
Os bichos são bem tratados por voluntários e especialistas contratados pela empresa, mas muitos animais estão estressados. “Eles saíram da zona de conforto, o que gera esse estresse. É natural. Estão carentes, pois não estão com os donos”, conta o veterinário Bráulio Faria. Na tentativa de localizá-los, os socorristas estudam a possibilidade de elaborar catálogos com fotos e distribuí-los aos desalojados. Mas os voluntários reconhecem que a estratégia não é tão simples.
Afinal, muitas vítimas foram encaminhadas para quartos de hotéis e pousadas, onde a presença dos animais é proibida. Outras famílias foram transferidas para imóveis sem área externa ou com espaço insuficiente para a criação adequada dos bichos. É o caso de Michael Jackson do Carmo, de 19. Ele e a avó estão numa casa onde Serena, uma égua de 3 anos de idade, e Trovão, um potro de 6 meses, não têm lugar.
O jovem morava em Bento Rodrigues. “Lá havia pasto suficiente para os bichos”, recorda o rapaz, que, quase todos os dias, visita Serena e Trovão na baia montada pela Samarco. Michael não esconde a tristeza ao ver a nova realidade dos equinos: “Sei que eles são bem tratados, mas eram criados num pasto. Era um lugar espaçoso. Veja as tetas da égua. Estão com pouca quantidade de leite para alimentar a cria. Se a Serena estivesse no pasto, estaria com as tetas cheias”.
Esse não é o único lamento do jovem. Michael tinha uma égua, a Vozinha, que foi levada pela correnteza de rejeitos de minério. “No dia do desastre, ela estava cansada, pois eu havia feito uma longa cavalgada com ela. O animal estava sem força para lutar contra a lama”, conta. A catástrofe também o separou de Jack, seu cão de estimação. O jovem, contudo, não perde a esperança em encontrá-lo com vida.
ENCONTROS Quem teve essa sorte foi Lourival, o dono de Suzy. Ontem, ao levá-la para a roça da família, ele se deparou com uma cadelinha conhecida: “É do meu cunhado. E teve crias. Vou avisá-lo para vir buscá-la”. Dos 650 animais levados para o lugar, 178 são cães adultos e 23, filhotes. Um dos pequenos é chamado por voluntários de Machinho. Marina Bedeschi Dutra, da Associação Ouro-pretana de Proteção Animal (AOPA), ajuda a alimentá-lo. “Sou engenheira civil e professora universitária. E dedico algumas horas do dia para tratar dos animais resgatados”, conta a moça.
“O trabalho de resgate e atendimento aos animais está sendo feito em parceria com ONGs e empresas terceirizadas. Estamos providenciando toda a logística necessária para dar suporte à transferência e resgate dos animais”, explica Carolina Pheysey, analista de meio ambiente da Samarco.
