
Entre as 13h e as 15h de ontem, um dos horários mais complicados para o trânsito no Centro da capital, o Estado de Minas percorreu o entorno das obras do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) e não encontrou qualquer agente da BHTrans, do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) ou da Guarda Municipal. Tanto que, quando um trator precisou sair do canteiro de obras da Avenida Santos Dumont e atravessar a Rua Curitiba para chegar à Praça Rio Branco, foram dois operários, com apitos na boca, que interromperam o tráfego. Diante da ausência de fiscalização, motoristas que cometem infrações dificultam ainda mais o fluxo de carros.
Na Rua Curitiba, logo após o cruzamento com a Avenida Santos Dumont, quando a via volta a se alargar, é comum ver veículos parados junto à calçada da direita, apesar de haver placa proibindo estacionar no local. Pouco depois das 13h de ontem, o agente de segurança André Luiz Rodrigues, de 31 anos, deixou o carro ali, com o pisca-alerta ligado, e saiu para comprar lâmpadas em uma loja próxima. Cerca de 15 minutos depois, voltou, apressado. “Aqui já era difícil estacionar e piorou depois que obstruíram uma parte da Curitiba”, argumentou. O taxista Rodrigo Andrade, de 40, também aproveita para encostar onde não pode e se defende: “Não tem como fazer diferente com esse afunilamento”.
O motorista Joaquim Fidelis, de 63, presta serviço à Prefeitura de BH e também sofre para estacionar o caminhão na Curitiba. Às vezes, ele também para em fila dupla. “Ficou muito mais difícil. Já fiquei 40 minutos rodando até surgir uma vaga. Acho que parte do trânsito tinha que ser desviado, para desafogar a rua”, sugere.
Muitos pedestres aproveitam o tráfego lento no cruzamento da Curitiba com a Avenida Santos Dumont para andar entre os veículos. Às vezes, precisam correr para não ser atingidos pelos carros. Alguns se confundem com o labirinto que se formou nos passeios. Na tarde de ontem, a comerciante Edir Serra, de 53, queria chegar a uma loja na esquina das duas ruas. Andou em uma calçada, parou, olhou para os lados e achou que estava indo na direção errada. “Ai, meu Deus”, exclamou. Deu meia volta, atravessou a Curitiba e descobriu que o caminho certo era o outro. “Está horrível. A gente anda uma distância enorme para chegar aonde quer”, queixou-se. “Mas, para consertar, tem que atrapalhar, né?”, resignou-se.
A BHTrans nega a falta de fiscalização na área central e, por meio de nota, afirma que “o monitoramento do trânsito está sendo feito pelos agentes da Unidade Integrada de Trânsito”, composta por pessoal da empresa, da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Os agentes ficam “nos pontos mais afetados pela obra” do BRT, segundo o texto. “De acordo com a necessidade, estão sendo deslocados para outros pontos que merecem monitoramento mais efetivo.” As medidas incluem o “controle da programação semafórica”, para permitir mais fluidez ao trânsito, explica a BHTrans. Além disso, são feitos “desvios operacionais de acordo com a situação”.
Segundo a assessoria de comunicação da PBH, diferentemente do que foi constatado pela reportagem, guardas municipais estão presentes de forma ostensiva para controlar o trânsito do Hipercentro, usando motocicletas e viaturas da corporação. Sobre o assunto, o tenente-coronel Roberto Lemos, comandante do BPTran, afirma que o controle de tráfego tem ficado principalmente a cargo da Guarda e da BHTrans, enquanto os militares se concentram em ações que evitem o fechamento das vias.
O EM entrou em contato com a Secretaria de Obras da Prefeitura de BH, mas os pedidos de entrevista com o secretário José Lauro Nogueira e de explicações sobre os problemas de cronograma das obras do BRT não obtiveram resposta.
