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Estado de Minas

Infestação do Aedes aegypti expõe falta de médicos e remédios nos centros de saúde de BH

Sob pressão da dengue e dos novos vírus transmitidos pelo mosquito, rede pública de BH registra demanda até 40% maior. Pacientes reclamam de falta de remédios e da disparada no tempo de espera


postado em 18/02/2016 06:00 / atualizado em 18/02/2016 07:37

UPA Pampulha é uma das que sofrem com sobrecarga. Na unidade, doentes denunciam aguardar até cinco horas antes de chegar ao consultório(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
UPA Pampulha é uma das que sofrem com sobrecarga. Na unidade, doentes denunciam aguardar até cinco horas antes de chegar ao consultório (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
A alta procura por atendimento para casos suspeitos de dengue, zika e chikungunya se tornou um desafio em centros de saúde e unidades de pronto-atendimento (UPAs) de Belo Horizonte. O surto das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti está sobrecarregando serviços que já eram alvo de críticas por parte da população. Agora, com elevação de até 40% na busca por assistência, a rede pública está diante de um quadro delicado: há falta de medicamentos básicos para tratamento das três enfermidades, como paracetamol e antialérgicos para coceira, além de insumos elementares, como luvas e produtos para aplicação de medicação venosa. Fora dos consultórios, pacientes relatam horas de espera por atendimento e cobram ampliação das equipes médicas. Segundo uma fonte da prefeitura, a administração municipal espera que o Ministério da Fazenda cumpra a promessa feita no último sábado, quando o ministro Nelson Barbosa esteve em Belo Horizonte e garantiu que não faltariam recursos para enfrentar o quadro.

Em meio à crise provocada pela elevação dos casos, os médicos fizeram ontem uma paralisação de 24h, com duração prevista para até as 7h de hoje. A categoria denuncia falta de medicamentos, de insumos e de condições adequadas para atender a população, além de cobrar melhoria nos salários e plano de carreira. Há também queixas quanto a equipes de profissionais desfalcadas.

O avanço no número de pacientes pode ser constatado no balanço de atendimentos. Em janeiro do ano passado foram realizadas 190 mil consultas, enquanto no mesmo período deste ano as unidades somaram 247 mil procedimentos, elevação de 30%. O salto foi ainda maior nas UPAs, onde o aumento médio foi de 40% nas áreas de maior incidência de casos suspeitos, e de 25% nas demais.

O resultado aparece no tempo que pacientes têm de esperar. Atendida na terça-feira na UPA Pampulha, a dona de casa Nilda Ribeiro, de 32 anos, sentiu a mudança. “No início do ano passado também tive dengue, e só esperei por uma hora para ser atendida aqui. Hoje (anteontem), foram mais de cinco horas. É agoniante, porque a gente já chega passando muito mal”, reclamou. Segundo a paciente, que está com sintomas da doença há três dias, além da falta de profissionais, especialmente nos fins de semana, a infraestrutura também não é suficiente. “O atendimento é bom, mas demora muito. Se houvesse mais médicos, com certeza não sofreríamos tanto”, comentou.

Na mesma unidade, o pintor Reginaldo de Oliveira Silva, de 38, lamentava o calvário enfrentado pela esposa, com dengue desde quinta-feira. Segundo ele, a busca por atendimento começou no Centro de Saúde Santa Terezinha, na Pampulha, às 9h30. “Disseram que precisava ser transferida de ambulância, que só chegou às 14h. Já são 17h e ela ainda não foi atendida na UPA. Isso é um desrespeito”, reclamou.

No Centro de Saúde Horto, onde são unânimes os comentários de funcionários sobre o aumento da demanda por causa das doenças, há outro problema. Da lista de medicamentos para o tratamento da dengue – como o paracetamol e os remédios para coceira – há apenas soros para hidratação oral.

Epidemia se soma a antiga sobrecarga

Diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sindmed-MG) e médico de Família e Comunidade da Prefeitura de BH, André Cristiano dos Santos reforça os relatos de pacientes e servidores. “A rede pública atende um número maior do que a rede privada e sofre uma pressão enorme por falta de infraestrutura. A epidemia, que neste ano começou mais cedo, revela uma situação ainda pior. Médicos e demais funcionários estão sobrecarregados e pacientes sofrem para ser atendidos”, disse o diretor, lembrando que o aumento de demanda está pulverizado por toda a cidade. “Poucas áreas estão sendo poupadas. Temos enfrentado dificuldades em toda a rede, porque não há equipes de apoio para atender a essa nova demanda. É a mesma equipe que já atendia com sobrecarga, e que agora trabalha com mais uma carga extra.” Isso resulta, segundo ele, em estresse para o profissional, cada vez mais exposto ao risco de erro médico, além de deixar o paciente insatisfeito, o que acaba gerando violência nas unidades.

A Secretaria Municipal de Saúde confirma o aumento da demanda, mas informa que vai disponibilizar R$ 3,2 milhões como incentivo financeiro complementar para as ações de controle e redução dos riscos das três doenças no âmbito da atenção básica e na assistência aos pacientes. “Neste primeiro momento, esse recurso é suficiente para as ampliações na estrutura de atendimento, previstas no plano de contingência assistencial para dengue, zika e chikungunya, elaborado pela secretaria e aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde no fim de 2015”, informou a pasta, por meio de nota.

A secretaria alega que não há falta generalizada de medicamentos, insumos e materiais. Admite apenas faltas pontuais, em função de problemas na entrega pelo fornecedor, falta de matéria-prima ou recursos em processos licitatórios. “A secretaria atua para a rápida solução do problema, para que não haja prejuízo na assistência”, garantiu. Sobre a paralisação de ontem, a pasta informou que a adesão dos médicos foi de 36% (dados parciais, desconsiderando duas regionais). Sobre negociação com os profissionais, a PBH foi procurada, mas não se pronunciou. A Secretaria de Saúde foi informada pelo sindicato dos médicos de que o movimento garantiria atendimentos de urgência e emergência.

ESTADO A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que já investiu de R$ 66 milhões no controle do Aedes aegypti, com o objetivo de incentivar a qualificação das atividades de vigilância e controle de endemias. No sábado, a secretária-adjunta, Alzira de Oliveira, afirmou que está previsto gasto de R$ 82 milhões para a guerra contra o mosquito. O estado pretende, até o fim de fevereiro, visitar 100% das residências mineiras. A secretaria ainda informou que, com recurso específico, disponibiliza medicamentos e insumos destinados ao atendimento aos usuários em tratamento de dengue.

Em nota, o Ministério da Saúde informou que os recursos federais destinados ao combate ao mosquito Aedes aegypti cresceram 39% nos últimos anos (2010-2015), passando de R$ 924,1 milhões para R$ 1,29 bilhão neste ano. Para 2016, a previsão é de incremento de R$ 580 milhões, com total de R$ 1,87 bilhão. Foi aprovado ainda no orçamento um adicional de R$ 500 milhões para o combate ao mosquito transmissor. A avaliação considera os repasses regulares feitos pelo ministério aos estados e municípios, assim como pagamento dos agentes de endemias, compra e distribuição de larvicidas, inseticidas (fumacê) e kits de diagnóstico.

Receita desfalcada

Medicamentos e insumos em falta em postos e UPAs de BH, segundo o sindicato dos médicos e funcionários das unidades

Para dengue

Paracetamol

Loratadina

Prometazina

Escalpes e equipamentos para aplicação de medicação venosa

Luvas para coletas de sangue (para sorologia e demais tipos de exame)

Outras doenças

Buscopan venoso (cólica renal)

Metformina (diabetes)

Losartan (pressão)

Ibuprofeno (anti-inflamatório)

Escopolamina (cólica)


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