
De acordo com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), em Minas Gerais 678 pessoas morreram agredidas por instrumentos cortantes ou perfurantes em 2014, número superior ao do Rio de Janeiro (294), mas inferior ao de São Paulo (999). Já os registros de internações nos hospitais conveniados ao sistema foram maiores em Minas Gerais (2.241) do que no Rio de Janeiro (398) e São Paulo (1.705). Em sua justificativa para a proposição do PL, o deputado Cabo Júlio afirma que “as declarações prestadas publicamente pelas autoridades de segurança revelam a falta de instrumentos legais para punir aqueles que portam armas brancas com o claro fim de cometer crimes”. De férias, o deputado foi procurado ontem pela reportagem para comentar sobre a importância de seu projeto, mas informou por meio de sua assessoria, que preferia não interromper o recesso para comentar.
Pelo projeto, fica proibido o porte de “artefato cortante ou perfurante usualmente destinado à ação ofensiva, como faca, punhal, espada, florete, espadim ou similar, cuja lâmina tenha 10 centímetros, ou mais, de comprimento”. Contudo, a infração só fica configurada, pelos termos da lei, se a pessoa estiver com a lâmina na mão, na cintura ou no carro, já que a própria legislação considera que “não configura porte de arma branca o transporte do artefato na embalagem original; em bolsas, malas, sacolas ou similares; em veículos, desde que acondicionados em mala ou caixa de ferramentas; em razão de atividade econômica desempenhada pelo transportador”.
A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) é favorável à sanção do projeto. “Toda lei que diminui o potencial de qualquer pessoa – sobretudo dos infratores – de portar instrumentos que possam ser usados em crimes contra o patrimônio ou contra a pessoa, a PM vê com bons olhos, pois é algo em prol do coletivo e em defesa da vida”, afirma o capitão Flávio Santiago, assessor de comunicação da PMMG. O policial afirma que a dinâmica de quem utiliza esse tipo de arma para o crime varia de região para região. “Quando diminuímos o potencial para que o infrator tenha tranquilidade de trafegar com uma lâmina e de esquivar-se pelo anonimato, isso torna mais efetiva a possibilidade de prevenção (aos crimes)”, considera.

O instrutor de sobrevivência e bushcraft (atividades no meio selvagem) Giuliano Toniolo também duvida que a legislação atinja criminosos, mas afirma que pode ter potencial de prejudicar o cidadão honesto. “Pessoas de bem que usam lâminas como ferramentas podem ser prejudicadas e marginalizadas. “Quem quiser cometer crime não vai ser coibido, só vai marginalizar um segmento que precisa de utilizar essas lâminas como ferramentas de auxílio. Do jeito que estava já era certo, não faz sentido pegar uma faca de sobrevivência num bar ou Mineirão. Ando com canivete desde os 12 anos e nunca me envolvi em briga nem puxei canivete”, afirma.
O chefe escoteiro do Mangabeiras, Marcos Magno Vieira, acha que isso não afetará o segmento. “Na cidade, nós escoteiros não temos necessidade de usar lâminas, só nas atividades no mato”, disse.