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Estado de Minas

Marcado por tragédias, Viaduto das Almas agora é usado para treinar socorristas

Desativado em 2010 depois de sucessivos acidentes que mataram mais de 200 pessoas, elevado é usado em treinamentos de socorristas de todo o país para casos de acidentes em altura


postado em 20/08/2015 06:00 / atualizado em 20/08/2015 07:43

Estreito, em curva e com um gradil baixo, o viaduto não oferecia segurança e foi substituído pelo Elevado Márcio Rocha Martins (ao fundo)(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Estreito, em curva e com um gradil baixo, o viaduto não oferecia segurança e foi substituído pelo Elevado Márcio Rocha Martins (ao fundo) (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Itabirito –
Uma nova história – desta vez com final feliz – começa a ser contada no Viaduto das Almas, oficialmente batizado de Vila Rica, no km 562 da BR-040, em Itabirito. O elevado foi inaugurado em 1957  e desativado em 2010 por causa das sucessivas tragédias no local. Estreito e erguido em curva, foi palco de acidentes que levaram a vida de mais de 200 anônimos e famosos, segundo ocorrências policiais.

Agora, a estrutura é usada por socorristas de todo o país para treinamento de salvamento em altura. “Ele se transformou numa referência nacional. Esta semana, por exemplo, recebi um grupo (de salva-vidas) de Mato Grosso do Sul. Também treinei pessoas de São Paulo, do Rio de Janeiro, de outras partes de Minas”, conta, empolgado, Handerson Fábio, comandante-geral de Operações do Corpo de Bombeiros Civil de Mariana. Ele próprio quase perdeu a vida no viaduto: “Foi em 1997. Eu ia de BH para Ouro Branco, numa Kombi. Chovia e a pista estava escorregadia. O veículo rodou na cabeceira do elevado, mas nada de mais grave ocorreu”.

Veja entrevista sobre o treinamento dos bombeiros

Os treinamentos ocorrem aos sábados e domingos, quando uma ambulância fica de prontidão sobre a estrutura. Em razão disso, o viaduto se tornou referência para moradores que têm algum mal súbito nos fins de semana e não têm como chegar a um hospital. “As pessoas vêm para cá. Fazemos, quando é o caso, o primeiro socorro”, conta Handerson enquanto mostra um pedaço de piso antiderrapante instalado na estrutura para aumentar a segurança dos profissionais durante os treinamentos. O piso foi fixado próximo a uma parte do gradil que despencou no leito do Ribeirão das Almas, que corre debaixo da estrutura.

O comandante Handerson Fábio oferece treinamento na pista onde quase perdeu a vida em acidente em 1997(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O comandante Handerson Fábio oferece treinamento na pista onde quase perdeu a vida em acidente em 1997 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O gradil, aliás, foi alvo de várias reclamações de motoristas e passageiros quando o viaduto recebia o trânsito da BR-040. Sua altura não é suficiente para evitar que veículos despenquem em um precipício de 30 metros. Mas suas características mais macabras são outras: erguido em curva, estreito e sem divisão física entre as pistas contrárias.

Em outubro de 2010, um novo elevado, construído em linha reta e largo, substituiu o antigo. Nenhuma tragédia foi registrada no local desde então. No antigo, mais de 200 pessoas perderam a vida. O acidente mais grave ocorreu em agosto de 1969, quando um ônibus da Viação Cometa não conseguiu atravessá-lo. Trinta pessoas morreram. Uma delas foi o músico Claudinê Albertini, que fazia dupla com o irmão, Márcio.


Dois anos antes, em setembro de 1967, outro coletivo da mesma empresa havia despencado de lá: 14 vítimas. Nesse, estava Zélia Marinho, apresentadora do programa infantil Roda Gigante, da extinta TV Itacolomi. A morte dela causou comoção nacional. Os acidentes envolvendo anônimos também emocionaram muita gente.

Num deles, por exemplo, os bombeiros acionados para socorrer feridos encontraram um bilhete no bolso de uma mulher. Dizia o seguinte: “Inês, se você soubesse o quanto te amo. Sofro quando tu me desprezas. Ah! Inês, como te amo. Seu eterno Paulo César Novais Costa”.

Bombeiros de Mariana fazem teste de salvamento(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Bombeiros de Mariana fazem teste de salvamento (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


A passageira Maria Inês Dionísio, possível destinatária do recado, foi uma das vítimas. Em outro bilhete, não foi assinado, descobre-se que o patrão do remetente salvou-lhe a vida ao impedir que o empregado viajasse do Rio de Janeiro para a capital mineira. O recado foi o seguinte: “Araci, para você o meu abraço bem apertado. O Luiz, que está indo hoje, eu queria ir com ele, mas não foi possível, porque o gerente da loja não deixou que eu viajasse (...)”.

Mas também há casos de sobreviventes. Em 1981, uma Caravan despencou do Almas. Por milagre, os sete ocupantes sobreviveram. Era uma tarde de Natal.

(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 29/1/57)
(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 29/1/57)
MEMÓRIA

Beleza perigosa


Por ironia, o Viaduto Vila Rica foi construído com o status de a obra de arte mais bonita entre os elevados da América do Sul, como destacaram várias publicações especializadas da época. Tanto que o então presidente da República, Juscelino Kubitschek (1902-1976), escolheu o elevado para inaugurar a BR-3, hoje 040. Juscelino (D) estava acompanhado do governador de Minas, Bias Fortes (1891-1971). Às 14h30, debaixo de um sol forte, a comitiva atravessou o elevado num carro luxuoso. Uma multidão acompanhou a cerimônia, que foi encerrada numa lanchonete construída próxima à cabeceira da estrutura. O empreendimento, batizado de Belvedere, é mais conhecido como Pão com Linguiça. O fechamento do Viaduto das Almas obrigou o dono a construir um imóvel em outro lugar às margens da rodovia, pois o trânsito no trecho antigo foi desativado em razão do novo elevado.


RAIO-X DO VIADUTO DAS ALMAS


Nome oficial
- Viaduto Vila Rica
Inauguração - 1º/2/1957
Desativação - 26/10/2010
Medidas - 262 metros de extensão por 8,5 de largura, a 30 metros do solo
Localização - km 592 da BR-040
Total de vítimas - cerca de 200

PRINCIPAIS TRAGÉDIAS


(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 6/10/67)
(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 6/10/67)
13/09/1967
Um ônibus da Cometa não consegue fazer a curva e cai do elevado: 14 mortos. Uma das vítimas foi Zélia Marinho, apresentadora do programa infantil Roda Gigante, na extinta TV Itacolomi.


2/8/1969 Outro ônibus da Cometa despenca da estrutura: 30 mortos. O músico Claudinê, que fazia dupla com o irmão Márcio Albertini no programa Brasa-4, foi uma das vítimas(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 2/8/69)
2/8/1969 Outro ônibus da Cometa despenca da estrutura: 30 mortos. O músico Claudinê, que fazia dupla com o irmão Márcio Albertini no programa Brasa-4, foi uma das vítimas (foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press 2/8/69)


26/11/1994
Um ônibus da Aditur, que levava operários de uma mineradora para Ouro Branco, foi atingido por um caminhão, que trafegava na pista contrária. Morreram 13 pessoas.


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