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Estado de Minas

Férias tiram 757 mil alunos do trânsito e deixam ruas de BH vazias

O número de pessoas fora das ruas é como se todos os habitantes de Contagem e Sabará, na região metropolitana, ficassem o mês inteiro de folga


postado em 13/01/2013 06:00 / atualizado em 13/01/2013 07:24

Palco de movimento frenético de carros, Praça Sete vive um mês de tranquilidade(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)
Palco de movimento frenético de carros, Praça Sete vive um mês de tranquilidade (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Talvez em um único momento do ano xingamentos e palavrões não sirvam para qualificar o trânsito de Belo Horizonte. Janeiro opera maravilhas nas ruas e avenidas da capital, onde 11% da frota (166 mil veículos) deixam de circular e 2 mil viagens de ônibus deixam de ser feitas diariamente. Apenas em BH, as férias escolares, principal responsável pelo esvaziamento no tráfego, dispensam 757 mil alunos (quase um terço da população da cidade), do maternal ao ensino superior, do deslocamento até as salas de aula. É como se todos os habitantes de Contagem e Sabará, na região metropolitana, ficassem o mês inteiro de folga. O impacto representa redução de mais da metade do tempo de viagem no Centro de BH, como o Estado de Minas constatou ao percorrer quatro trechos no perímetro da Avenida do Contorno.


Apesar de especialistas considerarem uma missão impossível repetir a calmaria de janeiro em outras épocas, as férias ensinam lições ao apontar os problemas a serem atacados e reforçar a necessidade de tirar os carros das ruas. De olho nesses motoristas que orbitam em torno das escolas, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) prepara campanha para incentivar caronas e o uso do transporte escolar e cogita também o escalonamento de horários de entrada e saída das turmas nos colégios.

Segundo a BHTrans, atualmente os 2.170 ônibus e vans escolares cadastrados transportam apenas 65 mil estudantes, nem 10% do total. Segundo o Ministério da Educação (MEC), há 573 mil alunos na educação básica e 184 mil matriculados no ensino superior em BH.

“A ideia é diminuir o forte impacto das escolas no trânsito, incentivando os pais a dar carona aos alunos vizinhos, respeitarem as leis do trânsito e, quando possível, contratarem especiais. Outra questão considerada é que as turmas entrem e saiam em horários diferentes”, defende o presidente do Sinep, Emiro Barbini.

Além de coibir o desrespeito às normas, o consultor de transporte e trânsito Silvestre de Andrade considera o escalonamento uma medida interessante. “Com o objetivo de fugir dos picos, a entrada e saída da educação infantil, que mobiliza mais motoristas, poderia ocorrer mais cedo. Os colégios de uma mesma região poderiam começar as aulas em horários distintos”, comenta.

Trabalho e escola representam os dois principais motivos para que as pessoas saiam de casa, de acordo com o coordenador técnico da pesquisa Origem-Destino da Região Metropolitana de BH, Paulo Rogério Monteiro. O estudo está identificando as principais demandas de transporte, horários e motivações para os deslocamentos.

O gerente de simulação de transportes e trânsito e programação semafórica da BHTrans, Marcos Antônio de Oliveira, explica que, além de menos veículos em circulação, em janeiro o comportamento das pessoas se altera. “As férias eliminam o movimento casa-escola e os horários de pico da manhã e da noite ficam menos acentuados. Mesmo quem não está viajando, por não ter que levar o filho ao colégio, acaba saindo mais tarde de casa”, diz.

HORIZONTE E como alcançar a paz no trânsito de janeiro em outras épocas? “As férias são uma exceção, mas não há como ter um panorama diferente sem um processo de migração do transporte individual para o coletivo, seja por ônibus, metrô ou até mesmo carona”, afirma Paulo Rogério. Assim como no caso das escolas, ele aponta o escalonamento de horários de trabalho como alternativa, além do pedágio urbano, modelo adotado por capitais como Londres. “Você controla o acesso dos carros nas áreas mais congestionadas da cidade, dificultando o acesso a partir da cobrança”, lembra.

O pedágio urbano ainda não está em questão em BH, que tem apostado no sistema de transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) para estimular motoristas a deixarem os carros na garagem. Atualmente, 1,5 milhão de pessoas usam o sistema convencional de transporte coletivo na capital, e a estimativa inicial é de que 700 mil pessoas usem o BRT.

Previsto para ser concluído no ano que vem, o sistema vai operar nas avenidas Cristiano Machado, Antônio Carlos/Pedro I e na área central. “No pico da tarde, a estimativa é de que 650 ônibus deixem de circular no Centro de BH e que o tempo das viagens seja reduzido em 40%”, avalia o gerente da BHTrans, lembrando também do projeto do metrô.

Está previsto para meados deste ano o início das obras de expansão do metrô, que inclui a ampliação da Linha 1 (Vilarinho/Nova Eldorado) e a construção da Linha 2 (Barreiro/Calafate) e da Linha 3 (Lagoinha/Savassi). As obras custarão quase R$ 3 bilhões e devem ser concluídas até 2017, mas nem assim garantirão o “trânsito de janeiro” ao longo de todo o ano em BH. “Quando há uma melhora no trânsito, há também a tendência de os motoristas voltarem a usar o carro. Além disso, a frota está explodindo e tem crescido 10% em média a cada ano”, ressalta Oliveira.

 

 

 

 

6 PROPOSTAS

PARA melhorar o trânsito de BH

1- Investir em transporte de massa

2- Incentivar o transporte escolar

3- Escalonar o horário de entrada e saída nos colégios

4- Cobrar pedágio de carros na área central

5- Flexibilizar os horários de trabalho

6 - Morar perto da escola ou do trabalho

 

 

Palavra de especialista

Ronaldo Gouvêa
professor do Departamento de Engenharia de Transporte da UFMG

Maior estímulo ao
transporte coletivo

A situação do trânsito em janeiro é atípica e uma exceção, pois é quando a maioria das pessoas tira férias com as escolas. Não é possível alcançar esse padrão, mas também não há milagre para fazer o tráfego melhorar e a solução tem de ser pensada a partir do incentivo ao transporte público de qualidade. Um ônibus transporta de 35 a 50 pessoas. Um vagão de trem carrega cerca de 100 pessoas. No caso do transporte escolar, só uma van eliminaria quase 15 carros na porta do colégio. As escolas poderiam também ajustar seus recuos para acomodar melhor esses veículos coletivos. Outra medida descentralizadora, mas nem sempre viável, é procurar trabalhar ou estudar mais perto de casa.


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