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Estado de Minas RETORNO EM GRANDE ESTILO

Museu da PUC Minas deve reabrir em julho e terá corpo do gorila Idi Amin exposto

Espaço pegou fogo em janeiro e ossadas de animais foram destruídas


postado em 25/06/2013 06:00 / atualizado em 25/06/2013 08:20

Preguiça gigante está sendo refeita: crânio quebrou ao cair no chão por causa do calor(foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)
Preguiça gigante está sendo refeita: crânio quebrou ao cair no chão por causa do calor (foto: Rodrigo Clemente/EM/DA Press)

 

Imagine um quebra-cabeça de milhares de peças. Quem trabalha para recuperar parte da exposição do Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, destruída por um incêndio em janeiro, faz com amor e muito detalhe cada intervenção. São quatro biólogos e dois artistas plásticos, além dos estagiários, que correm contra o tempo para tentar reabrir a casa em julho. É tudo tão minucioso que corre o risco de atrasar. Nos dias que se seguiram àquela noite de 22 de janeiro, quando um curto-circuito provocou as chamas, muitos voluntários se mostraram dispostos a ajudar, mas os reparos exigiam conhecimento. Quando abrir as portas novamente, o gorila Idi Amin já estará exposto. Um especialista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de São Carlos, interior paulista, termina o tratamento especial com pelos do mamífero, que vão recobrir um corpo feito de resina nas mesmas medidas do mamífero que viveu no zoológico de BH.

No ateliê onde se trabalha ouvindo músicas instrumentais, os artistas usam moldes de silicone líquido para alcançar a textura da pele da preguiça gigante de quatro metros de altura. O animal ficava preso ao teto por cabos de aço, que se romperam por causa do calor. Assim, o crânio da preguiça acabou espatifado no chão e derreteu. Foram 45 dias para refazer todos os ossos, quando o trabalho complexo normalmente levaria dois meses e meio. A partir das orientações dos estudiosos, os artistas colocam a mão na massa para construir com resina toda a estrutura da preguiça com mais de cem peças. O próximo passo é fazer as pinturas e o acabamento antes da pré-montagem dos conjuntos. Só então, quando todo o ambiente estiver pronto por dentro, a réplica voltará ao local de exposição para a montagem final.

“Foi uma destruição muito grande. Achávamos que teríamos perdido toda a exposição, mas a grande preocupação era a coleção de mais de 70 mil fósseis que temos na paleontologia. Pelo menos não perdemos os originais, diferentemente do que aconteceu no Butantan (em maio de 2010). Qualquer valor mais alto que se fale, não paga isso aqui. É a parte mais valiosa do museu”, considera Bonifácio Teixeira, coordenador do museu, lembrando que há oito coleções de fósseis que compõem o maior acervo das Américas. “A réplica da preguiça talvez tenha sido o maior estrago pelo tamanho e por ser um símbolo do museu, mas conseguimos refazê-la completamente com trabalho manual”, explica.

Numa outra sala, perto da reserva técnica, onde ficam animais empalhados e uma variedade enorme de ossos de animais, há a grande coluna de um dinossauro Uberaba Titan sendo recuperada. Os ossos estão marcados com números e acompanham as estruturas da região do tórax. Em alguns pontos, ferragens grossas seguram o esqueleto, mas áreas danificadas que não podem ser reparadas ganharam cola. “É um grande quebra-cabeça, precisa-se conhecer muito bem o animal. Estamos colando cada peça em uma tela, usando como base fotos do animal que a gente tinha arquivadas”, conta Bonifácio. “Vai ficar ainda mais bonito do que era”, completa um dos mais importantes pesquisadores da área de fósseis e escavações, Castor Cartelle, curador da coleção de paleontologia.

Artistas fazem moldes de silicone para conseguir textura da pele dos animais(foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
Artistas fazem moldes de silicone para conseguir textura da pele dos animais (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)


Andares

Ali também ganham vida os pterossauros de 4,5 metros que ficavam no primeiro andar do museu e se quebraram, precisando de uma ferragem grossa para sustentá-los por dentro e até de cola tipo durepox em partes que não puderam ser recuperadas. O boto também está sendo recomposto, a pele dele sofreu danos e ficou enrugada. Ele estava no terceiro andar, área mais atingida pelo calor e pela fumaça. Por dentro, a palha precisou ser retirada e os artistas usaram massa para esculpir o mamífero e lixá-lo. A restauração dos animais danificados chega a 65%. As espécies da fauna contemporânea ficaram impregnadas com tanta fuligem, assim como as conchas expostas no terceiro andar. Descobriu-se, depois de muita pesquisa, que detergentes do tipo limpa vidros servem muito bem para lavar as penas.


Recuperação vai custar R$ 2,3 milhões

Três empresas foram contratadas pela PUC-Minas para fazer a recuperação, num investimento que deve superar R$ 2,3 milhões. Aproveitando o fechamento, o prédio passa por uma reforma geral, com pintura externa, retirada das trincas e troca de todo o projeto elétrico, que agora ficará por fora do edifício. As venezianas, que também derreteram, ainda serão trocadas. O museu tem seguro, mas, segundo o coordenador Bonifácio Teixeira, há muita burocracia para pagar cada intervenção e, por isso, a universidade será reembolsada depois. O cenário da caverna já foi restaurado com o mesmo material, feito de polpa de papel, cimento, gesso e boro. Duas grandes pinturas do primeiro andar também ficaram muito sujas e já foram recuperadas pelo próprio autor.

Os laboratórios de mastozoologia (mamíferos) e a reserva técnica do museu, com réplicas feitas sob encomenda e distribuídas para museus do mundo todo, não sofreram abalos. Apesar da energia cortada, naquele dia, a câmara fria onde o gorila Idi Amin estava sendo empalhado foi mantida em pleno funcionamento por geradores. No escritório do Lund, a vidraça caiu mas os móveis, uma mesa de madeira com cadeira e banquinho, não foram atingidos. Ficaram muito sujos, mas agora só falta limpar a cruz que ficava na parede. Restauradores de madeira foram contratados para o trabalho e conseguiram recuperar a arca que veio da Dinamarca com as peças de Lund doadas pela família dele. Os jornais que embrulharam essas peças também estão preservados.


Sem visita das crianças


Os cenários de gesso onde as peças eram expostas no segundo andar foram completamente destruídos, restando apenas as estruturas metálicas. Até corrimãos das escadas derreteram e algumas pedras de granito dos pisos se quebraram. As chamas provocaram muita fumaça. Como o museu de seis metros de altura não tem janelas, o combate ao fogo pelos bombeiros foi mais fácil, mas não impediu que a fuligem atingisse o terceiro andar, espaço dos animais da fauna contemporânea.

“Nosso grande prejuízo foi a visita das crianças que deixamos de receber: são cerca de 50 mil crianças por ano”, lamenta Bonifácio Teixeira, que diariamente sobe e desce as escadas do museu para acompanhar tudo de perto pelo menos quatro vezes por dia. “Sempre acho que falta alguma coisa para fazer. Ainda teremos a fase mais demorada, de trazer todos os conjuntos dos esqueletos de volta, para montá-los aqui dentro. O que nos faz correr contra o tempo é a equipe motivada, que assumiu a restauração com força total e muito orgulho”. Segundo Bonifácio, a partir de agosto, haverá concerto aos domingos numa sala anexa, o que deve incentivar a abertura do museu também.


MEMÓRIA: Curto-circuito no segundo andar
Na tarde de 22 de janeiro deste ano, o segundo andar do Museu de História Natural da PUC Minas foi tomado pela chamas. O incêndio começou na fiação do ambiente que recria a caverna de origem calcária, instalada no espaço que homenageia o paleontólogo dinamarquês Peter Lund, no segundo andar. Era ali que ficava o tatu gigante, uma réplica com pequenos fósseis únicos de cerca de 8 mil anos. Essas peças estavam fixadas com cola quente no casco do tatu, animal encontrado na Gruta dos Brejões, na Bahia, mas o calor do incêndio fez todas elas soltarem. Nenhuma é igual a outra. Todas têm encaixes perfeitos, se colocadas no lugar certo. O prédio fica no câmpus do Coração Eucarístico.


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