(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Católicos comemoram Corpus Christi em Minas com missas, procissões e vigílias

Em Ouro Preto, fiéis colorem ruas e enfeitam janelas para celebrar a passagem do Santíssimo


postado em 31/05/2013 00:12 / atualizado em 31/05/2013 08:13

Fiéis percorrem as ladeiras de Ouro Preto seguindo o pálio, cobertura usada para proteger a custódia(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Fiéis percorrem as ladeiras de Ouro Preto seguindo o pálio, cobertura usada para proteger a custódia (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Procissões, encenações, missas e vigílias reuniram milhares de pessoas ontem em centenas de cidades de Minas nas tradicionais celebrações de Corpus Christi. Em muitos municípios, especialmente nas cidades históricas, católicos viraram a noite desenhando tapetes coloridas nas ruas para a passagem do Santíssimo Sacramento, homenageado também com flores e toalhas nas janelas.

Uma das mais fortes expressões da cultura mineira, a festa, celebrada 40 dias após a Páscoa e sempre numa quinta-feira em alusão ao dia da instituição do sacramento durante a ceia de Jesus com os apóstolos, marca a comemoração da presença de Cristo na eucaristia.

Na Arquidiocese de Belo Horizonte, houve missas, procissões, vigílias e adorações ao Santíssimo Sacramento em todas as paróquias, com destaque para as celebrações dos bispos. Dom Wilson Luís Angotti Filho presidiu a eucaristia no Lar Senhor Bom Jesus, no Bairro Bom Jesus, Região Noroeste da capital. O bispo João Justino de Medeiros Silva celebrou missa pela manhã em Taquaraçu de Minas e à tarde na Catedral da Boa Viagem, em BH. Dom Luiz Gonzaga Fechio participou de visita pastoral à Paróquia do Rosário, em Contagem.

Em Ouro Preto, na Região Central, centenas de pessoas acompanharam, pela manhã, a procissão de Corpus Christi. Por volta das 8h20, depois de missa na Igreja das Dores, o cortejo seguiu em direção à Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Em muitos trechos, enquanto descia e subia ladeiras, a multidão passava por cima dos tradicionais tapetes compostos de serragem colorida, quase todos exibindo motivos religiosos.

A maioria dos tapetes foi feita na madrugada, mas o sol já estava nascendo quando David Moreira passou a tecer o seu, na Rua Direita, a poucos passos da Praça Tiradentes, no Centro. Às 5h, o recepcionista de hotel e motorista, de 50 anos, começou a despejar a serragem sobre o pavimento de pedra. Ele se agachava com os joelhos no chão, apoiava-se com uma das mãos e com a outra espalhava o material de várias cores: vermelho, verde, marrom-claro, preto e azul-marinho.

“É uma forma abstrata. Vou espalhando no improviso”, disse, tentando explicar as curvas que surgiam. “Faço isso há mais de 30 anos. Gosto, sinto prazer. E tenho fé. Deus está presente aqui. É ele que me ajuda a fazer”, diz, sorrindo. Ao lado do tapete de David, segurando um punhado de serragem, o professor universitário José Cortez, de 51 anos, posou para uma colega tirar foto. Nascido na Guatemala, na América Central, ele estava na cidade histórica para participar de um congresso. “Isso é muito bonito e original”, elogiou. Sua acompanhante, a espanhola Remédios Ferrero, concordou: “É uma tradição encantadora”.

Arte encanta os visitantes


Nos tapetes, havia cálices, corações, velas, estrelas, luas, sinos, igrejas, rostos de Cristo. Sobre alguns, mãos esmeradas puseram pequenos arranjos de flores. Um estampava um anjo, uma pomba e uma cruz, em frente à Fundação de Arte de Ouro Preto. “Esse foi o mais caprichado que vi”, disse a funcionária pública Renata Virgínia de Faria, de 30 anos. A turista veio de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, com a filha, Eduarda, de 5, e dos irmãos, Rodolfo, 10, e Rafaele, 16. “Não sou ligada a religião, mas acho os trabalhos muito bonitos”, avaliou Renata.

Na Rua Getúlio Vargas, três meninas esperavam com ansiedade a procissão. Júvia do Nascimento, de 7 anos, Fernanda de Almeida, 6, e Laila Felício, 6, usavam um vestido rosa de bailarina e asas brancas de anjo. Quando o cortejo surgiu na rua, elas uniram as mãos e, de pé na calçada, se tornaram estátuas vivas. Só os olhinhos se moviam, para orgulho da professora de balé Adriana Silva de Andrade, de 53. Como outros moradores, ela acordou cedo para enfeitar as janelas da casa com panos multicoloridos e cerrá-las com cortinas alvíssimas. Apenas uma continuou aberta, para expor um vaso com flores vermelhas. “Esta é a festa mais linda da cidade. Estou feliz em homenagear Jesus”, disse.

Multidão ora e canta atrás do Santíssimo

À frente da procissão, um rapaz erguia o guião vermelho, que anunciava ser aquele um cortejo de caráter religioso. Quando a multidão se aproximava de um templo, seus sinos começavam a vibrar e só se aquietavam quando o grupo se distanciava. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, a empregada doméstica Terezinha de Jesus Mendes, de 56 anos, balbuciava algumas orações e segurava um rosário. “Dá emoção na gente, muita alegria e força. Jesus toca mesmo o coração”, disse.

O funcionário público Sidney Cardoso de Araújo, de 46, estava acompanhado dos filhos, Ivan, 12, e, Iuri, 3, sentado nos ombros do pai. “Você deve 'encaixar' os mais jovens agora, introduzi-los, explicar o que tudo isso significa. Depois, eles fazem o mesmo com os filhos deles”, constatou Sidney.

Ao longo do trajeto, a multidão cantava com o apoio da Banda do Bom Jesus das Flores, pertencente à Paróquia de Santa Efigênia. “E ainda se vier noite traiçoeira, se a cruz pesada for, Deus estará contigo. O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo”, dizia um dos cantos.

A procissão parou em três locais para a bênção do Santíssimo Sacramento, carregado por um padre sob o pálio dourado (cobertura que protege a custódia). E os fiéis se ajoelhavam. Ao fim da bênção, a banda executava o Hino Nacional Brasileiro. Um grupo de meninas vestidas de anjo andava no meio do cortejo. No fim do cortejo, foi celebrada outra missa.

“A festa de Corpus Christi é aquela em que o católico confessa sua fé publicamente, pois saímos com o Santíssimo Sacramento, que é Jesus Vivo. Fazemos a procissão adorando Cristo”, ressaltou o padre Daniel Milagres, vigário da Paróquia do Pilar. “A celebração da eucaristia é o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição. Memória não é mera lembrança, mas tornar presente. Atualizamos o gesto de Jesus na Útima Ceia”, acrescentou.

Uma tradição colonial

A festa de Corpus Christi – expressão latina que significa Corpo de Cristo – foi instituída pelo papa Urbano IV em 11 de agosto de 1264, para ser celebrada após a festa da Santíssima Trindade, que ocorre no domingo depois de Pentecostes. O evento é destinado a marcar a presença real de Jesus entre a humanidade, por meio da eucaristia, instituída por Cristo na última ceia, quando disse: "Este é o meu corpo... isto é o meu sangue... fazei isto em memória de mim". A festa é promovida sempre às quintas-feiras e, além de missa, a Igreja recomenda a procissão, “para testemunhar publicamente a adoração e a veneração da Santíssima Eucaristia”. A tradição chegou ao Brasil por meio dos portugueses, realçando-se nas cidades históricas, onde se criou o costume de ornamentar as ruas por onde passa a procissão com tapetes de colorido vivo e desenhos de inspiração religiosa.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)