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Estado de Minas

Duas cidades da Grande BH revelam extremos do desenvolvimento

Enquanto em Sarzedo número de moradores cresce, Baldim encolhe e o reflexo são municípios com realidades diferentes, como trânsito intenso de um lado e muita calmaria de outro


postado em 11/09/2012 06:00 / atualizado em 11/09/2012 06:42

Mais habitantes, mais carros: Sarzedo, no Oeste da Grande BH, está vivendo dramas parecidos com os da capital, mas ofertas de emprego atraem cada vez mais gente(foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
Mais habitantes, mais carros: Sarzedo, no Oeste da Grande BH, está vivendo dramas parecidos com os da capital, mas ofertas de emprego atraem cada vez mais gente (foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)


Os dois se emanciparam num mês de dezembro. Um em 1948 e o outro 47 anos depois, em 1995. Um vive o fervor da adolescência com seus 16 anos, e tem cotidiano agitado, o mais velho encara a vida pacata da terceira idade. Em comum, têm a localização: a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Na porção Oeste está Sarzedo, distante 29 quilômetros da capital e já absorvendo costumes e desafios de cidade grande. São congestionamentos que batem à porta e novos moradores que chegam de vários cantos levando na mala uma mistura de hábitos e sotaques. Por outro lado, no Vetor Norte, Baldim vê sua população partir em busca de oportunidades em cidades da região e em BH, a 142 quilômetros. Vão em busca de formação técnica e superior, além de emprego, já que os postos de trabalho abertos na cidade não absorvem todos os moradores. O cotidiano vivido pelos dois municípios é o retrato do contraste visto nas estatísticas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sarzedo teve o maior crescimento populacional (4,99%), desde 2010, entre as 34 cidades da RMBH, enquanto Baldim “encolheu”, tendo um decréscimo de 0,45% no número de habitantes no mesmo período.

E não é preciso ser especialista para notar as diferenças. Em Sarzedo, em uma simples volta no Centro da cidade dá para ver o crescimento populacional. Carros se misturam a ônibus, caminhões que transportam minério, bicicletas, carroças e pessoas. Muitas pessoas. Quem está a pé precisa atentar ao vaivém dos veículos. Motoristas precisam de paciência, pois as retenções no trânsito são inconvenientes que passaram a fazer parte do dia, lentidão mais comum no início da manhã e no fim da tarde, mas também registrada quando o trem da concessionária MRS cruza o centro comercial.

Pela MG-040, as várias construções no trajeto até a Região do Barreiro, na capital, fazem parecer que Sarzedo se tornou uma extensão de Belo Horizonte. Coordenada apenas geográfica, já que o tempo gasto para ir de uma cidade a outra exige uma folga no relógio – em média 40 minutos. Com o aperto do trânsito a distância parece ser maior e pode dobrar. Pela BR-381, passando por Betim, os diversos acidentes registrados diariamente podem fazer da viagem um verdadeiro calvário.

Ainda assim, muitos se arriscam no vaivém metropolitano, uma das razões que fizeram a população de Sarzedo saltar de 25.814 pessoas, em 2010, para 27.104 moradores neste ano, segundo a estimativa do IBGE. “Estamos muito próximos da Região do Barreiro e como lá os preços do mercado imobiliário seguem a tabela da capital, muitas pessoas compraram seus lotes aqui”, explica o prefeito Marcelo Pinheiro do Amaral.

Novos moradores também chegaram de cidades vizinhas a Sarzedo atraídos por oportunidades de emprego nas mineradoras, empresas que se firmaram no Distrito Industrial ou pelos postos de trabalho abertos no setor de serviços. Caso do operário Jonas Lázaro Mendonça, que deixou de lado o difícil deslocamento diário entre Sarzedo e o Bairro Água Branca, em Contagem, e adquiriu novo endereço. Ele conta que vários colegas da empresa tomaram a mesma decisão. “Muita gente se mudou de Betim, Belo Horizonte, Sabará e Contagem e veio morar em Sarzedo”, diz o operário, que afirma estar satisfeito com a escolha. “A vida aqui é boa. A cidade está movimentada e tem emprego”, conclui.

Teve gente que veio ainda de mais longe. O preparador de motor Julimar Coelho dos Santos, de 25, saiu de Rio Vermelho, na Região Central de Minas, atraído pela chance arrumar um emprego em Sarzedo. E está satisfeito. “Estou estudando, trabalhando, e com minha noiva comprei um carro e um terreno. A vida está prosperando”, contou.

Ritmo lento

No Vetor Norte, Baldim vê seus jovens completarem o ensino médio e irem embora, deixando a cidade deserta(foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)
No Vetor Norte, Baldim vê seus jovens completarem o ensino médio e irem embora, deixando a cidade deserta (foto: Marcos Michelin/EM/D.A. Press)


No outro extremo, Baldim é um município onde a calmaria ainda abre espaço para o canto dos pássaros, o bate-bola das crianças na praça e o despreocupado passeio de bicicleta. Ali, a vida anda devagar e a velocidade dos passos vem diminuindo ano a ano. Movimento que reflete na população. Há quatro décadas, nos anos 1970, o município tinha cerca de 10 mil moradores. Reduziu a marcha e, duas décadas depois, nos anos 1990, chegou próximo aos 8 mil, número que manteve até 2010. Neste ano, viu sua população diminuir ainda mais. Baldim foi o único município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) que registrou queda nos índices de população e hoje tem 7.877 moradores circulando por suas ruas tranquilas com clima de interior, segundo dados do IBGE.

A explicação para o movimento contrário ao dos outros 33 municípios que formam a Grande BH, está na ponta da língua de seus moradores. “A população jovem deixa a cidade quando termina o ensino médio. Vão estudar fora e saem em busca de emprego”, explica a autônoma Lucinéia Moreira, de 42. A baldinense, que se mudou da sua terra natal para Sete Lagoas quando melhores oportunidades profissionais surgiram para a família, matava a saudade de um encontro familiar na Praça Emílio Vasconcelos, no Centro de Baldim, na semana passada. O costume, explica ela, é partir para Belo Horizonte, Pedro Leopoldo, Matozinhos, além de Sete Lagoas. “Quem quer ter uma formação especializada precisa sair porque aqui não tem faculdade. Quando a pessoa se forma, não tem como permanecer em Baldim, já que não terá campo para trabalhar em determinadas áreas”, disse Lucinéia, citando o exemplo dos filhos, formados em psicologia e administração de empresas. “Eles nasceram aqui, mas foram estudar fora e vão ficar trabalhando por lá”, disse.

Deslocamento

Na mesa ao lado da família de Lucinéia, a estudante do 4º período de gestão ambiental Daniela Soares, de 24, concordou. A jovem viaja diariamente para Sete Lagoas para cursar a faculdade e trata o vai e vem como um investimento no futuro profissional. “Prefiro ir todo dia do que ficar sem estudar. Só fica aqui quem ‘tem a vida feita’, é funcionário público ou empresário que tem seu próprio negócio. Como preciso trabalhar, quero garantir uma boa formação”, conta. E diz não ter dúvidas sobre quais são seus planos para depois que se formar. “Pretendo ir embora para Belo Horizonte. Baldim, só depois, quando me aposentar.”

Apesar dos postos de trabalho ofertados por três metalúrgicas e pelas 12 fábricas de doce de pequeno porte instaladas em Baldim, o prefeito Ivan Diniz reconhece o movimento migratório. “Muitas pessoas saem para trabalhar nas empresas de Sete Lagoas e voltam para passar o fim de semana em Baldim. Cerca de 30% da população retorna no sábado e domingo”, disse. O prefeito questiona os dados do IBGE e diz que pediu uma reavaliação do levantamento.

 
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Capital está saturada
Luciene Longo - demógrafa do IBGE

A estimativa da população dos municípios foi feita com base nos dados dos censos de 2000 e 2010 e nas projeções de crescimento dessas cidades ao longo da década. O que se percebe na Região Metropolitana de Belo Horizonte é que a capital está cada vez mais saturada, com poucos terrenos e com valores de mercado mais altos do que os das cidades do entorno. Com isso, as pessoas têm cada vez mais deixado BH e se mudado para a região metropolitana, como o que se vê em Sarzedo, onde a população cresceu. No caso de Baldim, onde ocorreu o contrário, talvez seja outro fenômeno, já que muitas pessoas podem ter migrado para a cidade vizinha de Sete Lagoas para estudar ou trabalhar em empresas da região. De todo modo, é sempre comum que o crescimento populacional de um município esteja ligado a uma questão econômica, ao surgimento de uma indústria e à geração de empregos.


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