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Estado de Minas

BH tem corrida à cirurgia bariátrica

Número de cirurgias bariátricas explode em BH depois que técnica menos invasiva passou a ser coberta por planos. Apesar de recomendadas como última opção, operações no SUS também experimentam escalada


postado em 08/08/2012 06:00 / atualizado em 08/08/2012 06:47

A possibilidade de um procedimento menos invasivo, por meio da videolaparoscopia, fez explodir a procura pela cirurgia bariátrica em Belo Horizonte. A oferta do serviço passou a constar no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) este ano e, para quem sofre de obesidade mórbida, significou o fim de uma intervenção mais agressiva no organismo, como a representada pelo método convencional. Segundo estimativas da Sociedade Mineira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, houve aumento de aproximadamente 50% no número de intervenções após a mudança. Somente em Belo Horizonte, são feitas em média 100 delas por mês na rede particular. Isso representa 1.150% a mais que todos os procedimentos feitos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por oito cirurgias mensais, em média, na capital mineira. Apesar da desproporção e de a intervenção cirúrgica ser recomendada como última opção no combate à obesidade, as operações no sistema público também aumentaram em 100% nos últimos quatro anos, mesmo sem as facilidades da técnica mais moderna.

O presidente da Sociedade Mineira de Cirurgia Bariátrica, Otaviano Augusto de Paula Freitas, explica que muita gente que não queria se submeter a um procedimento mais agressivo tomou coragem a partir da disponibilidade da nova intervenção. Enquanto o método convencional demanda um corte de mais de 20 centímetros acima do umbigo, o outro introduz uma câmera no abdômen, sendo feitos cortes de no máximo 1,5cm na pele. “Com isso, a dor no pós-operatório é muito menor, o conforto é maior e a pessoa pode retomar as atividades profissionais mais rapidamente. Algumas complicações, como a hérnia que surgia quando a ferida grande não cicatrizava, passaram a ter incidência menor”, afirma o cirurgião.

Em todo o país, são feitas 60 mil intervenções anualmente na rede particular. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, das quase 60 mil intervenções feitas em 2010 no Brasil, 35% foram feitas por videolaparoscopia. A taxa de mortalidade média é de 0,23% – abaixo do índice de 1% estabelecido como tolerável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) –, contra 0,8% a 1% da cirurgia aberta (laparotomia).

A rapidez do processo na rede privada também é outro motivador. É preciso de um a dois meses para que o paciente se submeta à cirurgia. No SUS, o tempo médio de espera é de três anos e meio. O primeiro passo é uma consulta com um cirurgião, que vai analisar se a pessoa se enquadra nos critérios de indicação cirúrgica: ter índice de massa corporal (IMC) acima de 40 ou superior a 35, desde que apresente doenças como hipertensão, diabetes e artrose nos joelhos. O candidato também deve ter mais de dois anos de obesidade mórbida, não ter conseguido sucesso em tratamentos anteriores e ter idade entre 18 e 65 anos. O cirurgião encaminha para outros profissionais – endocrinologista, cardiologista pneumologista, nutricionista, fonoaudiólogo, psicólogo e psiquiatra –, que deverão manifestar se estão de acordo ou não com a cirurgia. Apesar do acesso facilitado, Otaviano Freitas ressalta que a doença tem que justificar o risco da cirurgia: “Não é um procedimento para ser feito por estética. É para tratar uma doença, a obesidade mórbida”.

A demanda por soluções extremas em matéria de emagrecimento faz parte de um cenário mais complexo, que sobrecarrega o sistema de saúde. O número de obesos tem crescido a cada ano no país e, em BH, representa 14,2% da população. “O tratamento preventivo é a principal alternativa. São necessárias, por exemplo, campanhas para melhorar a alimentação. Hoje temos uma oferta de alimentos calóricos de fácil distribuição e, por outro lado, temos o sedentarismo e a obesidade seguindo em alta”, diz o médico Otaviano Freitas.

Sucesso e risco

A dentista Fernanda Lobo comemora sucesso na intervenção, mas perdeu irmã por complicações em cirurgia semelhante e recomenda cautela a candidatos(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
A dentista Fernanda Lobo comemora sucesso na intervenção, mas perdeu irmã por complicações em cirurgia semelhante e recomenda cautela a candidatos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Obesa desde a infância, a dentista Fernanda Lobo, de 50 anos, lutou mais de 30 anos para emagrecer. Fez dieta, promessa e, em uma tentativa desesperada, foi até em pai de santo. Por fim e com 113 quilos distribuídos em 1,61 metro de altura, decidiu se render à cirurgia. “Foi a decisão mais acertada da minha vida. Hoje, com 64 quilos, sou feliz e tenho uma rotina normal. Lógico que com restrições alimentares. Antes comia até 1 quilo, e hoje, menos de 200 gramas. Como pouco e devagar. Não gosto de comer na rua, onde todo mundo está apressado. Mas ganhei em qualidade de vida”, disse.

A felicidade de Fernanda só não foi completa porque a irmã, também obesa, não resistiu à cirurgia. “Ela não bebia, não fumava, fazia atividade física e era muito mais saudável do que eu. Mas, no segundo dia do pós-operatório, sofreu uma embolia, um dos pontos da cirurgia se rompeu e ela faleceu”, disse. Sobre a corrida pela busca do procedimento, a dentista faz um alerta: “Acho que se deve esgotar as possibilidades antes de procurar essa opção. Há muitas pessoas preguiçosas que não fazem isso. Quem não está apto ou não entende os riscos acaba sofrendo depois da cirurgia”.
 


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