Mateus Parreiras e Bruno Freitas
A parada do ônibus no ponto é rápida, suficiente para dois passageiros subirem os degraus de entrada e se agarrarem ao balaústre em meio aos demais, espremidos no corredor. É preciso força, porque em apenas 750 metros, na descida da BR-040 que fica a um quilômetro da Ceasa-MG, em Contagem, Grande BH, o coletivo beira os 100 km/h. A velocidade é tanta que o veículo se inclina ao fazer a leve curva que antecede a subida. Quem viaja de pé, no corredor lotado, é empurrado pela inércia. Não bastasse o desconforto no ônibus cheio e malconservado, quem estava na tarde da sexta-feira no coletivo da linha 6400 (São Francisco/Santa Cecília/Belo Horizonte) correu riscos, uma vez que o condutor excedeu em quase 25% a velocidade máxima permitida no local, de 80 km/h. “Não me sinto seguro. Todos os dias a gente fica pendurado nesses carros precários, cheios de gente e ainda pode se acidentar, por causa da correria dos motoristas”, reclama o chef de cozinha Sebastião Mauro Ferreira Dantas, de 44 anos, que toma a mesma condução duas vezes por dia entre o trabalho e sua casa, em Esmeraldas, na região metropolitana.
Casos de imprudência como esse, apesar de graves, não entram na avaliação do serviço prestado pelas empresas de transporte contratadas pelo Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e pela BHTrans. As operadoras dos sistemas BHBus e Metropolitano se atêm aos relatos de passageiros, quando reclamações são feitas e podem ser comprovadas, e às inspeções programadas, conduzidas por fiscais.
Para mostrar o perigo que se esconde por trás dessa espécie de “passe livre” para cometer infrações, a equipe do Estado de Minas fez um levantamento sobre as multas aplicadas às quatro empresas desses dois sistemas que mais receberam reclamações. O estudo foi por amostragem, avaliando as multas e punições administrativas em aberto de 10 veículos escolhidos de forma aleatória. Foram avaliadas as linhas 9250 (Caetano Furquim/Nova Cintra via Savassi) e 62 (Estação Venda Nova/Savassi via hospitais), campeãs de reclamações de passageiros da BHTrans, e 2290 (Nacional/Belo Horizonte) e 6400 (São Francisco/Santa Cecília/Belo Horizonte), as que mais queixas reúnem pelo DER-MG (veja arte).
Os 40 ônibus avaliados tinham média de seis anos de fabricação e apresentavam 72 multas e punições administrativas em aberto, média de 1,8 por unidade, que não levam em conta as autuações que já foram pagas e que por isso desaparecem do prontuário. Avanço de sinal, com 23 registros (32%), é a multa mais frequente, seguida de transitar acima da velocidade máxima permitida, com 15 (20,8%), e do não uso de cinto de segurança, com nove (12,5%). Três multas foram registradas por fiscais e policiais que flagraram condutores dirigindo e falando ao celular enquanto transportavam passageiros.
Só as duas linhas do DER-MG somaram 53 multas e infrações administrativas, o que representa 74% do total. A campeã nesse ranking é a linha 6400, que liga a capital mineira a Esmeraldas, na Grande BH. São 28 autuações em aberto, 11 (39,3%) apenas por trafegar em alta velocidade. Há multas que dão uma amostra dos abusos a que os passageiros estão sujeitos. Uma delas, de dezembro de 2011, flagrada pela Polícia Rodoviária Federal, se deve ao fato de um dos ônibus ter transitado sobre a calçada na BR-040, no Bairro Filadélfia, Região Noroeste de BH, na altura do km 531. O trecho é de intenso movimento, próximo aos motéis e antes da Ceasa-MG, onde há muitos pontos de ônibus com grande presença de passageiros. O veículo em questão tem 12 anos de fabricação e coleciona outras cinco multas e infrações, sendo duas por excesso de velocidade, duas por não uso do cinto de segurança e uma por avanço de sinal.
