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Estado de Minas

BH faz caçada ao mosquito da dengue

Levantamento aponta 72 municípios de Minas com alto e médio risco de infestação do Aedes aegypti


postado em 14/02/2012 07:01

Agentes de saúde constataram ontem risco de focos na casa do aposentado João Revert, no Bairro Guanabara(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Agentes de saúde constataram ontem risco de focos na casa do aposentado João Revert, no Bairro Guanabara (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

Vasos de plantas sem pratos, todos os recipientes virados com a boca para baixo e utensílios cobertos no quintal são precauções que o aposentado João Revert, de 73 anos, morador do Bairro Jardim Guananabra, Região Norte de Belo Horizonte, toma contra a dengue. Contudo, na manhã de ontem, quando os dois agentes de combate a endemias entraram na casa dele e levantaram a sacola que tampava um barril, a poça d’água transbordou. “A casa está bem limpa, mas é preciso tirar os plásticos”, alertou o agente Gilmar Nascimento. Porém, todo cuidado é pouco, e muitas vezes insuficiente. A capital está entre as 10 cidades com situação epidemiológica que mais preocupam o governo federal, pela concentração de casos. Trinta municípios de Minas são considerados de alto risco de contaminação e 42 de risco médio, incluindo BH, segundo a Secretaria de Estado de Saúde.

A incidência de casos por 100 mil habitantes passou de nove para 22,8 entre 1º de janeiro e de fevereiro de 2011 e 2012, de acordo com o Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (Liraa), divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. O resultado está acima da média de Minas Gerais (18) e do Brasil (21,2). Dos 536 municípios de 22 estados analisados, 356 têm alta presença do mosquito, sendo 91 em situação de risco de surto e 265 em alerta, principalmente na Bahia, Maranhão e São Paulo. Outras 180 cidades apresentam baixo risco de infestação.

Na blitz feita ontem na Região Norte da capital, que teve o maior número de notificações da doença em janeiro, de acordo com o Liraa, feito pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), foi constatado que o trabalho é duro, de formiguinha, mas que não pode haver trégua, pois os focos se escondem em pequenos locais. Em BH, segundo a secretaria, 3,1% dos imóveis pesquisados em janeiro contam com a presença do mosquito transmissor da dengue, ao passo que acima de 1% já é considerado um índice de infestação preocupante e que pode resultar em epidemia, conforme o Ministério da Saúde. Em alguns bairros, como o Esplanada e Pompéia, na Região Leste, o índice chega a alarmantes 7,99%. A região é a de maior índice médio, com 4,4%, e a Centro-Sul a de menor, com 1,7%.

“Neste momento o maior desafio é conciliar o trabalho dos agentes com a mudança de atitude da população”, afirmou o secretário-adjunto municipal de Saúde, Fábio Pimenta. “Essa época é problemática: a soma de mormaço, chuva e sol é condição favorável para a proliferação. Nestas condições leva-se no máximo duas semanas para se ter um ovo adulto. É preciso compreender o risco e participar efetivamente”, acrescentou.

Dono de lote vago foi notificado, por aviso, a providenciar limpeza, sob pena de arrombamento e multa(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Dono de lote vago foi notificado, por aviso, a providenciar limpeza, sob pena de arrombamento e multa (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)


DESCUIDO


De acordo com a secretaria, 78,5% dos focos estão nas residências e os locais onde são encontrados mais focos são latas, garrafas e recipientes plásticos, seguidos de vasos de plantas, barris e tambores. É um contingente de 1,5 mil agentes, muitas vezes em parceria com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), para orientar e descobrir os possíveis milhares de pontos.

Na casa da segurança Ruth Pereira, também no Jardim Guanabara, só o marido não teve dengue. Ela e os dois filhos já foram picados pelo mosquito e, de diferentes maneiras, reagiram à doença. “Tive uma coceira terrível, que mais parecia que tinha tostado no sol. Meu filho teve muita febre e a milha filha teve reações mais brandas”, conta. Tudo isso, segundo ela, serviu de lição e ontem resultou na nota 10 dada pelos agentes sanitários. “Sempre tivemos muito cuidado com a casa, mas estamos cada vez mais rigorosos. Cada um teria de fazer a sua parte. Vejo poças nas ruas, sobre o teto de concreto de pontos de ônibus. Toda vez que vou pegar condução fico preocupada”, diz.

Lotes vagos na vizinhança também assustam Ruth Pereira e não é por menos. Em sua rua, agentes deixaram aviso no portão de um lote que transbordava mato pelos muros. O notificação informa que a vistoria e eliminação de focos do mosquito transmissor não não puderam ser realizados em virtude da impossibilidade de acesso às dependências. Junto é deixado o número do telefone para que o proprietário entre em contato e faça um agendamento. Caso contrário, depois de três tentativas e publicação no Diário Oficial do Município (DOM), a entrada pode ser arrombada e o dono do imóvel multado.

MG já registra 3,5 mil casos


Os números para toda Minas Gerais também servem de alerta. Conforme levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde, o estado é o segundo com o maior número de notificações neste ano, com 3.531 registros, atrás somente do Rio de Janeiro, com 4.275 casos, que não tem nenhum município com risco de surto. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), dos 74 municípios que realizaram o Levantamento Rápido de Índices de Infestação para Aedes aegypti (Liraa) em 2012, 30 apresentaram alto índice de infestação (acima de 3,9% dos imóveis), 42 médio risco (entre 1% e 3,9%) e somente duas baixo risco – Conselheiro Lafaiete e Poços de Caldas.

“O resultado, se comparado com os dados de janeiro de do ano passado, mostra que dois terços dessas cidades mantiveram os mesmos índices ou abaixaram, porém um terço delas pioraram. O que chama a atenção são os tipos de depósitos, principalmente lixos, prato de plantas e recipientes. Uma parcela da população se mobilizou, mas muita gente ainda não”, destacou Geane Andrade, referência técnica em dengues da SES. Ela revelou que foram feitas 4.491 notificações de dengue em Minas neste ano até o momento contra 7.936 em igual período de 2011.

Neste mês, a secretaria convocou representantes de 30 municípios em situação crítica de infestação do Aedes aegipty, com o objetivo de reforçar o combate ao vetor e impedir o avanço da doença, que causou 23 mortes no estado em 2011. A média de infestação nessas cidades chega a 4,6%.

Para Andrade, Minas apresenta uma situação climática totalmente favorável ao mosquito, mas isso não pode ser usado como justificativa para 100% do problema, mesmo que o volume de água trazido pelas chuvas recentes tenha representado em algumas cidades o maior volume de água dos últimos 100 anos. “Temos ainda a introdução do sorotipo 4 do mosquito, confirmada em setembro do ano passado. E infelizmente, em Minas e em todo os país, temos uma evidência do aumento da letalidade da doença”, alerta.

SAIBA MAIS: PESQUISA ORIENTA COMBATE

O Liraa é uma pesquisa de verificação domiciliar por amostragem que revela o índice de infestação da larva do mosquito Aedes aegypti. Ele ajuda os municípios a acompanhar de forma rápida e atualizada a situação da infestação por ser instrumento de auxílio rápido na tomada de decisões dos gestores para o controle da doença. Os números apontam como as cidades estão distribuídas em todas as regiões do estado e o comportamento em cada uma das pesquisadas, o que espelha a evolução da infestação. Aponta, portanto, potencial de epidemia, se nada for feito para impedir.


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