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Estado de Minas

Aumenta preocupação com o avanço da H1N1 no estado

Número de mortos por vírus da gripe avança em Minas. Este ano já são 27 óbitos, a maioria pelo subtipo H1N1, que faz vítimas também entre pacientes sem fatores de risco aparentes


postado em 22/05/2016 06:00 / atualizado em 22/05/2016 11:38

(foto: Lelis/EM/D.A Press)
(foto: Lelis/EM/D.A Press)
Eram os idos de 1918 e, como não bastasse o cenário de guerra mundial, uma pandemia assolou o planeta e matou milhares de pessoas. A gripe espanhola – como ficou conhecida por causa do grande número de mortos na Espanha – nada mais era do que a influenza. Quase um século depois, em pleno ano de 2016, ela continua a assustar. E a matar. Mutações do vírus e seus vários subtipos, como o H1N1, garantem a livre e atemporal circulação da ameaça. Terminada a campanha nacional de vacinação, encerrada na sexta-feira, dados do último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES) mostram que a doença já causou a morte de no mínimo 27 pessoas em Minas este ano, pelo menos 16 delas pelo subtipo H1N1. O perfil das vítimas no estado chama a atenção: a maioria absoluta apresentou pelo menos um fator de risco para complicação e não tomou o antiviral no prazo recomendado – 48 horas entre os primeiros sintomas e o início do tratamento. Porém, há também vítimas fora do chamado grupo de risco e uma carga de estigma e preconceito que atinge famílias dos pacientes mortos.

A influenza pode trazer complicações e desencadear quadros graves, principalmente quando associada a algum fator de risco – caso de 66,7% das vítimas mineiras: adultos com idade superior a 60 anos, cardiopatas e portadores de outras doenças associadas, de acordo com a secretaria. As mortes por H1N1 também acompanham esse perfil: pelo menos 10 das 16 vítimas tinha algum fator de risco associado.

O infectologista Adelino de Melo Freire Júnior destaca que a influenza é uma doença considerada benigna e autocurável na maioria das vezes, mesmo sem tratamento específico. Segundo ele, a pequena parcela dos doentes que sofrem complicações se deve a uma evolução da infecção para pneumonia viral (causada pelo próprio vírus) ou ainda por causa da associação de alguma outra doença (comorbidade) ou pneumonia bacteriana sobreposta (a complicação mais frequente).

“As comorbidades aumentam a chance de complicações pulmonares da gripe. A gripe por si só também pode levar a um agravamento de comorbidades, como cardiopatias e doença de pulmão, desequilibrando essas doenças e levando a pessoa para o hospital. Ou seja, a comorbidade funciona como fator de risco e a gripe funciona como fator de desequilíbrio dessas outras doenças”, explica o médico do Hospital Felício Rocho e do Laboratório São Marcos.



Ao contrário do que já ocorria em outros países, ele afirma que apenas a partir de 2009, quando houve o surto no Brasil do subtipo H1N1, os brasileiros ficaram mais cientes do que é de fato a influenza. O infectologista lembra que, na época, a dificuldade de combate se deu primeiramente devido à inexistência de diagnóstico para o quadro. “Passava como gripe. A forma mais grave e séria sempre existiu, os médicos só não davam a devida importância e a tratavam, muitas vezes, como pneumonia. Não pensavam que podia ser uma doença viral”, afirma.

Segundo Adelino Freire Júnior, o mundo vai continuar convivendo com os vírus influenza. “Ele passa por mutações frequentes e também circula em animais, como porcos e aves. Não temos muitas perspectivas de nos ver livres dele”, diz. “É uma característica do micro-organismo: conseguir se renovar, ter o mundo inteiro para circular e muitas pessoas que ainda não são imunes a ele”, acrescenta.

O especialista acredita, no entanto, que mortes poderão ser evitadas a partir do momento em que houver estrutura adequada de diagnóstico. “Já temos acesso ao medicamento, mas o diagnóstico ainda é limitado. Na rede pública, os exames são restritos aos casos mais graves e os resultados demoram semanas para ficar prontos. Ou seja, o medicamento é muitas vezes aplicado sem certeza da doença,  diferentemente do que ocorre na rede privada. Nela, em duas horas o teste está pronto e se consegue saber se é influenza ou não.”

Demora de teste agrava o quadro


A coordenadora da Vigilância em Saúde do município de Extrema, no Sul de Minas, onde houve um óbito por H1N1, reitera as dificuldades representadas pela demora no diagnóstico. Segundo Ana Lúcia Olivotti, para resolver o desafio a cidade está tentando comprar o teste rápido, para um resultado mais preciso. “Tanto nos casos de dengue quanto nos de gripe, trabalhamos com o quadro clínico do paciente primeiro, para depois ter o resultado. A demora é muito grande”, afirma.

A preocupação é que o número de casos aumente a partir de agora, já que o inverno se aproxima. Outro agravante é o fato de a cidade estar próxima a São Paulo. “Temos uma população flutuante, de gente que vem e vai, trabalha aqui, mas é de São Paulo, e isso é um risco maior de contaminação”, afirma. A Prefeitura de Extrema adotou procedimentos enérgicos. Criança que está resfriada, por exemplo, não vai à escola, até o medico afastar a hipótese de uma gripe mais forte ou de H1N1. “Todo cuidado é pouco, pois essa doença é assim: hoje tem tosse, amanhã tem pneumonia bilateral”, diz Ana Lúcia.

Gerente de Vigilância Sanitária de Andradas, também no Sul do estado, Daniele Casarotto Belavia reforça que as análises em relação ao vírus são muito mais importantes para se programar para o ano seguinte do que propriamente para análise e tratamento. “Elas permitem saber se houve mutação e quais os tipos de vírus estão circulando mais, para fazer o próximo cronograma vacinal”, diz.

MAIS VÍTIMAS
O número de vítimas de H1N1 no estado pode aumentar. Em Monte Santo de Minas, no Sul do estado, onde houve um óbito, a Secretaria Municipal de Saúde investiga uma segunda morte, de uma senhora de 63 anos, portadora de doença pulmonar obstrutiva crônica. Em Andradas, no Sul de Minas, a gerente de Vigilância Sanitária contesta a inclusão de um paciente na lista da SES de vítimas da H1N1. Segundo Daniela Belavia, o homem, de 54 anos, foi internado por causa de uma doença degenerativa e morreu em virtude dela, embora tenha contraído a gripe. “A causa no  atestado de óbito não é H1N1”, afirma.


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