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Estado de Minas

Córregos desaparecem e população encara o fantasma da sede no Norte de Minas

Com nível dos reservatórios da Grande BH atingindo o pior índice da história, altas temperaturas do início da primavera deixam mais evidentes efeitos da crise hídrica. Regiões em que a estiagem é um problema histórico, como o Norte de Minas, enfrentam fantasma da sede


postado em 29/09/2015 06:00 / atualizado em 29/09/2015 07:22

Em Francisco Sá, Norte de Minas, o pequeno agricultor Osias da Silva, de 77 anos, precisa disputar com o gado água de um pequeno açude, quase seco:
Em Francisco Sá, Norte de Minas, o pequeno agricultor Osias da Silva, de 77 anos, precisa disputar com o gado água de um pequeno açude, quase seco: "A gente vai acabar morrendo de sede" (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)

As altas temperaturas, que neste princípio de primavera se associaram a uma estiagem histórica, fazem disparar o termômetro da preocupação com a escassez de água, inclusive para consumo humano. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a onda de calor deixa mais evidentes os efeitos da seca, expondo o fundo de represas como a Lagoa da Codorna, na Bacia do Rio do Peixe, em Nova Lima. Paralelamente, o Sistema Paraopeba, usado pela Copasa para abastecer a população da Grande BH, atingiu ontem o pior nível de toda a sua história. Dos três reservatórios que compõem o complexo, dois – os principais – exibem volumes mais baixos do que os da data de anúncio da crise hídrica pelo governo do estado, em janeiro. A concessionária de saneamento, porém, garante que o abastecimento à população está garantido. Se a situação preocupa na capital, é mais crítica em regiões em que o déficit de água é crônico, como o Norte de Minas, onde há cidades nas quais parte da população já convive com o fantasma da sede.

Dos 106 municípios mineiros que decretaram estado de emergência devido à seca, grande parte fica na Região Norte, onde é mais crítica a situação dos municípios de Mato Verde e Francisco Sá. Neles, as barragens que abasteciam a população secaram, levando moradores da área urbana a enfrentar racionamento. Mas o quadro é ainda mais grave na zona rural, onde a água só chega em caminhões-pipa.

O sistema não é suficiente para atender a todos. Sofrimento para moradores como o pequeno agricultor Osias da Silva, de 77 anos, da localidade de Barreirinho, a cinco quilômetros da sede de Francisco Sá. Para matar a sede, ele é obrigado a apanhar água no que sobrou de um açude, disputando-a com animais. Com o sol forte, o reservatório foi minguando, até sobrar praticamente apenas uma lama esverdeada. Para ainda conseguir algo, o lavrador tem de acordar às 4h da manhã e chegar antes do gado. “A cada dia que passa, a situação piora. Do jeito que vai, a gente vai acabar morrendo de sede”, preocupa-se Osias.

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o longo período de estiagem levou a AngloGold Ashanti a usar praticamente toda a água reservada nas lagoas artificiais da Codorna e do Miguelão, em Nova Lima, para alimentar as usinas do Sistema Hidrelétrico Rio do Peixe. “As represas artificiais são abastecidas essencialmente pelas chuvas. Aproveitando o cenário de seca, a empresa está realizando a manutenção programada no sistema”, informou a mineradora, que afirma monitorar diariamente o nível das barragens e fazer medições periódicas do assoreamento e da qualidade das águas.

O secretário municipal de Meio Ambiente de Nova Lima e ex-presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, explica que as lagoas da Codorna, do Miguelão e dos Ingleses são artificiais e funcionam como barragens reguladoras. Elas foram construídas em 1914, 1920 e 1924 para reservar água para as quatro pequenas usinas do Complexo Hidrelétrico Rio de Peixe, que gera 32% da energia consumida pela mineradora. “Codorna é a última das três lagoas. Mas é a primeira acionada quando se precisa de água para as hidrelétricas”, completa, sustentando que as barragens do Miguelão e dos Ingleses estão com níveis “razoáveis”.

Porém, segundo o diretor do Iate Clube Lagoa dos Ingleses, Lannis Garcia, a represa atingiu um nível preocupante e pode baixar ainda mais se não chover nos próximos dias. “A tendência é piorar. No ano passado, ampliamos duas rampas para descer os barcos, pois a água se afastou demais da margem, mas elas já não estão operando. Chegamos ao ponto de não conseguir mais colocar todos os barcos na água”, afirma.

PREVISÃO
A expectativa é de que onda de calor, que ontem registrou máxima de 32,7°C em Belo Horizonte, comece a dar refresco a partir de hoje. A informação é do meteorologista Ruibran dos Reis, do Instituto ClimaTempo. São esperadas chuvas esparsas hoje e amanhã, na Grande BH, Zona da Mata e Sul de Minas. Porém, segundo ele, antes de domingo não deve haver precipitações mais fortes, que possam ajudar na recuperação dos reservatórios. “Na noite do domingo, já podem ocorrer pancadas, com queda de granizo e ventos intensos. A previsão é para todo o estado, incluindo o Norte, que nos próximos dias ainda registra temperaturas na casa dos 40°C”, destacou o meteorologista.


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