As mineiras conquistaram mais espaço no mercado de trabalho na última década e passaram a ganhar mais. De 2000 a 2010, os ganhos delas aumentaram 127,2%, com o rendimento nominal médio mensal passando de R$ 419,8 para R$ 954,03. Esse crescimento fez com que o salário feminino se aproximasse do masculino, uma vez que no mesmo período o crescimento no rendimento dos homens foi menor: aumentou 118,1%. Mesmo assim, o salário das trabalhadoras, que equivalem a 47% da mão de obra empregada, ainda representa 68% do rendimento deles.
Em 10 anos, a variação foi de apenas 1,3 ponto percentual, o que, na avaliação da professora do Departamento de Ciência Política e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, demonstra uma segregação ocupacional definida pelo gênero. Segundo ela, embora as mulheres tenham melhorado o nível de instrução nos últimos anos, esse aperfeiçoamento não foi acompanhado de incremento proporcional na remuneração.
Esse é o cenário encontrado no mercado por mineiras como a demonstradora de produtos de beleza Débora Viana, de 23 anos, moradora de Contagem, na Grande BH. Casada há apenas oito dias – “Ainda estou em lua de mel”, brinca –, ela sabe que precisa continuar trabalhando para ajudar o marido. “Sozinho, ele não daria conta de manter a casa. Já havíamos combinado dividir as despesas”, contou. Trabalhando desde os 18 anos e com o segundo grau completo, Débora pretende estudar mais e ter filhos. “Mas, criança, só daqui a uns três anos”, afirma, lembrando que a vida está difícil para as famílias
Posição
Com a melhora no rendimento das mineiras na última década, Minas passou de 15º para 13º lugar no ranking nacional. Mas elas ainda ganham menos do que as mulheres de Goiás, Roraima, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Espírito Santo, Amapá, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. O salário das mulheres em Minas representa 88,8% da média nacional.
A demógrafa e coordenadora da Supervisão de Divulgação do IBGE em Minas Gerais, Luciene Longo, atribui a diferença aos salários praticados no interior de Minas, menores que os da capital, e às remunerações de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. “O salário das mulheres no interior puxa para baixo. Rio de Janeiro e São Paulo puxam a média brasileira para cima. Essas duas questões podem ter influenciado para que a média mineira fosse menor”, diz.
Na média nacional, as mulheres tiveram ganho real de 13,5% nos rendimentos e os homens, de 4,1%. O salário médio delas variou de R$ 982 para R$ 1.115. A diferença entre ganho real em nível nacional (13,5%) e o crescimento em termos nominais em Minas (127,2%) se deve a variáveis diferentes na análise. Quando se avalia os ganhos em termos nominais não se leva em conta a correção inflacionária no período dos 10 anos, considerando-se apenas o valor e não o que ele representa em termos reais. O IBGE não informou os dados referentes a Minas Gerais em ganhos reais.
O rendimento das mulheres acompanha outros indicadores de melhoria no mercado de trabalho brasileiro. Os dados demonstram redução na taxa média de desemprego, que passou de 15,3% em 2000 para 7,6% em 2010. Minas Gerais seguiu a tendência nacional. Em 10 anos, a população com mais de 10 anos que trabalha passou de 32,2% para 45,5%. No estado, a população economicamente ativa (PEA), formada por pessoas aptas a trabalhar ou procurando emprego, cresceu 19,2%. Já o percentual de pessoas empregadas cresceu 29,5%. Em um década, foram gerados 2,1 milhões de postos de trabalho e o rendimento médio subiu de R$ 559,51 para R$ 1.212,73
Palavra de especialista
Marlise Matos - coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher UFMG
A segregação permanece
É a primeira vez na história que nosso quadro de desigualdade social arraigado se altera. As mulheres são cerca de 48% da população economicamente ativa no Brasil. No entanto, vão para postos de trabalhos que socialmente são legitimados como femininos, profissões ligadas ao mundo do cuidado, que têm salários menores em comparação com ocupações masculinas. A melhoria na remuneração feminina é reflexo da maior escolarização. A relação mercado de trabalho e renda está ligada à escolarização. As mulheres superaram a defasagem educacional em relação aos homens, no entanto, proporcionalmente ainda tem remunerações menores. É um traço do Brasil. Em qualquer país, maior escolaridade aufere maior renda. Mesmo diante do acesso maciço das mulheres aos bancos escolares, a segregação ocupacional ainda existe.
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IBGE mostra que mulheres recebem salário melhor e eles ganham mais em Minas
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