Minas Gerais vai a Brasília cobrar do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) a mudança na legislação que define o tempo mínimo para as aulas práticas do curso de formação do condutor. A iniciativa da discussão é do Departamento de Trânsito de Minas Gerais que há um ano tenta conquistar o apoio de outros estados. Segundo o coordenador de Habilitação do Detran-MG, Anderson França Menezes, Paraná, São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Rio de Janeiro já aderiram à proposta de ampliar de 20 para 40 horas/aula o tempo mínimo exigido nas aulas práticas. Nas ruas, os candidatos a motorista e instrutores de autoescolas também consideram o tempo curto para aprender tanta coisa importante.
“Somos considerados muito rigorosos mesmo. Nosso índice de aprovação é de 30% a 40%. O problema do trânsito no país é a educação e ainda acho que o condutor deveria ter dois anos de permissão para dirigir, em vez de um só. O primeiro ano do condutor é um período de experiência. Ele precisa ter cuidado, transitar primeiro nas vias urbanas, respeitando as leis de trânsito, antes de pegar a rodovia, por exemplo”, diz o coordenador do Detran-MG.
Com 18 anos de experiência no processo de formação de candidatos à carteira nacional de habilitação (CNH), o instrutor de autoescola Wilder Félix Soares faz duras críticas às regras impostas pela legislação. Acha que o tempo mínimo exigido é curto e que a proibição de circular em vias de maior movimento atrapalha a formação integral do aluno. “O tempo destinado à parte teórica é suficiente, mas as 20 horas/aula de prática na rua não são suficientes. Deveria ser pelo menos o dobro”, afirma.
INSEGURANÇA Em Belo Horizonte, os locais para treinamento de direção veicular são restritos. As aulas, segundo Wilder Soares, não podem ser feitas, por exemplo, dentro da Avenida do Contorno, em vias arteriais – onde a velocidade máxima é de 60 km/h, e no Anel Rodoviário. “Ainda que o aluno faça 20 aulas e passe no exame, ele não tem nenhuma condição de pegar uma rodovia, como o anel, e vai se sentir inseguro nas ruas mais movimentadas”, diz.
Sudano foi instrutor do estudante Thiago Rocha Lage, de 19 anos, que morreu este mês em um acidente na BR-356, em frente ao Shopping Ponteio. O rapaz, que tinha apenas uma semana de carteira definitiva, morreu quando o carro que ele dirigia saiu da pista e bateu em uma árvore. Quando soube da notícia, o professor ficou surpreso. “Ele era um aluno que dirigia bem. Fez mais de 30 aulas e passou por dois exames. Saiu daqui preparado, ao contrário de quem faz apenas 20 aulas”, frisou.
APRENDIZES Em fase de preparação para tirar carteira, a analista de comércio exterior Mariana Machado Zupo, de 26, concorda com decisão do Detran-MG de pedir revisão da quantidade de aulas práticas. “O dia a dia na rua é bem diferente daquilo que aprendemos na autoescola em 20 horas/aula.” A colega Ana Vitória Mabeira, de 18, que é estudante, tem a mesma opinião. “O tempo é muito curto para aprender tanta coisa”, afirma.
Na fila para tirar a carteira de motorista, o fotógrafo Ricardo Santos, de 23, afirma que o tempo máximo depende também do empenho do aluno. “Aquele que realmente se dedica pode aprender com mais facilidade.” O rapaz, no entanto, já sabia dirigir quando entrou na autoescola. Já fez 25 aulas de direção, mas não conseguiu passar em dois exames: “Perdi por ter esquecido de atender regras de sinalização”. Ao lado, a instrutora dele, Cléusia Soares, alertou: “Pode parecer uma coisa simples, mas deixar de olhar pelo retrovisor pode ser a causa de um acidente. Defendo que o tempo de formação seja maior, para que o aluno se acostume com todas essas regras e se sinta seguro para trafegar com trânsito pesado”.