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Estado de Minas

Centro de BH é uma arena da diversidade

EM mostra as nuances da Região Central, que se reinventa para dar lugar a diversas tribos


postado em 22/09/2013 00:12 / atualizado em 22/09/2013 07:58

Jefferson da Fonseca Coutinho (textos)
e Alexandre Guzanshe (Fotos*)


Na estação do metrô, o vai e vem de passageiros é constante(foto: Alexanadre Guzanshe/EM/D.A Press)
Na estação do metrô, o vai e vem de passageiros é constante (foto: Alexanadre Guzanshe/EM/D.A Press)
Duas avenidas sangram e o vermelho da terra se move. No redesenho das duas artérias – Santos Dumont e Paraná –, as estações ganham corpo para aliviar o asfalto e abrir passagem. Espera-se. Enquanto o futuro não vem, há quem reclame do escuro, da falta de segurança, do comércio ruim e da poeira dos canteiros. Alheios às britadeiras, personagens de todas as tribos e gerações tocam a vida no vaivém das sombras. Três turnos são pouco para a dimensão de diversidade no perímetro. Endereço de trabalhadores, estudantes, aposentados, mendigos, viajantes, estrangeiros, religiosos, índios, hippies, amantes, trambiqueiros, pichadores, viciados e prostitutas, o Hipercentro, ainda que em grande parte feio e sujo, se reinventa frente ao crescimento desordenado de Belo Horizonte. Mas lá é possível ganhar a vida com gosto, envelhecer bem entre amigos e vivenciar prazeres raros na região.

Fotos, ipês e mata-ratos

“Foto na hora! Foto!” é o grito de ganha-pão de Carolina Márcia, de 20 anos. Há três anos, das 6h às 12h, a moça, mãe de Alex, de 3, atrai a clientela para o estúdio da Rua Carijós, na Praça Sete de Setembro. O movimento é fraco e o cinza da manhã fria ofusca o famoso Pirulito no eixo das avenidas Afonso Pena e Amazonas. As lanchonetes populares ganham os primeiros trocados, enquanto o ciclista vence a faixa de pedestres. A um quarteirão dali, na Praça Rio Branco, o ipê-rosa distribui flores que suavizam o concreto. Sob a garoa, homens e mulheres apressados se cruzam sem sorrir bom-dia.
No caminho para a estação do metrô, vendedores de cigarro madrugam. Do alto da passarela, veem-se os restos dos pacotes e caixas de tabaco afearem o espaço próximo aos trilhos – é mais fácil livrar-se do lixo pelas costas. Sombrinhas coloridas dão alguma beleza ao lugar de passagem. Os mais simpáticos não dão conta de esconder a cara amarrada. “Acordar cedo é osso, fi!”, diz o freguês ao ambulante. “Dá um mata-rato desse aqui, fi!”, emenda o comprador. Incendeia o picado, paga em moedas e faz graça com a fumaça. Os shoppings populares, terras estrangeiras, ainda estão fechados.
Na rodoviária, no desembarque, a moça bonita espera o táxi . Puro charme, ereta, com o pé esquerdo pela ponta, exibindo o sapatinho dourado como quem dança. Delegação de jovens atletas espera a liberação da comissão técnica para o café. No piso acima, o chão espelhado reflete a limpeza da estação rodoviária – chega a lembrar o aeroporto de Confins de outros tempos. O barbudo quer saber da música que vem da distribuidora de jornais e revistas. “Não é CD, meu filho. É rádio”, diz a caixa. A boa canção é “Nascente”, de Flávio Venturini e Murilo Antunes. Nos bancos de espera da plataforma, trio dorme sentado. Normal.

Beleza, betoneiras e BRT

Lorena Gomes, de 17, em salão de beleza na Rua Curitiba, espera a clientela. A jovem cabeleireira revela que chega a ganhar R$ 400 por dia de trabalho, com jornada de 12 horas. No JMX, o corte custa R$ 13 e a escova progressiva R$ 300. Na Avenida Santos Dumont, o caos pelo amanhã. As obras do BRT – que vai se chamar Move, quando sair do lugar – deixa muito comerciante aborrecido na região. No alto, o operário se confunde com a pichação que degrada os prédios. Próximo à Rua da Bahia, a restauração do Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) é a boa notícia do quadrante.
O ponto de ônibus florido mal dá conta de tanta gente à espera do lotação na Avenida dos Andradas. No canteiro, os regadores banham o verde rasteiro. De longe, a paisagem é bela. De perto, o lixo no chão queima o filme do lugar. Basta virar a cabeça para enxergar alguma beleza nas antenas comuns, ladeadas, sobre o Edifício Itatiaia, na Rua da Bahia. Perto dali, na Rua Aarão Reis, a feiura da degradação é de doer. Miséria e sujeira em combinação triste. Sujeitos de pouca sorte disputam espaço com os que esperam a condução. Na Estação Central do metrô, o entra e sai diminui pelo andar da hora.
No vagão em movimento, sentido Eldorado, distante dos subterrâneos, o rapaz, de pé, lê O céu, livro de Rodolfo Caniato, o matemático. Viagem breve até a Estação Lagoinha. Pelo caminho, um esbarrão, dois sorrisos e um “olá”. De resto, o avanço longe dos engarrafamentos. As betoneiras em trânsito mandam ver concreto na Avenida Paraná, tomada de “busões” em mão única. No riscado em obras, em meio às bancadas de cuecas e calcinhas baratas – R$ 2 –, moteizinhos fazem dinheiro com as promoções: R$ 30 a hora.

Contrastes no labirinto


Na Avenida Olegário Maciel, trupe de clowns dá lição de respeito às leis de trânsito. O motoqueiro abusado avança o sinal e por muito pouco não vira estatística na esquina de Rua dos Tamoios. Um dos clowns leva as mãos à cabeça: palhaçada. Instrumentos musicais reluzem no Mercado Novo. Já no Mercado Central, uma festa sensorial. Viagem de texturas, cheiros, sons, cores e sabores no labirinto mais interessante do Hipercentro. Do lado de fora, na Avenida Augusto de Lima, meia dúzia de pássaros canta liberdade na amoreira de copa alta, longe do alcance dos homens.
O Centro de Referência da Moda é atração na Rua da Bahia, junto ao Conjunto Arcangelo Maletta. Um mundo numa esquina. Confluência de história da vida política e cultural da cidade. Ainda não é meio-dia. O Parque Municipal Américo Renné Giannetti é um convite. Entre gatos, no ponto do trenzinho, o casal de namorados é um só no balaço em banco verde e branco.                    
  
* As fotos foram feitas com celular


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