(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Casais mantêm casamentos em casas separadas

Em busca de mais privacidade e independência, cada vez mais casais mineiros decidem viver em locais diferentes, mesmo que num matrimônio. Novo arranjo familiar é tendência nos EUA


postado em 07/07/2013 00:12 / atualizado em 07/07/2013 08:04

Sandra Kiefer

Prestes a completar 18 anos de casamento, o cineasta Gilberto Scarpa, de 44 anos, e a relações-públicas Solanda Steckelberg, de 40, presidente da Fundação Clóvis Salgado, de Belo Horizonte, atingiram a maioridade na relação. Depois de decidir morar juntos, aos seis meses de namoro, o casal passou a dormir em camas separadas dentro do mesmo quarto e, por volta dos seis anos de relacionamento, mudou-se para um apartamento em Brasília, com duas camas de casal. Havia o quarto do Gilberto e o quarto da Solanda. Na volta a BH, depois de uma temporada de Solanda no Canadá, o casal radicalizou, decidindo viver juntos, mas em casas separadas. A nova tendência de arranjo familiar recebe nos Estados Unidos o nome de living apart together (ou vivendo em casas separadas) e conta com 1,7 milhão de adeptos que querem, principalmente, privacidade e independência.

“Não foi nada estudado, nem foi fruto de consenso e muito menos de briga entre a gente. Simplesmente, as coisas foram acontecendo dessa forma. Se eu já estava dormindo, por exemplo, Gilberto pulava para a outra cama, onde iria fumar e ver tevê”, explica Solanda, que mora em um condomínio no Bairro Santo Agostinho. Gilberto está na região da Savassi desde 2009. Já a filha do casal, Beatriz, de 10, conta com um quarto em cada uma das casas, mas passa a maior parte do tempo com a mãe. “Quando bate a saudade, chamo o Gilberto para sair… A gente estabeleceu essa distância de segurança para permitir que nosso casamento vá até o fim da vida”, define Solanda.

A família compartilha entre si a secretária do lar, Lourdes, peça-chave desse relacionamento nos moldes contemporâneos. “Ela faz a ponte entre os dois apartamentos. De manhã, trabalha na minha casa e, duas vezes por semana, faz faxina na casa do Gilberto. Se acontece de assar pão de queijo lá em casa, ela separa em duas partes e leva um pouco para ele. Se está faltando sabão em pó na casa dele, ela pega uma caixa na minha despensa, põe na bolsa e carrega para a casa dele”, explica Solanda, entre risadas divertidas.

No cotidiano, Solanda está para o sol, enquanto Gilberto pertence à noite. Ela acorda cedo, às 6h30. “Já eu fico vendo filme até tarde, trabalhando ou fazendo a montagem das cenas e muitas vezes só vou dormir às 6h30, sabe?”, diz o cineasta premiado, que trabalha a maior parte do tempo no estúdio que montou dentro de casa. “Meu apartamento parece mais uma oficina”, admite. “Na minha casa, trabalho não entra”, afirma Solanda, que neste ponto é inflexível. “Quer saber de uma coisa? Morar em duas casas é uma bobagem, porque os gastos são em dobro”, ironiza Gilberto.

“No primeiro casamento, a maioria dos casais ainda gosta de viver sob o mesmo teto. No segundo e terceiro relacionamento, muitos escolhem morar em casas diferentes. A ressalva é que fica mais caro, mas pode ser o preço a se pagar pela felicidade”, compara o advogado Rodrigo da Cunha, presidente do Instituto Brasileiro do Direito de Família (Ibdfam). Ele conta que, nos relatos cada vez mais frequentes no escritório, torna-se incompatível a convivência da mulher separada com filhos adolescentes e as filhas do primeiro casamento do marido, por exemplo. “Muitos casais preferem viver durante a semana com os filhos e nos fins de semana apenas com o cônjuge”, diz o advogado.

REFÚGIO Ninguém é de ninguém. O ex-vereador petista Antônio Carlos Pereira, o Carlão, de 60, cervejeiro assumido, evoca o verso da música antiga para explicar os motivos de manter um segundo relacionamento em casas separadas, há 14 anos. “Minha casa é mais familiar, onde recebemos os amigos e convivemos com minhas três filhas. O apartamento dele é nosso refúgio, nosso ninho de amor, onde ele prepara comidinhas e o café da manhã para mim”, revela a arquiteta e urbanista Jussara Bellavinha, de 57. Quase sempre ela dorme na casa dele, no Bairro Santo Antônio, levanta-se cedinho e vai a pé até a própria casa, no São Bento.

“Comprei esse apartamento para ficar pertinho dela. Uma vez na semana ela tem aula de dança e de vez em quando eu estico com os amigos no boteco. Conosco tem acontecido assim, mas não acredito em receitas. Para funcionar bem, é preciso que as pessoas tenham absoluta confiança nelas mesmas, além de autonomia profissional e de renda. Não dependemos um do outro para viver, mas sabe que dá saudade? Já estamos cogitando em rever essta fórmula”, diz Carlão. Com a palavra, a namorada-esposa: “Quando a gente começou, minhas filhas eram adolescentes e hoje estão adultas. Nossa relação é tão boa que dá medo de mudar, mas é claro que estando os dois mais velhinhos, vamos ficar mais juntos. Mas deixa a vida acontecer”, emenda Jussara, em perfeita sintonia com o parceiro.

Casos famosos
» Frida Kahlo e Diego Rivera

A pintora mexicana Frida Kahlo e o muralista Diego Rivera moravam em casas separadas, mas curiosamente interligadas por uma ponte. A fidelidade, porém, não era o forte do casal. Ambos viveram múltiplas aventuras amorosas fora do casamento.

» Helena Bonham Carter e Tim Burton

A insônia e o ronco do diretor Tim Burton podem ser alguns dos motivos, mas não as causas, para que ele e sua esposa, Helena Bonham Carter, morem em casas separadas. Os argumentos vão desde privacidade até decoração da casa. Os dois vivem em uma mansão interconectada em Londres. Além disso, eles têm acesso a uma terceira residência, ocupada pelos dois filhos do casal, Billy Ray, Nell e mais uma babá.

» Rita Lee e Roberto de Carvalho

Quando morava na mesma casa com o marido, a cantora e o companheiro dormiam em quartos separados. Segundo ela, quando o casal divide tudo o tempo todo não sobra espaço para o romance. Hoje, não dividem o mesmo quarto e nem o mesmo endereço, mas continuam juntos. 

Espaços individuais

Para alguns, a rotina de ver TV juntos, dividir o cobertor e a pipoca fortalece o casamento. Para outros, é motivo de desunião, quando se lembra de detalhes menos românticos da vida a dois, como a toalha molhada em cima da cama, a organização do guarda-roupa e o inevitável revezamento do banheiro. Tanto é verdade que as construtoras de alto padrão já oferecem apartamentos com duas pias, vasos separados e um boxe duplo, com dois chuveiros.

“É cada vez mais comum a exigência dos vasos em dobro nos apartamentos, como forma de atender a maior reclamação da clientela feminina de que o sujeito nunca levanta a tampa nem dá descarga”, comenta Teodomiro Diniz Camargos, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e presidente da Câmara da Indústria da Construção da Fiemg. Em prédios personalizados, reformados a gosto do cliente, já existem pedidos de suítes duplas para atender novos arranjos de famílias. “Geralmente, um dorme mal à noite e o outro quer preservar o sono”, diz.

Segundo o jornal britânico Daily Mail, a cada 20 casais um prefere morar em casas separadas, mesmo estando casados. Enquanto uma noite de sono é tão aguardada por alguns após um longo dia de trabalho, para outros é sinônimo de problema. Pesquisa conduzida pela psicóloga inglesa Donna Dawson apontou que, de cada 100 casais, 25 dormem em camas separadas devido a problemas noturnos. Para um terço dos casais, o ronco é a principal causa da ‘separação de corpos’. Outras questões, como resmungar e gemer, incomodam quase a metade dos casais.

“Na verdade, a toalha molhada deixada sobre a cama pode virar uma terrível armadilha para o relacionamento”, alerta Maurício de Souza Lima, presidente do Instituto Brasileiro de Programação Neurolinguística (IBPN). Convidado a dar palestra no curso de noivos da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, o especialista deu dicas sobre as armadilhas da comunicação entre os casais no dia a dia. “É preciso ter cuidado com o tom do que você fala. Se a mulher ralhar com o marido por causa da toalha molhada, ela corre o risco de ficar parecendo com a mãe dele. Se ele já não ouvia a bronca da mãe, tampouco vai ouvir a dela. Também não adianta preparar o estado interno antes de falar e correr o risco de parecer falsa.”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)