
Na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no território de bairros como Luxemburgo e Vila Paris, havia uma floresta de densa vegetação, rica em espécies nativas do cerrado. Com o tempo, a área, conhecida como Mata do Mosteiro, foi sendo ocupada por edifícios de apartamentos e outras construções. A prefeitura vem tendo dificuldade para conter o desmatamento do pouco verde que resta. Enquanto pedem fiscalização mais firme, moradores da vizinhança têm à disposição um parque municipal que, aberto ao público, ainda é pouco conhecido e frequentado. Em 1949, um grupo de monjas beneditinas instalou na área o Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, que deu nome à floresta do entorno e à Rua do Mosteiro, o endereço atual do prédio. Permite-se a entrada de visitantes, que podem conhecer as capelas e outras instalações. O terreno abriga uma das porções mais bem preservadas da mata, mas o acesso a essa parte é exclusivo às religiosas em condição de clausura. Algumas chácaras e sítios particulares também mantêm algo da antiga exuberância.
Porém, o único fragmento remanescente aberto ao público está guardado no Parque Mosteiro Tom Jobim, no Bairro Luxemburgo. Inaugurado em 2001, o parque – o nome homenageia o célebre músico carioca Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927–1994) – tem 6.472 metros quadrados, e recebe pelo menos 100 visitantes por dia, geralmente moradores da vizinhança. “O parque é um dos mais bem conservados da capital. Merece mais apreciadores”, avalia a chefe do Departamento de Parques da Região Centro-Sul, Tatiani Cordeiro. Para ter uma ideia, o Parque Municipal Américo Renné Gianetti, no Centro, o principal da cidade, recebe em média 20 mil pessoas por dia, dos quais muitos passantes.
O parque Tom Jobim abriga pelo menos 50 espécies de árvores, a maior parte delas nativa do cerrado, como ipês, guapuruvu, pau-jacaré e sangradeira e muito bambu e ficus. Ainda são cultivados pés de fruta herdados da chácara que ocupava a área, como bananeiras, mangueiras, goiabeiras, ameixeiras e pitangueiras. Também há cerca de 30 espécies de plantas ornamentais, entre elas maranta, moreia, costela-de-adão e jasmim-do-cabo. Um dos canteiros é tomado pelo amarelo das flores de outras espécies. Em outro, impera o vermelho das flores das alpinias.
Para as crianças, o parque oferece playground com gangorra e outros brinquedos. Uma quadra de areia se destina à prática de vôlei e peteca. Em alguns recantos, há bancos e mesinhas circulares. A fauna é composta por dezenas de espécies, como micos, gambás, insetos e aves, como beija-flor, pica-pau, rolinha e bem-te-vi. Moradora há 24 anos de um edifício em frente ao parque, a aposentada Maria Zélia Rocha, de 64 anos, extasia-se quando as maritacas alçam voo no final da tarde. “Elas saem em bandos de umas 100 ou 200. É uma beleza”, diz. “E os ipês, quando ficam amarelinhos, são uma maravilha”, acrescenta.
De vez em quando, Zélia vai ao parque para passear com sua cadela, Maggie. Ao andar pelas cercanias, a mulher se entristece ao perceber que a área verde tem ficado menor. “Quando passei a morar na região, quase não havia prédio; era tudo mato. Foram destruindo, destruindo... É o progresso, né?”, resigna-se. Ela se lembra de quando a antiga chácara da frente foi desmembrada. Cedida a uma construtora, uma parte deu lugar a três edifícios altos. No mesmo terreno, o parque foi instalado como compensação ambiental ao empreendimento. “Fizemos um abaixo-assinado para tentar barrar a construção de espigões. Eu, outros moradores e um padre chegamos a fazer orações dentro da mata, para ver se sensibilizávamos a construtora. Mas não houve jeito”, lamenta.
