. O último crime ocorreu na segunda-feira, por volta das 20h.

O estuprador também cortou as pernas e os braços da vítima. Luiz não tinha passagem pela polícia e justifica os crimes como uma ação irracional: “No decorrer da noite, a gente vê um casal passando e a gente não liga, mas a partir do momento que a gente vê uma mulher sozinha, passando tarde na noite... Eu não sei o que dá na gente não.”

A delegada já começou a ouvir as mulheres atacadas. “Ontem, nós ouvimos cinco vítimas e todas fizeram o reconhecimento. Os casos de nove ou oito vítimas não estão sendo investigados porque não fizeram o BO”, disse. Ela explica que, das 13 vítimas, três dos estupros não teriam sido consumados. Ele contou que duas delas estavam menstruadas e que a terceira falava muito de Deus, que o desencorajou de consumar o ato.

As características do homem ajudaram as vítimas a o reconhecer. “Sempre usava um boné e uma mesma mochila. Todas as vítimas o reconheceram pelo boné”, comentou Alessandra Rosa. As investigações começaram em 2012, quando o primeiro caso de estupro foi cometido. A delegada aponta que Luiz tinha vida dupla, já que aparentemente era um homem trabalhador, tinha um filho de 8 meses com a namorada, além de outros três de outro relacionamento. O homem foi preso na quarta-feira depois que a polícia rastreou o aparelho celular roubado pelo criminoso de uma das vítimas. Ele deu de presente o aparelho para um dos seus filhos ainda com o chip da mulher violentada.


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