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Estado de Minas VIDA NOVA LONGE DE CASA

Desafios e apertos esperam por calouros que ingressam em universidades fora de seu estado

Minas recebeu o maior número de matrículas no primeiro semestre de 2013


postado em 26/01/2014 00:12 / atualizado em 26/01/2014 07:43

Matheus Soares Cherem vai deixar a casa dos pais, Paulo Roberto e Ana Laura, para estudar em Foz do Iguaçu, no Paraná(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Matheus Soares Cherem vai deixar a casa dos pais, Paulo Roberto e Ana Laura, para estudar em Foz do Iguaçu, no Paraná (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

Deixar para trás o colo da mamãe e a comidinha com hora certa para encarar uma cidade desconhecida, além de tarefas domésticas até então inimagináveis. Esses são apenas alguns dos desafios de quem está saindo de casa para começar, longe do conforto do lar, uma nova etapa da vida escolar. Nesses tempos de Sistema de Seleção Unificada (Sisu), em que vagas na universidade são disputadas como leilão na internet, estudar fora se torna cada vez mais natural para os brasileiros.


Em 2012 e 2013, as matrículas em instituições sediadas fora do estado de origem dos estudantes representaram 13% do total de novos registros acadêmicos, informa o Ministério da Educação (MEC). Em números absolutos, Minas Gerais foi a unidade da federação que mais recebeu alunos e, depois de São Paulo, a que mais mandou estudantes para outros estados.

Detentora da maior concentração de universidades federais participantes do Sisu, Minas Gerais atrai cada vez mais estudantes de fora. Em 2011, foram 1.407; ano passado, 2.437 (73% a mais), o equivalente a 22% das 11.085 matrículas feitas no primeiro semestre de 2013 em território mineiro. Os dados relativos a 2014 não estão fechados, mas a expectativa é de números ainda maiores, impulsionados pela adesão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ao Sisu.

Com a seleção mais concorrida deste ano, a UFMG registrou 52,65 candidatos por vaga e foi a segunda instituição em quantidade de inscrições (186.123). A maioria dos calouros que se mudarão para Minas virá de São Paulo. Ano passado, foram 1.501 paulistas, seguidos por cariocas (316) e capixabas (197). Apenas na UFMG, os paulistas representam quase 10% do total de aprovados este ano.

Migração Embora Minas Gerais esteja entre os maiores “exportadores” de alunos, os números mostram que os mineiros preferem permanecer em casa. Em 2011, 1.405 calouros deixaram o estado para estudar fora. Em 2012, foram 1.360 e, ano passado, 1.342. O Rio de Janeiro é o local preferido (450), seguido por São Paulo (196) e Rio Grande do Sul (169). Uma das instituições mais procuradas é a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), em São Carlos (SP), que nesta edição do Sisu teve 76 candidatos de Minas Gerais aprovados.

De malas prontas

O jovem Matheus Soares Cherem, de 25 anos, está de mudança para o Paraná. Ele conquistou o primeiro lugar geral na Universidade Federal de Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Vai cursar engenharia civil de infraestrutura, depois de estudar no cursinho Chromos, no ano passado. Formado em ciências sociais pela UFMG em 2011, inicialmente sua intenção era tentar uma vaga em Minas. Depois de conhecer o projeto político e pedagógico da Unila, mudou de ideia.

O calouro aproveitou o período de matrícula para conhecer o câmpus. Na primeira visita, ele se rendeu à hospedagem solidária organizada pelos alunos, o que garante grande economia, e se encantou com a organização dos colegas. “Eles foram muito hospitaleiros. Em quatro dias não é possível saber se a universidade cumpre ou não as expectativas. Como em qualquer lugar, haverá problemas e grandes oportunidades”, diz.

Pela primeira vez Cherem vai deixar o “ninho”. “Meus grandes amigos, familiares e minha história social e afetiva estão em BH. São 1,4 mil quilômetros de distância. Essa situação é complicada e reflete o Sisu, com suas enormes falhas e também benesses”, ressalta. Por enquanto, o plano é dividir a casa com dois colegas. A primeira turma da Unila ainda não se formou e, por isso, as repúblicas estão lotadas. O calouro mineiro já toma as primeiras providências: guardar dinheiro e solicitar um livro de receitas às amigas. Passar roupa está fora de cogitação, mas Matheus sabe que terá de lavá-las – sem escapatória.

“Não tive criação de filho que recebe tudo na mão. Faço algumas tarefas domésticas, mas agora é para mim e outras duas pessoas. O impacto maior é ficar longe de casa, não a labuta. A gente tem de ir, tem de ralar. A recepção dos colegas foi positiva, dá para contar com eles para ficar numa casa, pegar dicas de supermercado. Às vezes, o melhor é errar e acertar depois”, diz.

Como boa mãe, Ana Laura Soares Cherem, de 57, está com o coração apertado, mas dá a maior força para Matheus. Quando o caçula, o último a sair de casa, decidiu estudar tão longe, recebeu todo apoio. “Até sair o resultado, a gente fica pensando se ele vai passar, se vai desistir. Mas ficamos muito alegres, porque é o sonho dele, uma vitória muito grande”, conta.  

Via-sacra em BH

Nayara de Oliveira Santos, de 18 anos, aluna do 2º período de ciências sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), faz parte do contingente de 4.839 calouros que deixaram São Paulo em 2013 para estudar fora de casa. A maioria veio para Minas. São Paulo é o campeão da mobilidade estudantil promovida pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A garota é prova de que o início pode não ser fácil, mas tudo se supera com persistência.

Quando Nayara prestou vestibular, a UFMG não havia aderido ao Sisu. A opção se deu pela fama do curso, considerado o melhor entre as faculdades públicas. O primeiro desafio foi fazer as provas da segunda etapa, durante dois dias, sem conhecer nada nem ninguém em BH. Ela passou e pensou em desistir, mas acatou os conselhos para aproveitar a oportunidade.

A via-sacra começou no segundo semestre do ano passado. Nayara passou um mês procurando república, porque não tinha condição de arcar com os aluguéis cobrados na capital. Em três meses, Nayara morou em cinco casas – em algumas, de favor. O alívio veio com a bolsa-moradia da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), no valor de R$ 400, permitindo a permanência dela em BH. “Já tive de me virar com R$ 200 por mês para comer e pegar ônibus”, relata. Agora, a jovem aguarda a entrevista que poderá lhe dar vaga na moradia estudantil da UFMG.

“O bom da faculdade pública é que ela oferece tudo para você ficar, mas é preciso paciência. Ia diariamente ao plantão, pedia pelo amor de Deus para me atenderem”, relembra.

 

DICAS PARA A FAMÍLIA

Pais

» Antes da mudança, proponha tarefas domésticas básicas, como pagar uma conta, para o jovem saber como agir quando estiver sozinho

» Crie condições para desenvolver
a autonomia e a responsabilidade do jovem

» Ajude seu filho a desenvolver habilidades para resolver problemas

» Não reproduza no novo ambiente as condições de vida que seu filho tinha antes de se mudar

Filhos

» Antes de procurar ajuda familiar, tente resolver o problema, pois aprenderá a ter autonomia

» Construa uma rede de apoios no lugar para onde se mudou.
Faça amizades para contar com outras pessoas

» Não se isole

» Abra-se para a nova vida

» Encare as mudanças como um novo ciclo, que lhe trará conhecimento e diversidade cultural. Seu comportamento será enriquecido

FONTE: Hérika Sadi, coordenadora do curso de psicologia da Universidade Fumec


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