(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Cemitério do Bonfim, o mais antigo de Belo Horizonte, terá visitas guiadas no domingo

Considerado um museu a céu aberto, apreciadores vão conhecer túmulos esculpidos em mármore, bronze e granito


postado em 19/06/2012 06:00 / atualizado em 19/06/2012 07:47

Arte em forma de túmulo: Cemitério do Bonfim tem grande patrimônio em suas alamedas(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Arte em forma de túmulo: Cemitério do Bonfim tem grande patrimônio em suas alamedas (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Para a maioria das pessoas, cemitérios remetem à tristeza e ao sofrimento. Mas há quem visite o “lugar dos mortos” para apreciar obras de arte e parte da história depositadas ali. Em Belo Horizonte, a primeira experiência desse tipo será feita no domingo, quando uma visita guiada ao Cemitério do Bonfim, na Regional Noroeste, levará 30 pessoas para apreciar as esculturas expostas em suas alamedas. Quem imagina que o convite não despertou interesse se engana: as vagas estão esgotadas e já há uma lista de espera de mais de 20 pessoas. A proposta é valorizar o patrimônio cultural do Bonfim, considerado um “museu a céu aberto”, a ponto de torná-lo parte do roteiro cultural e turístico da cidade, como ocorre em cemitérios como o Recoleta, em Buenos Aires, ou o Père Lachaise, em Paris.

“Quem for à visita guiada vai encontrar um espaço singular, com um acervo riquíssimo que não pode ser visto em outro lugar”, diz a organizadora da visita, Marcelina Almeida, professora de história na Faculdade Estácio de Sá e na de designer da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). “Também vai conhecer histórias ímpares do ponto de vista etnográfico e religioso, como os túmulos de devoção marginal, aquelas que não são oficializadas pela igreja”, acrescenta.

Carlos Alberto de Morais Queiroz, de 43 anos, ficou interessado pelo Bonfim depois de ver uma exposição de fotos do cemitério no Museu Abílio Barreto e aproveitará a visita guiada para conhecer o acervo. “Sou administrador e fiz algumas disciplinas no curso de turismo quando descobri que na Europa os cemitérios são verdadeiras atrações turísticas. Fiquei muito interessado nesse projeto e me inscrevi porque quero saber mais sobre a história do Bonfim e fotografar os túmulos”, justifica. Outra que estará na visita guiada de domingo é Lilian Carvalho, de 36, estudante de história que atualmente trabalha em um projeto sobre a presença de artistas italianos em Belo Horizonte. “Muitos deles fizeram esculturas para os jazigos do Bonfim. Para a maioria das pessoas o cemitério tem uma coisa negativa, mas com esse trabalho acho que elas vão ver um outro lado bem menos sombrio”, opina.

Beatriz Freitas, de 68, estava no Bonfim na tarde de ontem procurando um zelador para o túmulo da família. Para ela, o cemitério é um patrimônio da cidade. “Aqui é belíssimo, tem o peso da morte e a leveza da flor”, definiu. Rosângela Assunção Malta, de 52, vai ao Bonfim todos os dias desde 1986. Entre os túmulos, logo na entrada do cemitério, ela montou a banca onde grava nomes em lápides de granito. “Eu acho muito bonito isto aqui. Para muita gente pode significar tristeza, mas, se você olhar bem, tem muita beleza, trabalhos que não se fazem mais, é muito rico”, diz Rosângela.

MEMÓRIA

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
O Cemitério do Bonfim é o primeiro e mais tradicional cemitério de Belo Horizonte. Sua história se confunde com a da própria cidade. Seu traçado foi projetado sob supervisão técnica da Comissão Construtora da Nova Capital e é semelhante ao da cidade que acabara de nascer. Os primeiros jazigos monumentais também foram feitos por artistas e ateliês envolvidos na construção de prédios públicos e residências ilustres na recém-inaugurada capital.

Entre tantos escultores e marmoristas cujas obras se destacam nos túmulos do Bonfim – e também em pontos diversos de Belo Horizonte – o austríaco João Amadeu Mucchiut é o mais reverenciado. “Ele era um gênio, de um primor artesanal e uma delicadeza incomparável”, analisa a professora Marcelina Almeida. Autor de dezenas de esculturas de destaque no cemitério (incluindo as de seu próprio mausoléu), Mucchiut assina a fachada da Igreja de Lourdes e da Academia Mineira de Letras, assim como o altar-mor e a lateral da Igreja São José. Outros artistas também têm presença marcante no acervo do Cemitério do Bonfim, como os irmãos Natali, João Scuotto, Carlo Bianchi, Gino Ceroni, Nicola Dantolli, Antônio Folini, Lunardi, Alfeu Martini e José Scarlatelli.

As obras refletem duas fases do Bonfim. A primeira, da inauguração até as décadas de 30 e 40, tem túmulos e elementos artísticos predominantemente em mármore. A maior parte das posteriores a este período é em bronze ou granito preto. Um dos mausoléus mais suntuosos é o de Raul Soares. O altar em bronze e granito foi esculpido pelo italiano Ettore Ximenes, artista com forte inclinação para a temática mitológica e autor de obras na Itália, Estados Unidos e Argentina. No Brasil, um de seus trabalhos de maior destaque é o Monumento à Independência, em São Paulo, trabalho que assina com o arquiteto Manfredo Manfredi.

Grande parte das personalidades da política mineira estão enterradas no Bonfim, entre eles os ex-governadores mineiros Silviano Brandão, Benedito Valadares, Raul Soares e Olegário Maciel, o ex-senador Bernardo Monteiro e o ex-prefeito Cristiano Machado. Inicialmente, a prefeitura programou apenas uma visita, mas quem quiser deixar o nome na lista pode entrar em contato por meio do telefone 31-3277-5398 ou e-mail agendaparques@pbh.gov.br.

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


ACERVO SERÁ RESTAURADO

O programa Adote um Bem Cultural, da Prefeitura de Belo Horizonte, vai restaurar todo o acervo documental do Cemitério do Bonfim. Serão recuperados 21 manuscritos, divididos em Livros de Registro de Sepultamento, Livros de Protocolos de Processos, Livro de Arrecadação da Seção de Rendas Patrimoniais e Livro de Divisão de Patrimônio. O processo ficará a cargo do Instituto Cultural Flávio Gutierrez e o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), que atualmente detém a guarda do acervo, será o responsável pelo acompanhamento da restauração dos documentos. Cada um dos livros é composto, em média, por 500 páginas.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)