A cidade foi toda enfeitada com bandeiras, toalhas e flores amarelas e brancas, cores do Vaticano e da Igreja Católica, para homenagear a beata nascida na região de São João del-Rei, no Campo das Vertentes, e residente durante mais de sete décadas em Baependi. Na localidade, onde há 20 mil graças registradas por intercessão da beata, desde cedo era grande a movimentação em frente e dentro da Matriz de Santa Maria e Igreja de Nossa Senhora da Conceição, conhecida popularmente como Santuário de Nhá Chica, no Centro. Longas filas se formaram – muita gente com guarda-chuva para proteger do sol forte – para visitar o memorial, com relíquias da leiga mineira, a casa onde ela viveu e também para ingressar no espaço G.A. Pedras. Espera que não desanimou Carlos Alberto da Silva, morador de Borda da Mata, no Sul de Minas, de subir a escadaria. “Fiz uma cirurgia no quadril e estou bem graças a uma promessa feita a Nhá Chica”, disse.
Milagres Segundo o padre, teria que haver a comprovação de um segundo milagre para que fosse permitida a abertura da canonização de Nhá Chica. Há 20 mil graças registradas, mas nenhum milagre, explicou. Ele disse que o altar da cerimônia de ontem, feito com estrutura de aço, simbolizando a região metalúrgica, foi uma forma de homenagear Minas e Baependi. Também flores como orquídeas, bromélias e buchinha e muitos balaios, feitos pelos cesteiros do município.
Vindos do Mosteiro de São Bento, de São Paulo (SP), os monges Lourenço Palata Viola e Camilo de Jesus Dantas ficaram satisfeitos com a celebração. “Fé não é acreditar em algo absurdo, não é assassinar a racionalidade, mas sim adesão e seguimento à Igreja de Jesus Cristo. Nhá Chica era uma negra, pobre, filha de uma ex-escrava e foi exatamente nela que a santidade se manifestou de forma heroica”, disse o irmão Camilo.
Uma caravana formada por 50 homens enfrentou 160 quilômetros, a cavalo, de Três Corações a Baependi. Entraram no santuário carregando um estandarte. “Fazemos isso há 16 anos. É a fé que nos move e estamos aqui para agradecer”, contou o comerciante Edmilson Ferreira.
Personagem da notícia - Ana Lúcia Meirelles Leite
Um novo coração moradora de Caxambu
Ao lado da família, a professora Ana Lúcia Meirelles Leite, de 68 anos, moradora de Caxambu, transbordava emoção. Foi graças ao reconhecimento do milagre concedido a ela, por intercessão de Nhá Chica, que a leiga mineira se tornou beata. Casada há 48 anos com o fazendeiro José Márcio Carvalho e mãe de um casal, ela ficou temporariamente cega no dia em que completava 50 anos, em 28 de junho de 1995. Chamou, então, por Nhá Chica, de quem sempre foi devota, e logo recuperou a visão. A causa era uma isquemia transitória e, na sequência, os médicos pediram vários exames. O resultado foi um defeito congênito no coração. Os médicos falaram sobre os riscos da operação para alguém de 50 anos e a professora persistiu nas suas orações, conforme aprendera, desde criança, com a avó, que fora amiga de Nhá Chica. Exames e mais exames se sucederam em Belo Horizonte e São Paulo (SP), até que, numa sexta-feira, às 15h – horário em que Nhá Chica intercedia a Deus para fazer os seus milagres –, Ana Lúcia rezou fervorosamente Salve Rainha e ave-maria”. Ao mostrar os resultados ao cardiologista, ele se surpreendeu e disse que ela estava curada. Ana Lúcia não sabe por que mereceu tal graça, apenas revela que “não entendemos os desígnios de Deus”. Na verdade, a professora sabe que recebeu dois milagres: a cura da cegueira e a do coração.
”Já tinham me falado várias vezes para visitar o santuário, mas só hoje vim aqui. É uma data inesquecível. Peço pela saúde do meu marido e para que todos se voltem para Deus” - Marliane Dias, de 47, professora, moradora de Borda da Mata, no Sul de Minas
Tenho muita fé em Nhá Chica e vim aqui para pedir pela minha saúde. Tenho um problema de audição, desde criança, e quero ficar curada. Hoje é um dia muito especial para os católicos - Amarilda Ângela de Fátima Soares,
de 52 anos, viúva, de Lavras