
Nas mãos dos operários, as espátulas removem camadas de tinta e concreto, num trabalho árduo e minucioso. A cada vez, revelam-se no muro os tijolinhos em tom marrom, testemunhas de uma história encoberta há tempos por reformas e novos estilos. No ano do centenário, o Colégio Arnaldo, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, volta ao passado para se mostrar ainda mais imponente ao resgatar a história original. Esta semana, quem passar pela confluência das avenidas Brasil, Carandaí e Bernardo Monteiro, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital, vai notar algo diferente. A fachada começa a receber as cores em tom bege, de 100 anos atrás.
O estilo arquitetônico do prédio é o eclético. O colégio foi construído no início do século 20 e tem diversas influências, principalmente mourisca (árabe), verificada nos domos metálicos dos vértices da edificação. A restauração é resultado do plano diretor apresentado ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural Municipal. Como o prédio foi tombado pelo município há 15 anos, qualquer intervenção precisa de cuidadosa análise técnica e de autorização especial.
A reforma tem orçamento de cerca de R$ 6 milhões, segundo o assessor da direção do colégio João Guilherme Porto. Por enquanto, estão sendo feitas as obras apenas da parte externa da instituição, já que os recursos não foram levantados.
OBRA DE ARTE A parte de alvenaria está avançada e estão sendo feitos reparos também nas janelas. Nos detalhes da arquitetura, será preservada a cor branca. “Tivemos o projeto aprovado na lei estadual por dois anos, mas não conseguimos captar o dinheiro. Estamos caminhando na lei federal, mas o resultado ainda não saiu”, diz. Hoje, o único apoio é de uma fabricante de tintas, que doou o material da pintura. Ainda está no papel a restauração do teatro, com capacidade para cerca de 500 pessoas.
Entre os ex-alunos, há nomes ilustres, como os escritores Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Guimarães Rosa (1908-1967), o cirurgião plástico Ivo Pitangui, o ex-prefeito de BH e ex-ministro Patrus Ananias, os músicos Toninho Horta e Fernando Brant, juristas e empresários. “Estamos falando em preservar a história da cidade, do estado e até do país”, ressalta Porto.
O supervisor de logística da escola, Elias Aparecido de Resende, afirma que as obras devem durar pelo menos mais seis meses. Outras discussões sobre o restauro deverão passar pelo crivo do patrimônio histórico. “Esse é um presente para toda a cidade. No colégio, não parece que estamos em pleno século 21. Só andando pelos corredores e salas para sentir o piso, as paredes. Isso aqui é uma obra de arte”, resume.
Além da restauração, o centenário do Colégio Arnaldo prepara uma série de eventos comemorativos. Está previsto um livro com a história dos 100 anos, um torneio intercolegial e um ciclo de palestras. A ideia é promover, mensalmente, debates entre um ex-aluno ilustre e o público externo.
