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Estado de Minas DENGUE

Dias após visita de ministro, situação de posto de saúde em BH volta a ser caótica

Sobrecarga observada nos centros de saúde é indicativo da insuficiência das estratégias para fazer frente ao quadro de epidemia de dengue


postado em 03/03/2016 06:00 / atualizado em 03/03/2016 07:25

A mobilização: unidade de saúde foi centro das atenções, recebendo militares e titular da Fazenda (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)
A mobilização: unidade de saúde foi centro das atenções, recebendo militares e titular da Fazenda (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A.Press)

Há 18 dias, a rotina do Centro de Saúde São José Operário, no Bairro Nova Vista, na Região Leste da capital, era totalmente alterada para a visita do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, durante dia nacional de mobilização para combate ao Aedes aegypti. Passada a data, quando o primeiro escalão do governo federal visitou vários estados em uma ação que também contou com a participação de militares do Exército, nada mudou na unidade da capital mineira: retrato do que ocorre no restante da rede, o posto está sobrecarregado e pacientes reclamam do tempo de espera, aumentado pela pressão da demanda. Até o início da tarde de ontem, pelo menos 50 casos de suspeita de dengue, de quadros agudos ou reavaliações foram registrados na recepção, de um total de 240 atendimentos. Em todo o sistema, a sobrecarga observada nas unidades é indicativo da insuficiência das estratégias para fazer frente ao quadro de epidemia.

Balanço da Sala Nacional de Coordenação e Controle para Enfrentamento da Dengue, Chikungunya e Zika, do Ministério da Saúde, mostra que, até 25 de fevereiro, um total de 41,7 milhões de imóveis foram visitados em 2016, com o apoio de agentes de saúde e de militares das Forças Armadas. Em números absolutos, Minas Gerais teve 7,2 milhões de imóveis percorridos. Mas, ao mesmo passo que cresce o número de moradias visitadas, dispara a busca por atendimento para casos suspeitos das três doenças. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, houve aumento de 30% na demanda dos postos localizados em regiões onde há maior número de notificações.

Belo Horizonte tem 2.916 casos confirmados de dengue, segundo o último balanço divulgado pela prefeitura. O levantamento aponta a Região Leste como a quarta em diagnósticos confirmados, com um total de 352. Tem ainda a maior quantidade de quadros suspeitos, um total de 1.815. Uma funcionária do Centro de Saúde São José Operário, que preferiu não se identificar, confirma a sobrecarga do serviço e conta que, depois da visita do ministro, nenhuma melhoria específica era esperada para a unidade, embora a expectativa fosse de avanços para a saúde de forma geral. Aparentemente, eles não vieram. “Hoje atendemos a uma demanda grande, com muitas notificações, e as pessoas acabam esperando mais por esse motivo.”

A demora: Cleusa Seabra se queixa por mais de 2 horas de espera (foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
A demora: Cleusa Seabra se queixa por mais de 2 horas de espera (foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
A aposentada Eroína Martinha Souza, de 77 anos, teve dengue confirmada por hemograma na sexta-feira. Diariamente visita a unidade, para refazer os exames e acompanhar a evolução da doença. “Sempre demora, porque tem poucos médicos”, afirma ela, que mora a poucos metros e faz questão de manter a casa livre de focos do mosquito. Situação semelhante vive a autônoma Cleusa Santos Seabra, de 58, que apresentava manchas vermelhas e nos pés e foi diagnosticada com dengue aguda na semana passada, na Unidade de Pronto-Atendimento Leste. “Estou esperando há mais de duas horas. Preciso vir aqui todos os dias e, se for demorar sempre assim, não sei o que vou fazer. Não consigo nem ficar em pé”, comentou ela, que recebeu recomendação médica de repouso absoluto.

NO CHÃO
Às 15h de ontem, a aposentada Teodorica dos Santos, de 65, saiu de ambulância do centro de saúde, depois de conseguir encaminhamento à UPA Leste. “Estou aqui há mais de cinco horas. Como tenho lúpus, minha situação é mais delicada e por isso vou ser transferida”, contou a moradora do Nova Vista, que esperava, sentada no chão, debaixo de uma árvore, a chegada do Samu. “É uma doença horrível, estou sentindo muitas dores no corpo, com febre e estou toda empolada”, disse.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o Centro de Saúde São José Operário, que tem população de 11.400 pessoas em sua área de abrangência, conta com três equipes de Saúde da Família (um médico generalista, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro agentes de saúde). Tem ainda equipe de apoio composta por um clínico, dois pediatras e um ginecologista. Somente ontem, 240 atendimentos foram realizados e 50 pacientes apresentaram suspeita de dengue. Diferentemente do que dizem pacientes, a secretaria argumentou ainda que a média de espera para o atendimento “para os casos pouco urgentes é de duas horas, sendo que os casos agudos são atendidos imediatamente”.

A pasta sustenta também que pacientes com dengue e que tenham qualquer sinal de alarme são encaminhados para unidades de pronto-atendimento, acrescentando que neste ano não houve registro de dengue hemorrágica na unidade da Região Leste. Até 15 de fevereiro, o Centro de Saúde São José Operário notificou 157 casos suspeitos de dengue, com 23 confirmações, 28 diagnósticos descartados e 106 em investigação. O plano de contingência de combate a dengue, elaborado este ano, prevê a ativação de serviços de saúde e incremento das equipes, de forma gradativa, conforme a demanda, segundo a secretaria.

A transferência - Teodorica dos Santos: ambulância após aguardar no chão e passar 5 horas no posto(foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press)
A transferência - Teodorica dos Santos: ambulância após aguardar no chão e passar 5 horas no posto (foto: Túlio Santos/EM/D.A.Press)


Palavra de especialista

Antônio Carlos Toleto, médico infectologista e diretor da Sociedade Mineira de Infectologia


Medidas ineficazes

“O Aedes aegypti é extremamente complexo e tem capacidade de adaptação rápida ao meio. Ele não vai ser alcançado por meio das medidas que são tomadas todos os anos pelo governo. Os últimos 15 anos têm mostrado que a eficácia dos mutirões de limpeza, visitas as casas e ações de conscientização é limitada. São pontualmente importantes, porque quando ocorrem sabemos que reduzem potencialmente o número de casos, mas é preciso diversificar as estratégias, assim como o próprio vetor faz. Temos a questão do controle biológico e é preciso investir em pesquisas. As ações realizadas hoje são, sim, importantes, mas não são definitivas, não são eficazes hoje e nem no futuro. O que precisamos é tentar achar um caminho diferente, e não ficar repetindo o que fazemos. Gosto de citar uma frase de Albert Einsten, que ilustra o momento: ‘Fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes é loucura’.”

Mutirão no Horto

A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e a Regional Leste promoveram ontem mutirão intersetorial contra o Aedes aegypti, no Bairro Horto. Durante a atividade, 2.148 casas foram vistoriadas, em 42 quarteirões. Um pente-fino foi realizado nas moradias e foram apresentadas orientações aos moradores, com distribuição de material educativo. Doze caminhões fizeram coleta de aproximadamente 30 toneladas de material descartado pela população, com 35 pneus recolhidos. Hoje a regional fará nova operação de entrada forçada em imóveis abandonados. Serão dois endereços vistoriados, um no Bairro Colégio Batista e outro no próprio Horto.


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