
Quem percorre a MG-030 pode sentir um odor desagradável ao passar pelo quilômetro 12 da rodovia, no município de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que antes admitia como fonte do mau cheiro a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Vale do Sereno, instalada às margens da estrada, alega que o problema foi resolvido em dezembro de 2012. “Se o cheiro persiste, não é proveniente da ETE”, reforça o superintendente de Serviços e Tratamentos de Efluentes da Copasa, Eugênio Álvares de Lima. A explicação não convence moradores de casas e apartamentos vizinhos, que continuam a se queixar do fedor. Um grupo de associações e condomínios promete recorrer à Justiça contra a empresa.
Em matéria publicada em agosto do ano passado, o EM mostrou a insatisfação de moradores do Vale dos Cristais, uma das áreas mais nobres da Grande BH. No bairro, encravado em meio a extensões de mata atlântica preservada, o metro quadrado chega a custar R$ 600. Naquela ocasião, o superintendente Lima garantiu que o problema desapareceria em 30 dias. A solução, embora tenha tardado, veio no início de dezembro, segundo ele. Uma espécie de manta especial passou a cobrir reservatórios usados para fazer a limpeza do esgoto, que funcionavam a céu aberto. Ao longo do processo, um produto químico chamado Monox passou a ser empregado para reter partículas do gás sulfídrico (H2S), responsável pelo odor de podridão. A Copasa instalou ainda um filtro biológico à base de carvão vegetal e limalha de ferro. “Esse filtro transforma o gás em um produto que não tem mau cheiro”, explica Lima.
A única ETE particular na região recebe o esgoto escoado dos apartamentos dos condomínios Vila Gardner e Vila Hartt, geridos pela Odebrecht Realizações Imobiliárias, que garante não ter culpa pelo mau cheiro. “Nossa ETE é blindada. Seu reator anaeróbio não precisa de oxigênio para fazer o processo biológico de limpeza do esgoto. Todo o gás produzido é o metano, inodoro”, alegou a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa. Moradores incomodados com o fedor asseguram que ele é mesmo causado pela estação gerida pela Copasa. “Em algumas vezes que veio o cheiro, eu desci até a rodovia e parei ao lado das duas ETEs. É óbvio que o fedor sai da ETE da Copasa. Tenho olfato suficiente para perceber isso. Eugênio (Lima) está arrumando uma desculpa para se esquivar da responsabilidade”, retruca, impaciente, o advogado Walmir Braga, que mora no Residencial Nascentes.
Ação civil pública
Braga coordena a Frente do Vetor Sul, entidade que reúne condomínios e associação de moradores da região. “Nos próximos dias, a frente vai entrar com uma ação civil pública contra a Copasa. Vamos pedir a correção do problema e indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 1 bilhão. O valor tem que ser alto, pra ver se eles (Copasa) fazem alguma coisa”, diz o advogado. Ele relata que moradores do Nascentes são importunados quase todo dia. “O odor aparece mais à tardinha e à noite. Isso não melhorou em nada. Até na área de lazer (do condomínio) a gente sente”, conta. Nos condomínios vizinhos, as queixas se repetem. “Nas reuniões dos moradores, esse assunto costuma ser comentado. Você imagina a pessoa recebendo amigos para um jantar e entra esse cheiro? É horrível”, diz a síndica do Vila Gardner, a também advogada Sandra Nunes, que também atribui a culpa à ETE gerida pela Copasa: “A outra (da Odebrecht) é toda fechada”.
O médico Tácito Guimarães Sobrinho, de 68 anos, vive com a esposa e um filho em um apartamento de cobertura no Vila Grimm. “Você imagina eu recebendo alguém na minha casa, um amigo. De repente, passa aquele cheiro. Isso me constrange. O que vou explicar pra pessoa? Que não soltei um pum? Ou fica calado, ou fala: ‘Ó, gente, isso é a Copasa’”, diz Tácito. Segundo ele, a situação continua tão ruim quanto antes. “Não mudou nada. É quase todo dia, principalmente no final do dia. Na maioria das vezes, quando começa o fedor, eu fecho as janelas”, diz. Há sete meses, antes de se mudar para o Vale dos Cristais, a família do médico morava no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul da capital. “Não tínhamos sossego. Era barulho, insegurança. Viemos pra cá para dar um upgrade em qualidade de vida. Em frente à minha janela vejo o nascer do sol. A região é muito bonita, mas tem esse transtorno”, observa. E pergunta, inconformado: “O que temos que fazer para resolver isso definitivamente?”
