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Estado de Minas

Minas ocupa primeiro lugar em número de mortes em playgrounds

Inmetro inicia estudo sobre os riscos que os brinquedos infantis, instalados em praças e parques, podem trazer. De 1996 a 2012, o estado registrou 73 óbitos


postado em 06/09/2014 06:00 / atualizado em 06/09/2014 07:15

(foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)
(foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)

Coloridos e divertidos, eles fazem a alegria da criançada. Mas, apesar de parecerem inofensivos, brinquedos infantis instalados em praças e parquinhos podem representar risco para a segurança na hora da brincadeira. Quedas e outros acidentes em playgrounds resultaram, somente em Minas, em 624 casos de internações hospitalares de meninos e meninas, entre janeiro de 2008 e junho deste ano. Os dados são do Departamento de Informática do SUS (DataSUS), do Ministério da Saúde, e mostram que, dos acidentes registrados entre 1996 e 2012, 73 terminaram em morte. Os óbitos representam 25,6% dos 285 ocorridos no Brasil no período, e colocam Minas em primeiro lugar em número de casos no país. De olho nas estatísticas, o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) quer criar regras para implantação desses espaços de lazer e, durante os próximos dois meses, vai ouvir a opinião da sociedade sobre os perigos na hora de usar as estruturas.

A consulta pública, lançada para verificar a segurança e viabilidade dos equipamentos, servirá de base para a elaboração de um dossiê que deve regulamentar a criação dos playgrounds. Chefe da Divisão de Articulação Externa e Desenvolvimento de Projetos Especiais do Inmetro, Gustavo Kuster afirma que todas as fontes de pesquisa usadas para abertura do processo “apontam para riscos derivados do uso inadequado e da falta de manutenção dos aparelhos, e não dos produtos em si”. Além dos dados do DataSUS, segundo Gustavo, foram avaliadas informações de uma pesquisa feita junto a creches e pré-escolas sobre acidentes em áreas de lazer, além de informações da Ouvidoria do Inmetro, do Sistema Inmetro de Monitoramento e Acidente de Consumo (Sinmac) e do site Reclame Aqui.

Qualquer cidadão pode contribuir com o envio de relatos de acidentes, críticas e sugestões para que, a partir daí, o instituto possa propor um regulamento técnico. “A ideia é aumentar a participação da sociedade, para que as pessoas saibam que estamos investigando a segurança desses equipamentos”, diz. O especialista lembra ainda que uma campanha será feita junto à indústria, ao comércio e às entidades representantes de condomínios para conhecimento das normas.

Exemplos de perigo citados por Gustavo se escondem em alguns dos brinquedos considerados prediletos pela meninada: o balanço e o escorregador. “Os dois são usados por crianças de todas as idades, quando deveriam ter como limite determinada faixa etária”, alerta.

O gerente de operações Marco Antônio Ferreira, de 43, permite que o filho Marcos Paulo Lopes Ferreira, de 3 anos, se divirta no escorregador – indicado para crianças de 4 a 12 anos –, apesar da pouca idade, mas não tira os olhos do menino. Frequentemente, os dois visitam o playground da Praça Juscelino Kubitschek, também conhecida como Parque JK, na Região Centro-Sul, onde o pequeno aproveita os brinquedos. “Todas as crianças gostam do escorregador e, como o Marcos pede, eu deixo. Mas fico atento”, diz.

O gerente de operações, entretanto, faz ressalvas sobre a segurança dos equipamentos. “O balanço, que está ao lado de aparelhos para faixas etárias mais novas, é alto e não tem um cinto para prender a criança. Acho perigoso”, diz. Ele ainda chama a atenção para a necessidade de manutenção: “Tem brinquedo quebrado, com ponta de ferro exposta. Além de adequados, os equipamentos precisam passar por reparos frequentes”.

De olho no filho Emanuel, Adélia Ferreira sugere adaptação em equipamentos para minimizar ameaças, como as representadas por gangorras sem apoio em praça de BH(foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)
De olho no filho Emanuel, Adélia Ferreira sugere adaptação em equipamentos para minimizar ameaças, como as representadas por gangorras sem apoio em praça de BH (foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)


Acostumada a levar o filho Arthur Onnis Tanure, também de 3 anos, ao playground da Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia (Centro-Sul), a estudante Paula Barroso Onnis, de 22, critica a altura de alguns brinquedos. “Mesmo para a faixa etária indicada, acho que aparelhos como o trepa-trepa (5 a 12 anos) ou o escorregador são altos demais para as crianças. Uma queda de um metro, por exemplo, pode resultar em fratura.”

Na mesma praça, o funcionário público Vanderlei de Matos, de 33, se desdobrava para cuidar dos dois filhos, Heitor, de 3, e Bernardo, de 1 ano e 8 meses, enquanto eles brincavam. “Não me descuido um minuto, porque eles querem ir em todos os aparelhos. Há alguns que têm vãos em que eles podem enfiar os pés e cair. A altura é considerável e com certeza podem se machucar”, disse. De olho na brincadeira do filho Emanuel Antônio Ferreira, de 5, nos brinquedos da praça, a manicure Adélia Maria Ferreira, de 24, sugere mudanças na hora de implantae os equipamentos. “Acho que alguns materiais deveriam ser trocados, como o ferro, que pode provocar cortes. As quinas também podem dar lugar a extremidades arredondadas”, considera.

Prefeitura sem diretriz

De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte, o município não tem diretrizes específicas para a implantação de playgrounds e, por isso, a regulação do Inmetro será muito bem-vinda. Segundo a PBH, a instalação dos equipamentos segue “normas brasileiras pertinentes à engenharia, bem como as diretrizes e critérios que constam na Norma ABNT de Playgrounds (NBR 16071/2012)”.

De acordo com a assessoria de imprensa da administração municipal, parquinhos têm sido prioritariamente instalados por meio do Orçamento Participativo e nos projetos de urbanização das vilas e favelas, como parte do programa Vila Viva. “As estruturas estão recebendo equipamentos, principalmente, para a faixa etária de 2 a 6 anos, atendendo a demandas da comunidade”, informou a PBH em nota.

Palavra de especialista


Eliane de Souza, Coordenadora da Clínica Pediátrica do Hospital João XXIII

A importância da prevenção


É preciso acabar com a cultura de que acidentes acontecem. Acidentes são evitáveis e, para isso, pais, babás e responsáveis pelas crianças devem estar sempre por perto. As pessoas têm que entender que a curiosidade faz parte do desenvolvimento da criança e que ela faz coisas cujo risco não tem capacidade intelectual para avaliar. Por isso, o adulto deve estar sempre atento. No caso dos parquinhos, os brinquedos vêm com especificação de faixa etária e o responsável pela criança deve levar isso em conta, para não colocá-la em um brinquedo inadequado. Acidentes acontecem, muitas vezes, porque meninos e meninas são colocados em aparelhos para os quais não têm desenvolvimento motor ou estatura ideais. Nesses casos, a própria família coloca a criança em situação de risco. E, quando ela cai, pode sofrer problemas graves, inclusive com risco de óbito. Uma queda de uma altura de dois metros, por exemplo, a depender do piso, pode resultar em fraturas e traumatismo craniano. Como os pequenos têm estrutura muscular muito frágil, podem ainda sofrer trauma abdominal que afete órgãos importantes, mesmo sem nenhum machucado externo aparente. A depender do grau da lesão, ela pode ter hemorragia interna, precisar passar por cirurgia ou até mesmo morrer.


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