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Estado de Minas

Infestação do Aedes aegypti e medo de doenças mudam rotina de mineiros

Para evitar dengue, zika e chikungunya, pessoas alteram seus hábitos de vida. Uso constante de inseticidas e repelentes e colocação de telas nas janelas são algumas das medidas mais comuns


postado em 21/02/2016 06:00 / atualizado em 21/02/2016 07:28

Sheilla não economiza repelente para proteger o filho João Guilherme do Aedes aegypti. Ela está grávida e evita sair de casa para não ser picada(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Sheilla não economiza repelente para proteger o filho João Guilherme do Aedes aegypti. Ela está grávida e evita sair de casa para não ser picada (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
O medo de contrair dengue, zika ou chikungunya impõe mudanças à rotina de grávidas, mulheres que fazem planos para engravidar, mães de crianças pequenas, idosos e pessoas acometidas por outras doenças. Neste momento de epidemia, a vigilância aumenta, já que os mosquitos estão se adaptando ao meio urbano e conseguem alterar seus hábitos como forma de sobreviver. Os cuidados diários, que passam pelo controle dos focos de mosquitos nas residências, crescente uso de repelentes e inseticidas e alterações nos hábitos das famílias podem ser explicados pelo número de casos prováveis de dengue em Minas Gerais. Nas seis primeiras semanas de 2016, o estado já registrou 62.271 casos, segundo dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Nove mortes por dengue também foram confirmadas em Minas, sendo três na capital, uma em Patrocínio, no Alto Paranaíba, e cinco em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Já o zika tem 166 casos em investigação, enquanto a chikungunya tem 128 casos.

Sheilla Prado, que está no quarto mês de gravidez e mora no Bairro Floramar, na Região Norte da capital, redobrou a preocupação com o mosquito. Desde a descoberta da gravidez, Sheilla se protege com muito repelente e, ao sair de casa, sempre opta por roupas compridas. “Entrei em pânico. A cada ultrassom, peço para medir a cabeça, não estava preocupada com o sexo do bebê”, afirma ela, que terá um menino. Além do estoque de produtos, Sheilla usa uma raquete elétrica para matar mosquitos. Os cuidados com o filho João Guilherme, de 1 ano e nove meses, também foram aumentados e uma nova medida deve ser a instalação de mosquiteiros nas janelas do apartamento nos próximos dias.

A dona de casa reduziu as saídas e deixou de frequentar parques e espaços com grama, por acreditar que o Aedes aegypti prefira esses locais. “Antes, íamos pelo menos uma vez por semana a parques. Agora, evito ficar ao ar livre”, conta Sheilla, que mesmo no clube não esquece de se proteger. “Uso protetor e depois o repelente.”No último mês, os gastos da família com repelentes e inseticidas chegaram a R$ 200. O filho é alvo constante desse tipo de proteção. “A pediatra falou que poderia passar repelente até três vezes por dia, mas, como o efeito é de quatro horas, passo até cinco vezes”, lembra. Antes do surto do zika e de outras doenças, o repelente era usado esporadicamente, apenas nas idas a sítios ou lugares com muitos mosquitos.

Com 21 dias de vida, a pequena Isabela e o irmão Théo, de 4 anos, estão sempre sob os olhos atentos da mãe, a dona de casa Luciane Cavalcante, que teve dengue um mês antes de engravidar. Mesmo com poucos mosquitos circulando no apartamento onde vive, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Luciane optou por colocar cortinado no berço e vigiar a situação de perto. O uso de repelente ainda é uma dúvida que ela vai esclarecer com o pediatra da filha. “Sempre que vamos a um lugar, onde acredito que terá mosquitos, passo repelente no Théo. No caso da Isabela, quando a pediatra liberar, eu usarei”, diz.

Entre as recomendações para aqueles que podem ter complicações a partir da contaminação pelo Aedes aegypti, o professor e pesquisador Álvaro Eduardo Eiras, do Departamento de Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra a necessidade de “estar em alerta o tempo todo”, independentemente das preferências do mosquito – que na teoria age com mais frequência entre as 7h e as 8h, no fim da tarde e no início da noite, entre as 18h e as19h, e deposita seus ovos em locais com água limpa. “O mosquito vem há vários séculos acompanhando a vida do homem e pode atuar em situações além dessas. A divulgação é feita como se houvesse um padrão para o comportamento do mosquito, e não há”, avalia.

No caso dos recém-nascidos e pessoas doentes, a indicação é usar mosquiteiros. O especialista lembra que, além de se adequar a diversos ambientes, o vetor tem batimento das asas inaudível pelo homem, ao contrário do pernilongo comum, o Culex pipiens. Entre as características do Aedes, estão ainda voos que chegam a 2 metros de altura, a possibilidade de picar outras regiões do corpo, como o rosto e pescoço, e a preferência por picar pessoas que estejam vestindo roupas escuras. Sobre as complicações da doença, Eiras explica que a situação pode ser agravada, principalmente, entre pessoas que tenham imunidade baixa ou outras doenças associadas, como diabetes e problemas cardíacos.

COMBATE AOS FOCOS
A aposentada Hermínia Teixeira de Rezende mora literalmente ao lado do inimigo e se desdobra para conviver com a ameaça da dengue e de outras doenças. Uma cobertura próxima ao apartamento dela, no Bairro Gutierrez, Região Oeste de Belo Horizonte, se tornou um risco para a vizinhança desde que foi abandonada, há pelo menos oito anos, segundo ela. “A piscina está cheia de água, os toldos arrebentados e sabe-se lá o que tem debaixo do madeiramento do deck”, denuncia.

A idosa, que tem diabetes e hipertensão, teme pela saúde e por possíveis complicações caso contraia a doença. “Se já é permitida a entrada forçada, por que não fazem isso aqui?”, questiona. Com o preço alto das telas antimosquitos nas janelas, ela opta pelo uso do repelente e por inseticidas, além de manter as janelas fechadas durante todo o dia. Procurada pelo Estado de Minas, a Regional Oeste informou que uma vistoria no local foi feita e o proprietário do imóvel, identificado e notificado. Uma nova vistoria foi programada para amanhã. Caso a vistoria não tenha êxito, nova notificação será emitida, o que respalda o poder público a entrar no imóvel na próxima semana.

Embora haja grande esforço para eliminar focos de dengue, Eiras pondera que as medidas de combate são equivocadas, uma vez que, além dos criadouros, é necessário “matar as fêmeas adultas com inseticidas, miscigenação com insetos geneticamente modificados e armadilhas.”


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