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Estado de Minas NOVOS JEITOS DE AMAR

Conheça as novas famílias mineiras

Modelo antigo da estrutura familiar divide cada vez mais espaço com situações diferentes: pais solteiros, casais unidos de maneira informal e casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É a família mosaico, que dá um basta aos preconceitos


postado em 03/06/2012 07:15 / atualizado em 03/06/2012 07:24

RETRATOS DA DIVERSIDADE: As três gerações da família Laborne, com enteados e filhos; Soraya Tofani, Ageeo Simões e os filhos dos casamentos anteriores; os recém-casados Rodrigo e Wanderson e Iracema, mãe de Wanderson; Paulo Barcala e o filho do segundo casamento, que tem a mesma idade do primeiro neto do publicitário; e Luiz Guilherme e Doralice, que optaram por não ter filhos
RETRATOS DA DIVERSIDADE: As três gerações da família Laborne, com enteados e filhos; Soraya Tofani, Ageeo Simões e os filhos dos casamentos anteriores; os recém-casados Rodrigo e Wanderson e Iracema, mãe de Wanderson; Paulo Barcala e o filho do segundo casamento, que tem a mesma idade do primeiro neto do publicitário; e Luiz Guilherme e Doralice, que optaram por não ter filhos

 

Durante a festa de aniversário de 10 anos de Pedro Henrique, os amigos do Colégio Santo Antônio se reuniram para cantar o Parabéns pra você. Depois da música, veio o complemento constrangedor: “Com quem será que o Pedro vai casar/Vai depender se o Pedro vai quereeer…” E a canção não parou aí. Os colegas do menino insistiram na continuação da melodia: “ Eles vão casar e ter um monte de filhos/E daí então o Pedro vai se separaaar!” Na época, a brincadeira soou interminável para a mãe do garoto, a publicitária Soraya Malheiros. Ela sim, estava se separando do marido, com dois filhos para criar. Além de Pedro Henrique, havia João Paulo, de 7 anos.

Esse episódio ocorreu há cerca de 10 anos, quando as separações eram menos aceitas em Minas Gerais. De lá para cá, o termo desquite deixou de existir, sendo substituído por divórcio. Entre 2000 e 2010, o número de divórcios mais que dobrou no estado: passou de 1,6% da população para 3,3%, segundo dados do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o fim dos casamentos, entram em cena os segundos relacionamentos e, consequentemente, os frutos dessa nova união e a convivência com os enteados, filhos das relações anteriores. É preciso criar um glossário para ajudar a entender os novos arranjos familiares, que incluem irmãos emprestados, “namorido” (namorado que vive uma relação conjugal com a mãe) e “boadrasta” (nova mulher do pai).

Os novos arranjos familiares em Minas são muitos: pais solteiros, casais sem filhos por opção, uniões estáveis e até o primeiro casamento gay de papel passado, que ocorreu este ano em Manhuaçu, a 278 quilômetros de Belo Horizonte, na Zona da Mata. Wanderson Carlos de Moura, de 34 anos, e Rodrigo Diniz Rebonato, de 18, se casaram e um adotou o sobrenome do outro.

Ufa, é tanta confusão que parece mais simples permanecer amando à moda antiga. “Há uma tendência a idealizar a família perfeita e a atribuir as dificuldades naturais da vida à separação dos pais. Se o modelo antigo, autoritário e patriarcal, era mais fácil de seguir, o novo modelo permite fazer escolhas”, compara Giselle Groeninga, psicanalista, doutora em direito civil pela Universidade de São Paulo (USP) e vice-presidente da Sociedade Internacional de Direito de Família (ISFL). Segundo ela, nos moldes antigos as questões homoafetivas, escapadas fora do casamento e o adultério costumavam ser tratadas com hipocrisia, repressão e sentimento de culpa. “Nos casais de hoje, instituições como a família, o Estado e a Igreja passam a ser separadas entre si e cada uma delas se fortalece”, completa.

Família margarina

Não quer dizer que a tradicional família mineira deixou de ser a “família-margarina”, formada por mãe e pai, filho e filha, que, pelo menos nas propagandas, parecem felizes para sempre. Segundo o Censo, porém, o número de casados caiu 5% em Minas e o grupo de pessoas que se unem informalmente cresceu quase 40% entre 2000 e 2010. De acordo com IBGE, elas já são quase um quarto da população. “As mudanças têm sido aceitas sem alarde, dentro do espírito da mineiridade. Mas elas têm acontecido”, lembra o advogado João Batista de Oliveira Cândido, especialista em direito de família.

Numa ampla casa do Bairro Cidade Jardim formou-se uma perfeita “família mosaico”, termo usado por especialistas ao se referirem às configurações familiares do século 21. No mesmo ambiente convivem “os meus, os seus e os nossos filhos”, como se costuma dizer. “Por mim, não teria me separado nunca. Para o homem, é difícil tomar a iniciativa”, declara o oftalmologista Luiz Alberto Laborne Tavares, de 51 anos, que terminou o primeiro relacionamento em 1999, depois de nove anos de união e dos filhos Pedro Henrique, hoje com 20 anos, e Lucas, de 19. O “namorido” calcula que sejam necessários quatro anos para administrar a situação. Ele passou a morar com a então namorada, a “boadrasta” Carina Ferreira, de 32, que já era mãe de Caio, de 14. Juntos, os dois tiveram Isabel, de 4 anos, que ajudou a unir os três “irmãos emprestados”.

De início, a situação gerou conflitos com os pais de Luiz Alberto, o oftalmologista Ângelo Laborne Tavares, de 90, e a professora de ioga Maria Tereza, juntos há 64 anos. Os ajustes, porém, foram feitos. “O tempo faz o seu curso e nós com ele vamos”, filosofa o patriarca, que diz escrever poemas até hoje para sua “menina”. Ela sorri e dá as mãos ao “filhinho”: “Cheguei a ter preconceito em relação às separações, mas entendo que eles queiram renovar a vida. Eu tive a sorte de encontrar a pessoa certa de primeira. Nós nunca brigamos.” (Com Andrea Castelo Branco e Tiago de Holanda)

5%
É o percentual de queda no número de casamentos

60 mil
É o número de casais gays no Brasil

3,3%
dos mineiros são divorciados

Glossário

>> Boadrasta Nova mulher do pai

>>Irmãos emprestados Filhos do primeiro casamento da madrasta ou padrasto que convivem na mesma casa

>>Namorido(a) Namorado(a) que vive uma relação conjugal com mãe (pai)

>>Família mosaico  Homem e mulher se apaixonam, namoram e decidem morar juntos. Só que ambos já foram casados e trazem filhos das relações passadas. É assim que nasce a ‘família mosaico’, termo usado por especialistas ao se referirem às novas configurações familiares

>> Abandono afetivo  um pai paulistano terá que pagar indenização de R$ 200 mil por danos morais decorrentes do abandono afetivo da filha, segundo decisão inédita do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O pai ainda poderá recorrer da decisão ao Supremo Tribunal Federal (STF).


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