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Estado de Minas

Moradores se mobilizam para preservar o patrimônio natural na Grande BH

Individualmente, em família ou em grupos, cuidam desde uma simples praça até uma grande reserva. E dá resultado


postado em 16/06/2014 00:12 / atualizado em 16/06/2014 07:11

Pedro Ferreira

Maria Antônia Dinelli poda uma tuia no espaço que adotou como extensão de casa (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Maria Antônia Dinelli poda uma tuia no espaço que adotou como extensão de casa (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Pequenos gestos, mas que são grandes atitudes em favor do meio ambiente. Em Belo Horizonte e região metropolitana, não são poucas as pessoas que arregaçam as mangas e vão à luta pela preservação do verde, das nascentes de água ou simplesmente para tornar a cidade onde mora mais bonita aos olhos de quem a ama. Às margens da BR-040, em Nova Lima, Grande BH, moradores do Bairro Vale do Sol, adotam uma série de medidas de prevenção durante o ano todo para evitar incêndios nos quase 1,1 mil hectares da Estação Ecológica de Fechos, pertencente ao Parque Estadual Serra do Rola Moça. A Serra da Gandarela, localizada nos municípios de Caeté, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos, e que faz parte do conjunto da Reserva da Biosfera do Espinhaço, também pode virar parque estadual nos próximos dias, graças a um grupo de pessoas que uniram forças para defendê-la da exploração mineral.


Em Belo Horizonte, o Grupo Fica Ficus, criado para defender as árvores centenárias da Avenida Bernardo Monteiro, no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul, cresceu e já possui 2.204 adeptos de olhos voltados para outras regiões da capital. No Bairro Jaraguá, na Pampulha, a arquiteta e produtora de cinema Maria Antônia Dinelli Azevedo adotou uma praça em frente à sua casa e mobilizou toda a família para ajudá-la. Moradores do bairro também contribuem, preservando o espaço público que encanta a todos e virou reduto dos pássaros. Um casal de joão-de-barro praticamente adotou o lugar como moradia e pode ser visto o dia todo entre as plantas, além de bem-te-vis e sabiás.


Maria Antônia é parceira do Programa Adote o Verde desde 2002 e a “menina dos seus olhos” já conquistou o título de 2008 do concurso, recebeu menção honrosa em 2012 e ainda levou o prêmio de gentileza urbana do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). “Entrei em contato com a prefeitura e participei do projeto de criação da praça e da escolha do paisagismo. Primeiro, plantamos cana índica, mas ela morria depois da floração e a substituímos por outras plantas” conta a arquiteta. Como as sibipirunas são antigas e não vivem para sempre, segundo a arquiteta, mudas de ipês amarelo e branco já foram plantadas para embelezar o espaço futuramente e garantir sombra. A dedicação da família dela é tanta que o pai de Maria Antônia foi homenageado – a praça ganhou seu nome, Djalma Alves de Azevedo.


Há alguns anos, a prefeitura colocou mão única na Rua Amável Costa e parte da via foi fechada para o trânsito de veículos. Três sibipirunas que ficavam no canteiro central foram anexadas à pequena praça, que não chega a 500 metros quadrados. Todos os meses, a arquiteta e a família destinam R$ 500 para pagar dois jardineiros que ajudam nos cuidados. As 22 tuias compactas ganharam formas arredondadas com as podas. As agaves, que são da família das suculentas, têm espinho nas pontas e formam um cinturão no entorno dos canteiros, uma forma de impedir a entrada de pessoas na área ajardinada.
Para Maria Antônia, todo mundo deveria considerar a cidade uma extensão de casa. “Belo Horizonte é considerada a Cidade Jardim e o título deve ser mantido. Já perdemos muito verde ao longo dos anos”, diz. Os moradores do bairro deixam mensagens de agradecimento na caixa de correio da arquiteta. “Prezada senhora. Por favor, queira aceitar meus cumprimentos por manter este maravilhoso e abençoado jardim sempre verde”, diz uma das cartas.


Defensores de serra e árvores

Em fevereiro de 2012, um amigo da publicitária Patrícia Caristo, que estava fora de Belo Horizonte, encaminhou-lhe fotografias colhidas na internet, de uma poda radical feita nos fícus centenários na Bernardo Monteiro. “Patrícia, você precisa fazer alguma coisa”, pedia o amigo defensor de árvores. Depois de confirmar presença em um evento criado por um médico na rede social, “Precisamos fazer alguma coisa”, Patrícia começou a convidar todos os amigos a participar. “Marcamos um encontro debaixo dos fícus e os convites tiveram uma adesão incrível. O resultado foi muito bom. A prefeitura mandou o chefe da Defesa Civil à reunião e dois representantes da Secretaria de Meio Ambiente para justificar as podas da árvores, por causa de uma praga”, disse Patrícia.

Um grupo de estudo foi criado pela prefeitura para buscar uma solução que não fosse a poda e a praga começou a ser controlada. “Passamos a nos reunir toda semana debaixo dos fícus. Foi chegando mais gente e passamos a distribuir funções. Se não fosse a ação do grupo, provavelmente todas as árvores estariam no chão há muito tempo. Pedimos audiência pública, convocamos o Ministério Público, a promotora foi ao local e fez cumprir o processo de tombamento das árvores”, disse a arquiteta, lembrando que as plantas são tombadas como parte da Área de Diretrizes Especiais da Região Hospitalar. O trabalho do grupo se expandiu para outras regiões da cidade, como na defesa dos fícus da Avenida Barbacena e da Igreja da Boa Viagem, que sofriam a mesma ameaça.

Gandarela Outro grupo de amantes da natureza lutou pela preservação de uma das últimas grandes reservas naturais intactas de Minas Gerais, a Serra do Gandarela, localizada nos municípios de Caeté, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos, última cadeia de montanhas intacta pela mineração do quadrilátero ferrífero e que integra o conjunto da Reserva da Biosfera do Espinhaço. O jornalista Gustavo Gazzinelli conta que tem amigos morando na região e que se encantou pela beleza do lugar, o que o motivou a lutar pela sua preservação. “É a área mais intocável do Alto Rio das Velhas. Região maravilhosa, com área de mata atlântica fantástica, pertinho de Belo Horizonte, no meio do circuito histórico e cultural na região do ciclo do horário”, disse. “Fica no entorno dos municípios de Itabirito, Sabará e Ouro Preto. É uma âncora ambiental muito importante para a gente valorizar o Vetor Sudeste da região metropolitana”, disse Gazzinelli.

Entre as ações do grupo estão várias denúncias ao Ministério Público e acompanhamento do processo de criação do parque nacional. “A serra hoje está no nível de prioridade total do Ministério do Meio Ambiente e é possível que ela vire parque nos próximos dias. O processo já passou por várias etapas e está na Casa Civil, antes de ir para a presidente Dilma sancionar”, disse o jornalista.

Outro exemplo de amor à natureza vem dos moradores do Bairro Vale do Sol, em Nova Lima, Grande BH. Durante todo o ano, eles buscam fazer a sua parte para evitar incêndio nos quase 1,1 mil hectares da Estação Ecológica de Fechos, pertencente ao Parque Estadual Serra do Rola-Moça, que é habitada por dezenas de espécies de plantas típicas do cerrado e outras de transição entre esse bioma e a mata atlântica. Pelo menos duas vezes por dia, o artesão Gláucio Flores, de 55, vai à varanda da sua casa observar a área com a ajuda de um binóculo, atento a qualquer sinal de fumaça. O medo é que as matas nativas sejam consumidas por incêndio. Os moradores adotaram várias outras medidas de prevenção e a preocupação deles aumenta em períodos de tempo seco e quente.


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