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Estado de Minas

Motoristas de ônibus desrespeitam sinais de trânsito no Centro de Belo Horizonte

EM flagra, em apenas 90 minutos, 15 infrações de avanço de semáforo. Principal linha de investigação de acidente entre coletivos que deixou dois mortos e 14 feridos na capital é que um dos condutores tenha ignorado o sinal vermelho


postado em 23/01/2016 06:00 / atualizado em 22/01/2016 23:48

Na Praça Raul Soares com Avenida Amazonas, reportagem contou sete infrações em 33 minutos. Já na Amazonas com Contorno, no Santo Agostinho, nemo radar de avanço de sinal intimida os condutores de coletivos(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Na Praça Raul Soares com Avenida Amazonas, reportagem contou sete infrações em 33 minutos. Já na Amazonas com Contorno, no Santo Agostinho, nemo radar de avanço de sinal intimida os condutores de coletivos (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A morte de dois passageiros de ônibus na quinta-feira no Centro de Belo Horizonte não serviu de alerta para muitos motoristas de coletivos urbanos. Eles insistem em acelerar os veículos quando percebem o semáforo amarelo e até avançam cruzamentos perigosos com o sinal vermelho, o que é considerado infração gravíssima pelo Código de Trânsito Brasileiro. Durante uma hora e meia, o Estado de Minas flagrou 15 infrações em ruas e avenidas do Centro da capital, na manhã desta sexta-feira. Somente das 11h11 às 11h44, ou seja, em 33 minutos, a reportagem registrou sete infrações em um único semáforo, localizado na Praça Raul Soares com Avenida Amazonas, sentido Cidade Industrial, no Barro Preto.

Na Amazonas com Contorno, no Bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul, a presença de um radar de avanço de sinal não intimida os condutores, que atravessam o cruzamento em alta velocidade com o sinal amarelo. Em alguns casos, o farol fica vermelho antes mesmo de os ônibus completarem a travessia, o que aumenta o risco de colisão com os veículos que saem da Contorno sentido Savassi. O desrespeito às leis de trânsito chega a assustar até mesmo pedestres no semáforo da Rua Rio Grande do Sul com Amazonas. Dados de 2012 da BHTrans mostram que a média era de 21 infrações por dia envolvendo coletivos que avançavam o sinal. Atualmente, a empresa informou não ter balanço por tipo de veículo.

O acidente de quinta-feira foi no cruzamento das avenidas do Contorno e Andradas. O avanço do semáforo por um dos ônibus é a principal linha de investigação da batida, que, além dos dois passageiros mortos, deixou 14 feridos. Um coletivo da linha 8107 descia o Viaduto da Floresta para entrar à esquerda na Andradas e bateu na lateral de um coletivo do Move Metropolitano da linha 512H, quando este fazia a curva para pegar a Contorno. Testemunhas disseram à polícia que o veículo do Move avançou o sinal.

A vendedora Elizabeth Lopes, de 35 anos, diz ficar com os nervos à flor da pele quando anda de ônibus. Ela reclama dos motoristas das linhas 4031 e 4033 que atendem a Vila Oeste, onde ela mora. “Os motoristas correm demais na Avenida Antônio Carlos. Muitas vezes, aceleram quando o sinal fica amarelo e atravessam com ele no vermelho. Só quando ocorre acidente com morte é que as pessoas se preocupam com isso. Não estão nem aí com a vida dos passageiros, com crianças, idosos e grávidas, com todo mundo que anda sem cinto de segurança nos ônibus”, reclama Elizabeth.

Usuários do transporte público, como a advogada Bruna Reis, se sentem inseguros:
Usuários do transporte público, como a advogada Bruna Reis, se sentem inseguros: "Tenho muito medo de acontecer um acidente comigo" (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
A advogada Bruna Helena Reis Cláudio, de 24, também não se sente segura nos coletivos. “É muito comum o motorista acelerar quando o sinal fica amarelo. Tenho muito medo de acontecer um acidente comigo. Não tem cinto de segurança nos ônibus e nós, passageiros, somos vulneráveis”, reclama. A advogada usa coletivos das linhas 8203 e 8298, que atendem o Bairro Buritis, na Região Oeste, e conta que os avanços de sinal são mais comuns nas avenidas Amazonas e Barão Homem de Melo.

Para o delegado de trânsito Rodrigo Fagundes, a melhor forma de garantir a segurança dos passageiros é o motorista de ônibus respeitar a legislação de trânsito. Segundo ele, o Código de Trânsito prevê em seu artigo 105 que não é obrigatório o uso de cinto de segurança em veículos de transporte de passageiros que permitem pessoas viajando em pé. “O cinto é obrigatório apenas para o motorista e o cobrador”, disse o delegado. Segundo ele, a principal causa dos acidentes envolvendo coletivos em BH é o desrespeito às regras de trânsito.

O delegado disse ter participado de um seminário recentemente com motoristas e representantes dos sindicatos do transporte de passageiros. Um dos assuntos debatidos foi o cuidado que os condutores devem ter pelo fato de transportar vidas sem o uso de cinto de segurança. “O cuidado deve ser maior”, alerta Fagundes, que defende o uso obrigatório do equipamento de segurança também em coletivos urbanos. “Será que não é a hora de mudar?”, questiona o policial, sugerindo mudanças na legislação. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, o uso de cinto de segurança reduz em até 65% o número de mortes e feridos em acidentes que envolvem transporte coletivo.

Rodrigo Fagundes assumiu as investigações do acidente de quinta-feira e vai analisar imagens das câmeras internas dos dois ônibus envolvidos e do sistema Olho Vivo. “Vamos verificar se houve avanço de sinal por parte de um dos ônibus”, disse o delegado, que vai ouvir testemunhas do acidente na próxima semana.

FISCALIZAÇÃO O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que os motoristas de ônibus das empresas associadas passam por 15 a 20 horas de treinamento por ano, totalizando 250 mil a 300 mil horas de treinamentos no sistema anualmente. “Os treinamentos são orientados para a reciclagem constante dos operadores do sistema de transporte e o aprimoramento de suas práticas e relações pessoais e profissionais com os usuários, agentes de trânsito, pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas dos demais veículos no trânsito”, informou, em nota, o sindicato.

De acordo com a BHTrans, hoje são 151 radares de avanço de sinal espalhados pela cidade, autuando automóveis, motos, caminhões e ônibus. Somente no primeiro semestre de 2015, foram 19.252 infrações de avanço de sinal em BH – não há um balanço específico para cada tipo de veículo. No mesmo período do ano anterior, foram 27.428. Os equipamentos começaram a ser instalados em 2014, quando foram registradas 48.555 notificações o ano todo. Segundo a BHTrans, esses números tendem a cair, porque muitos motoristas multados passam a respeitar a legislação e não cometem o erro outra vez.

Palavra de especialista

Osias Baptista, consultor em transporte e trânsito

‘Condutores têm treinamento deficiente’

“Motoristas do Move argumentam que o tempo de amarelo do semáforo é muito curto dado ao cumprimento do ônibus articulado. Não acho que isso seja muito procedente. Você tem formas de engenharia de tráfico de ajustar os tempos adequados dos semáforos, chamado de tempo de limpeza, o que a BHTrans tem feito. Na hora que fecha um sinal, não abre outro imediatamente. O que acho que ocorre é que muitos motoristas de ônibus têm treinamento deficiente. O condutor ainda está longe do sinal amarelo e não para. Deve pensar assim: ‘Se eu parar um minuto ou dois minutos aqui, poderia estar lá na frente e vou cumprir meu horário’. Então, é muito comum mesmo o motorista avançar o sinal. E a solução que tem para isso é mais educação e fiscalização eletrônica. O importante é investir muito no treinamento desses motoristas, treinamento de direção defensiva, saber respeitar o amarelo e ter fiscalização eletrônica no maior número de semáforos possíveis.”

Enquanto isoo...

...Confusão com pista interditada

Motoristas que trafegam pela Avenida do Contorno, no Centro, ficam perdidos quando passam pelo cruzamento com as ruas Rio de Janeiro e Varginha. Com o fechamento da pista da Contorno sentido rodoviária, ao lado do viaduto de acesso ao túnel da Lagoinha, os condutores têm que atravessar a pista para o outro lado do viaduto e seguir pela via recém-construída com o fechamento do Ribeirão Arrudas. Muitos condutores são surpreendidos pela pista interditada e tentam, de última hora, acessar o desvio, mas fecham outros veículos que seguem direto em direção ao viaduto. A placa indicando o novo trajeto, que fica suspensa sobre a pista, foi mudada da faixa da direita para a esquerda, mas muitos carros já saem da Rua Espírito Santo em direção ao antigo trajeto.

Placa indicando o novo trajeto foi mudada de lugar e causa confusão entre os motoristas(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Placa indicando o novo trajeto foi mudada de lugar e causa confusão entre os motoristas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


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