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Estado de Minas

Justiça endurece o jogo contra cambistas

Cambista flagrado vendendo ingressos no mercado paralelo e flanelinha cobrando por estacionamento no entorno dos estádios vão prestar serviços comunitários de imediato


postado em 30/04/2013 06:00 / atualizado em 30/04/2013 06:46

Número de pessoas vivendo da atividade ilícita é cada vez maior, o que caracteriza formação de uma grande rede criminosa(foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Número de pessoas vivendo da atividade ilícita é cada vez maior, o que caracteriza formação de uma grande rede criminosa (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)


As punições brandas aos cambistas que movimentam um mercado paralelo de ingressos de espetáculos e eventos esportivos está na mira da polícia de Belo Horizonte e podem deixar de ser apenas advertências ou termos circunstanciados – ocorrências de menor poder ofensivo que acabam em pagamento de cestas básicas pelos infratores. De acordo com o chefe do 1º Departamento da Polícia Civil, delegado Anderson Alcântara Silva Melo, e com a comandante do Policiamento da Capital pela Polícia Militar, coronel Cláudia Romualdo, está sendo acertado inicialmente com os juizados nos estádios que cada flanelinha ou cambista flagrado receba de imediato da Justiça, como pena, a prestação de um serviço comunitário que, em caso de reincidência, seria realizado durante as partidas esportivas. Só neste ano, 22 cambistas e 300 flanelinhas foram parar nas delegacias da capital. Na edição de ontem o Estado de Minas mostrou como essas redes criminosas estão cada vez mais sofisticadas, chegando a falsificar carteiras de estudantes e atestados médicos para facilitar o acesso aos ingressos, além de corromperem funcionários de bilheterias.

“Quando os policiais fossem lavrar os termos circunstanciados, nossos delegados sugeririam algumas medidas pedagógicas, como efeito dissuasivo para evitar que os cambistas retornem a comprar ingressos para vender mais caro”, disse o delegado Anderson Alcântara. Entre as medidas sugeridas estão a limpeza de ruas, avenidas, praças, parques e espaços públicos. “Podemos pôr essas pessoas para fazer campanhas de orientação de travessias com os agentes que trabalham na educação de trânsito. Queremos reeducar e, em paralelo, vamos continuar e ampliar o monitoramento, para evitar esse tipo de infração, que se aproxima de extorsão, por exemplo”, afirmou o delegado. Outra medida, mais severa, tomada contra aqueles que forem reincidentes, seria programar atividades para o horário dos jogos, o que evitaria a presença dos cambistas nos estádios e casas de espetáculos, mesmo depois de terem cumprido os serviços comunitários. “Na hora de um jogo, o cambista vai ter de ir a uma delegacia ou quartel para limpar a unidade, ou ajudar na conservação das viaturas, por exemplo”, disse o delegado.

A medida pode ser estendida para toda a cidade, mas depende, ainda, de uma parceria mais efetiva da polícia com o juizado especial criminal. Procurada pela reportagem do EM, a juíza Flávia Birchal de Moura, responsável pelo juizado em BH, disse, por meio da assessoria de imprensa do Fórum Lafayette, que não há, ainda, nenhum acerto com as forças de segurança pública para que cambistas e flanelinhas de outras áreas da cidade, fora dos estádios, recebam imediatamente serviços comunitários como penas por suas condutas ilegais.

Lista

Algumas medidas assim começaram a ser implantadas, de acordo com o comandante do 34º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Idzel Fagundes, responsável pelo policiamento do entorno do estádio Mineirão. “No dia do jogo do Atlético e Villa Nova (dia 21), pelo Campeonato Mineiro, nós prendemos 14 flanelinhas que estavam cobrando para as pessoas estacionarem seus carros”, lembra. De acordo com o policial militar, o juizado especial do estádio já determinou o afastamento dos suspeitos do perímetro do Mineirão por um prazo de três meses. “Isso, sim, inibe a ação dos cambistas e flanelinhas. Nossos policiais terão uma lista com os nomes das pessoas proibidas de frequentar as imediações do estádio. Se o ilegal for pego no local, será preso por desobediência a ordem judicial”, afirma o tenente-coronel Fagundes.

O crime por desobedecer a ordem legal de funcionário público tem uma pena ainda leve, de detenção por 15 dias a 6 meses, mas é no acúmulo das penas que apostam os policiais. “Estamos conseguindo provar que os cambistas trabalham juntos e por isso os estamos indiciando por formação de quadrilha, que é um crime de pena maior”, disse o delegado Anderson Alcântara. A punição que os flanelinhas e cambistas podem receber por formação de quadrilha é de 1 a 3 anos de prisão.

Ainda assim, os cambistas prometem continuar suas atividades. “No meu caso vou continuar a pôr gente na fila para comprar ingressos para mim. Não vai ter como a polícia saber que não estão comprando para eles mesmos. E é muito raro vender os ingressos nas ruas. Geralmente, tudo o que compro já é encomenda dos clientes. Chega de motoboy, na casa dele, numa boa”, disse ao EM um dos cambistas que atuam em Belo Horizonte.


Arredores de grandes eventos

Assim como os cambistas, vários esquemas de flanelinhas lotearam a capital mineira. Alguns deles agem apenas nos arredores de grandes eventos, mas há quem tenha se apoderado de quarteirões movimentados onde o estacionamento privado é caro e as vagas escassas. No ano passado, a reportagem do EM mostrou alguns desses grupos de lavadores, que se registravam na prefeitura e arrendavam as ruas para que outros trabalhassem em seu nome, já que apenas um pôde ser cadastrado em cada quarteirão de via. Um dos casos de maior destaque foi o do homem chamado Toninho, que tinha oito lavadores trabalhando para ele na Rua dos Timbiras, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de BH. Enquanto os lavadores se esforçavam e tinham de dividir seus lucros com Toninho, o “patrão” não trabalhava. Em vez disso, assistia a televisão e ouvia música numa das vagas que transformou em seu escritório. A reportagem do EM retornou ao local e constatou que nada mudou nesses oito meses.

Apesar de continuarem presentes no cotidiano de quem precisa estacionar, o número de lavadores de carro registrados pela prefeitura diminuiu. Eram 1.521 até agosto do ano passado. Oito meses depois, o número caiu 15%, chegando a 1.293, de acordo com a PBH. Analisando cada regional, a que mais perdeu lavadores legalizados foi a Pampulha, que tinha 400 e passou a ter 61,5% menos, chegando neste ano a 130. A Regional Centro-Sul, que concentra mais desses trabalhadores de rua registrados legalmente, no entanto, ganhou inscritos, passando de 1.080 para 1.099, um aumento de 2%.

Já um esquema que gozava até de favorecimento policial, na Rua dos Aimorés, no mesmo bairro, não ocorre mais. A ação se dava nos arredores do Tribunal de Justiça Militar. Funcionários da corte tinham privilégios de vagas e de limpeza de seus veículos, que era manobrado por um casal de flanelinhas. O repórter do EM chegou a se passar por lavador de carro numa rua ao lado. Por interferir na lavagem costumeira do carro de um dos funcionários do tribunal, este acionou o cabo que fazia a guarda da unidade militar que coagiu a reportagem a aderir ao esquema.
 


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