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Estado de Minas

Cidade de Itu é palco de recente controvérsia sobre obras de Aleijadinho

Município paulista ,que tem proposta de criar museu da obra do artista mineiro, vive polêmica sobre peça que seria o seu segundo santo negro


postado em 04/05/2014 00:12 / atualizado em 04/05/2014 07:07

Gustavo Werneck

(foto: Marcelo Coimbra/Divulgação/Reprodução)
(foto: Marcelo Coimbra/Divulgação/Reprodução)
Chegam de uma cidade do interior paulista as mais recentes polêmicas envolvendo o nome de Antonio Francisco Lisboa. “O absurdo mais recente é a proposta de criação de um museu dedicado a Aleijadinho em Itu (SP), por onde, pelo que se sabe, ele nunca passou”, ataca o artista plástico Elias Layon, de Mariana, com 50 anos de experiência no ramo e que pesquisa há décadas a obra do mestre do barroco mineiro. A proposta é criticada também pelo presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Angelo Oswaldo de Araújo Santos, que a considera “um exagero”.

 Além da ideia controvertida, Itu foi a origem de outra polêmica recente envolvendo o nome de Aleijadinho. Há duas semanas foi localizado em antiquário uma imagem de São Benedito das Flores, santo negro esculpido em madeira, com 26,5 centímetros de altura e possivelmente feito entre 1761 e 1780. Em entrevista à imprensa de São Paulo, o pesquisador Marcelo Coimbra, a quem foi confiado o achado, informou que a peça sacra tem características de outras obras do gênio. Se confirmada a atribuição, será a segunda imagem de personagem negro associada ao escultor – a outra é uma representação do rei mago Gaspar, produzida entre 1775 e 1790, em exposição no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Coimbra é curador da exposição na Caixa Cultural, em Brasília, e autor da ideia do museu no estado de São Paulo.

Pesquisador do tema, o escultor Luciomar Sebastião de Jesus, de Congonhas, na Região Central, viu a foto de São Benedito das Flores em um site de notícias e não notou similaridades. “A peça não se parece com outras de Antonio Francisco Lisboa”, disse Luciomar, acreditando que, com a lembrança do bicentenário de morte do artista, “muitas peças vão aparecer como sendo de autoria dele”. “É impossível afirmar sem documentação”, alerta. O restaurador e professor Antônio Fernando Batista dos Santos também viu a notícia na internet e afirmou que a imagem não traz referências suficientes que possam ser atribuídas a Aleijadinho. E especificou o panejamento (vestes), que não traz as marcas, como “dobras marcantes e elaboradas”.

Marcelo Coimbra informou que não há registro formalizado de atribuição da autoria do santo, havendo, no entanto, um estudo cuidadoso dos estilemas “levando-nos à possibilidade de sua autoria ser atribuída ao mestre Aleijadinho”.

ASSINATURA DO GÊNIO Para facilitar a vida de quem verá este ano as exposições e outros eventos dedicados a Aleijadinho, estudiosos do barroco mineiro apontam os principais traços comuns, os chamados estilemas presentes nas suas peças. Para os leigos é mais difícil identificar as descaracterizações, mas conhecedores percebem logo as adulterações, inclusive se a finalidade foi mal-intencionanda. De todo jeito, vale a orientação preciosa da professora de história da arte da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Adalgisa Arantes Campos, especialista em barroco: “A obra de Aleijadinho é expressionista, deforma conscientemente para causar emoção”. Uma bela referência é a imagem de São Simão Stock, da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.


Três perguntas para...

Marcelo Coimbra

consultor de exposição sobre aleijadinho e um dos autores do catálogo com obras do mestre

1 - Um artista plástico de Mariana informa que há duas imagens (São Joaquim e Nossa Senhora da Expectação) no Catálogo Geral da Obra, de sua autoria, Márcio Jardim e Herbert Sardinha Pinto. Ele diz que as duas foram esculpidas por ele em 1980 e não por Aleijadinho. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Não há identificação, quer seja do autor da informação, quer seja das obras, com detalhes merecedores de uma análise mais minuciosa. Considero na realidade essa afirmação meramente gratuita.

2 - É verdade que o senhor quer instalar um Museu do Aleijadinho em Itu (SP)? De onde são essas peças? E por que em Itu?

São questões que, no momento, não estão em cogitação, porque estamos focados na exposição itinerante Berço do barroco brasileiro e seu apogeu com o Aleijadinho com patrocínio da Caixa e do governo federal.

3 - Na exposição em cartaz em Brasília, todas as obras são genuinamente de Aleijadinho? Quem fez as atribuições e com base em quais critérios?

Genuinamente, só se poderia afirmar sem nenhuma margem de erro se o próprio autor confirmasse sua autoria com minúcias. Quanto às atribuições e critérios, os mesmos já estão detalhadamente registrados no catálogo oficial da exposição que está sendo realizada na Caixa Cultural, em Brasília (www.exposicaoaleijadinho. com.br).


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