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Estado de Minas

Polêmica com frei gera debate sobre idade ideal para religiosos se aposentarem

Segundo a Arquidiocese de BH, 'padre nunca deixa de ser padre'. A partir dos 75 anos, recebe o título de emérito e se afasta das atividades administrativas


postado em 31/01/2014 06:00 / atualizado em 31/01/2014 07:13

Monsenhor Augusto Pinto Padrão tem 91 anos e está na ativa:
Monsenhor Augusto Pinto Padrão tem 91 anos e está na ativa: "Padre é um líder e não chefe de um grupo que executa o que ele pensa" (foto: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS )

A suspensão das missas celebradas pelo frei Cláudio van Balen, de 80 anos, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte – domingos, às 11h, e sextas-feiras, às 19h30 –, causa discussões acaloradas entre os católicos, aumenta os comentários nas redes sociais e abre o debate sobre o trabalho dos religiosos: qual o momento certo de um padre se aposentar? Segundo a Arquidiocese de BH, “padre nunca deixa de ser padre”. A partir dos 75 anos, recebe o título de emérito e se afasta das atividades administrativas da paróquia, podendo, no dia a dia, ajudar nas ações pastorais, presidir missas, atender confissões e celebrar casamentos e batizados. No caso dos bispos, ao chegar a essa idade, ele deve apresentar uma carta de renúncia ao papa, que, ao aceitá-la, nomeia um sucessor para assumir a diocese.

Em pleno vigor físico e mental aos 91 anos, monsenhor Augusto Pinto Padrão já desempenhou múltiplas funções em quase sete décadas de sacerdócio e está na ativa, embora em bem menor escala: atua como auxiliar na Basílica São João Maria Viannay ou Cura D’Ars, a poucos metros de seu portão, e é capelão de um hospital. Para o monsenhor, “padre é um líder e não chefe de um grupo que executa o que ele pensa. É um servidor da comunidade – lidera, mas não comanda”, afirmou, enquanto admirava as flores do jardim da casa que divide com a irmã no Bairro do Prado, na Região Oeste da capital.

Na tarde dessa quinta-feira, monsenhor Augusto esteve na Basílica Cura D’Ars e pôde sentir o quanto é querido pela comunidade. Ao vê-lo entrando pela porta lateral, participantes de um grupo de oração pediram uma bênção e, de mãos dadas, todos rezaram o Pai Nosso. “Ainda celebro missas, pois a Igreja é um dos lugares em que me sinto melhor. O significado de Igreja é fraternidade e levo ao pé da letra o mandamento sagrado “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, disse o padre que adianta ter acompanhado pouco a polêmica envolvendo frei Cláudio, que foi titular da Paróquia da Igreja de Nossa Senhora do Carmo até 2009.

No domingo passado, um grupo de fiéis causou tumulto no templo do Bairro do Carmo, na Região Centro-Sul, ao ver que o frei não celebrava a tradicional missa das 11h. O resultado foi a suspensão da celebração pela Cúria Metropolitana e superiores da Ordem dos Carmelitas, à qual a paróquia vinculada.

Certo de que com o tempo o padre vai cansando, como ocorre com qualquer profissional, o monsenhor formado em pedagogia conta que se aposentou pouco depois dos 60 anos pelo Instituto Nacional de Seguridade Social. O trabalho, no entanto, continuou firme na sua vida.

Natural de Belo Horizonte e ordenado aos 23 anos como sacerdote no Seminário Coração Eucarístico, do qual depois foi reitor por 22 anos, até 2007, Augusto foi pioneiro na Paróquia de São Domingos, hoje São Paulo da Cruz, na Região do Barreiro, professor no seminário, diretor do antigo Colégio da Universidade Católica, depois unido ao Colégio São Bento, titular da Paróquia de Santa Rita de Cássia, no Bairro São Pedro, e, paralelamente, capelão de diversas instituições – no Hospital Vera Cruz, no Bairro Barro Preto, está há 45 anos.

“Nós, padres, somos muito ligados às comunidades em que trabalhamos, mas temos que praticar o desapego. Não podemos ficar agarrados a um lugar só”, acredita o religioso de extrema lucidez, que se lembra de data, nomes e localidades recorrendo apenas à prodigiosa memória.

CASO A CASO Com experiência também em várias paróquias, padre Joaquim Santana de Castro, de 86 anos, residente em Santa Luzia, na Grande BH acredita que “cada caso é um caso”, cabendo ao padre, depois dos 75 anos, avaliar o que é melhor para o seu ofício. Ex-titular da Paróquia de Santa Luzia, Grande BH, onde está há 36 anos, padre Joaquim já trabalhou em Mariana, São Domingos do Prata, Mesquita, Itabira e Lagoa Santa. “Agora, não ocupo mais cargo administrativo, apenas ajudo o padre Danil, pároco de Santa Luzia. O meu lema é ‘ser tudo para todos”, então vou seguindo na minha caminhada”, afirmou o celebrante. “Eu, por exemplo, fui pároco até os 77 anos, dois anos depois do permitido.”

Repercussão

Leitores comentam no em.com.br

“Todas as pessoas que conhecem frei Cláudio sabem o quanto é uma pessoa afastada do poder e das vaidades. A missa das 11h é a última gota d’água tirada de uma comunidade ativa e participante.”

Adriana Araújo

“Se o padre, apesar de idoso, está bem de saúde, faz um trabalho muito bom e conquistou muitos fiéis, por que substituí-lo?”

Kátia Oliveira Santos

“Há sucessão em qualquer organização humana, podendo ser o Exército, empresa e até na família, que passa de pai para filho. Na Igreja não é diferente. O que não é normal é não aceitar que as gerações se sucedam.”

Flávio Morais


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