(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Benefício da ampliação da Pedro II pode esbarrar no aumento de 40% no tráfego da via

Uma das obras mais aguardadas na capital, ligação da Avenida Pedro II com a Pampulha está quase pronta. A via não foi duplicada e pode não suportar o fluxo do trânsito


07/12/2011 06:00 - atualizado 07/12/2011 07:05

Como era: No fim da avenida, logo abaixo do Anel Rodoviário, Vila São José resistiu a décadas de promessas
Como era: No fim da avenida, logo abaixo do Anel Rodoviário, Vila São José resistiu a décadas de promessas (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press - 29/10/04)

Uma grande obra que fará esquina com um grande gargalo de trânsito. É a realidade que se desenha para a esperada extensão da Avenida Pedro II, obra em estágio avançado, que vai ligar o corredor da Região Noroeste de Belo Horizonte à Região da Pampulha. Mesmo sem a duplicação de suas pistas e com a desistência da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de implantar o transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês), que significaria uma redução do fluxo de coletivos, a via logo receberá 85 mil veículos por dia, de acordo com cálculos da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).

O fluxo será resultado da ligação entre a via e as avenidas João XXIII e Tancredo Neves, prevista para ser entregue em fevereiro. Segundo a BHTrans, o fluxo da via em horário de pico passará de 3.300 para 4.600 automóveis, motos, caminhões e ônibus por hora, um acréscimo nada modesto, de 39,4%. A empresa municipal de trânsito argumenta que o movimento será absorvido, por se tratar de um tráfego que já caía nas pistas, na ligação com a Avenida Carlos Luz, mas especialistas e a população veem mais engarrafamentos e transtornos pela frente.

Com os 85 mil veículos diários, a Pedro II se torna mais movimentada que a Avenida Tereza Cristina, que faz a ligação de Contagem, Anel Rodoviário, regiões Oeste e Barreiro com o Centro da capital. Por lá, são 80 mil veículos por dia. Mas, para suportar esse volume, a Tereza Cristina dispõe de três faixas em seus 10,5 quilômetros de extensão, entre os bairros Prado e Betânia. Já a Pedro II receberá trânsito maior, sendo que sua pista tripla compreende um trecho de apenas 1,6 quilômetro. O restante, em duas faixas, é de 5,4 quilômetros.

Apesar do gargalo, as intervenções são importantes para o trânsito da cidade. Pela ligação entre as três vias espera-se que o tráfego das regiões Pampulha e Noroeste seja aliviado e possa fluir melhor na ligação com o Centro, desafogando outras vias arteriais, como as avenidas Antônio Carlos, Carlos Luz e Abílio Machado. A intervenção vai beneficiar também o entorno de bairros como Castelo, Serrano, Santa Terezinha, Paquetá, Conjunto Celso Machado e parte de Contagem, na Grande BH.

Para o consultor em transporte e trânsito Osias Baptista Neto, ex-diretor-presidente da BHTrans, o acréscimo de veículos no encontro das avenidas Pedro II, João XXIII e Tancredo Neves pode tornar o tráfego das vias mais lento, ainda que traga benefícios. “A vantagem é retirar o trânsito de vias estreitas, dentro de bairros, como as ruas Padre Eustáquio, Pará de Minas e Rio Pomba. Parte dos veículos poderão seguir direto pela Pedro II, que é mais plana. O problema é que os os gargalos, nos semáforos e cruzamentos, ficarão ainda mais sobrecarregados”, avalia.

De acordo com ele, esse projeto é antigo, da década de 1980, mas tinha como destino a região do Ressaca, entre a cidade de Contagem e a Pampulha. “Na época, não se previa o grande desenvolvimento de áreas como o Bairro Castelo, que impulsionou essa mudança de destino”, avalia.

A ausência de um sistema mais eficiente de transporte coletivo entre as regiões a serem interligadas ainda pode ser considerado um problema que levará congestionamentos à nova ligação, na análise do mestre em engenharia de transportes pelo IME (Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro) Paulo Rogério da Silva Monteiro. “O tráfego tende ao equilíbrio. Quando se abre mais espaço, ele tende a ser ocupado. Como não haverá melhora das linhas coletivas ou a implantação de sistemas como o BRT, quem ocupará essa abertura serão os automóveis. Basta ver o elevado da Rua Jacuí (Região Nordeste), como se tornou abarrotado pelos carros”, compara.

Para o presidente da Associação de Moradores do Bairro Castelo, Dorgival Modesto Jorge, a região, por enquanto, “só melhorou para quem saiu da favela”, a Vila São José. “Já o trânsito, não tem jeito. Vai ter um gargalo. No início, no encontro das vias, vai fluir. Mas vai chegar na frente e vai engarrafar”, afirma. Morador da região há 35 anos, Jorge não vê outra solução que não seja o alargamento da Pedro II. “Hoje já é difícil pegar a avenida. É preciso sair mais cedo e se programar, porque houve aumento da frota da região e também da população”, considera.

Como está: Como os últimos barracos removidos, pistas tomam forma e tráfego chegará a 85 mil veículos/dia
Como está: Como os últimos barracos removidos, pistas tomam forma e tráfego chegará a 85 mil veículos/dia (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Moradores e trabalhadores dividem opiniões sobre vantagens e desvantagens, mas todos consideram que o trânsito vai piorar com o ingresso de mais veículos na Pedro II. “A abertura de mais uma ligação é melhor para a gente que trabalha com entregas. Mas, como morador, sei que vou enfrentar mais dor de cabeça em engarrafamentos, ônibus e carros fechando cruzamentos. A avenida é a mesma”, compara o vidraceiro Lucas Augusto Pereira da Costa, de 19 anos. “Para quem vai ficar batendo volante o dia inteiro no engarrafamento, vai ser bem complicado passar pela Pedro II. Para mim, que trabalho aqui, acho que vai trazer mais clientes”, espera o frentista Junio José Teixeira, de 24.

Entenda o caso

– A remoção das 2.240 famílias da Vila São José, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e as obras de ligação entre as avenidas Pedro II, João XXIII e Tancredo Neves, começaram em 2007, ao custo estimado de R$ 116 milhões. A conclusão estava programada para dezembro de 2010.
– Em 2010, a prefeitura prorrogou o prazo e remarcou a inauguração para novembro deste ano. Porém, vários problemas para remover moradores atrasaram mais uma vez as intervenções.
– Em 30 de agosto, em solenidade da ordem de serviço para as obras de mobilidade da Copa de 2014, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) definiu a intervenção, que segundo seus cálculos ficaria pronta em novembro, como o “presente de aniversário para BH”, que completa 114 anos
em 12 de dezembro.
– A resistência da última moradora em deixar sua casa travou o avanço das máquinas por mais três meses, como mostrou o Estado de Minas. Depois de acordo para a remoção, a entrega da obra foi adiada para fevereiro de 2012.


Alargar viaduto custará R$ 10 mi

Com o abandono do BRT e do projeto de duplicação, restou à Avenida Pedro II três ações para ampliar viadutos e intervir na organização da via, antes da sua ligação com as avenidas Tancredo Neves e João XXIII. De acordo com o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas, o semáforo do final da Pedro II sob o Anel Rodoviário deverá ser removido para dar lugar a uma rotatória. Um estudo de implementação de transporte coletivo está para ser iniciado e o viaduto de chegada da avenida ao Centro será alargado, em obra que começa ano que vem e custará R$ 10 milhões.

O diretor arrisca prever que o número de usuários da via permanecerá inalterado, pois os motoristas que hoje trafegam pela Avenida Presidente Carlos Luz, sentido Centro, e entram na via serão os que usarão a ligação da Pedro II com João XXIII e Tancredo Neves. “Além do mais, temos esses três focos que iremos trabalhar para melhorar o fluxo da região”, afirma. Segundo cálculos da BHTrans, no horário de pico cerca de 1.300 veículos deixarão de passar pela Carlos Luz, optando pela nova ligação. O reflexo será a redução de 29% do fluxo da Carlos Luz e aumento de 39% da Dom Pedro II, o que significaria, na opinião do diretor, uma compensação aceitável, já que o trecho que será aberto é mais largo, comportando três pistas por sentido. “O Bairro Ouro Preto está muito carregando. A abertura da Pedro II será uma facilidade para se sair de lá pela Tancredo Neves e ter acesso ao Anel Rodoviário”, destaca.

O complexo Pedro II/Carlos Luz é alternativa à Avenida Antônio Carlos para se chegar ao Mineirão e receberá também incremento de tráfego em dias de jogos. Das intervenções previstas pela BHTrans para a Avenida Pedro II, a mais simples é a retirada do semáforo no encontro com o Anel Rodoviário. Além do alargamento do viaduto de chegada ao Centro, no Complexo da Lagoinha, prevista para terminar até a Copas das Confederações (2013), a empresa estuda junto com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ampliar as alças de acesso ao Anel Rodoviário.

Estação Uma das soluções que convergem com a análise de especialistas no que toca à redução do tráfego de automóveis na Pedro II é o estudo melhoria do transporte coletivo. De acordo com o diretor da BHTrans, uma empresa será contratada no próximo ano, ao custo de R$ 3 milhões, para levantar a viabilidade de a Estação BHBus São José integrar o tráfego da Região da Pampulha, dispensando a necessidade de se ir ao Centro de Belo Horizonte para o deslocamento até outras áreas da cidade. “Será um grande beneficio para quem circula na região. A ideia é termos uma tarifa regional, de R$ 1,75, e deslocamentos internos para mudar de ônibus e seguir para outra região. Teremos ligações com a Antônio Carlos, Amazonas e Centro”, afirma Jorge. Ainda de acordo com ele, a estação só ficaria pronta na Copa do Mundo (2014), ao custo de R$ 20 milhões.


Reconstrução impossível

Visto de baixo, sobre um enorme barranco de terra, o tráfego intenso de caminhões carregados, tratores, escavadeiras e outras máquinas pesadas passando na beirada do monte assustam Maria Cândida de Carvalho, de 76 anos. Moradora da Vila São José, na Região Nordeste de Belo Horizonte, a aposentada não foi removida da vila para a obra de ligação entre as avenidas Pedro II, João XXIII e Tancredo Neves. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), preferiu demolir seu quintal, a garagem e a casa do filho dela e indenizá-la, para que após as obras, ela pudesse reconstruir tudo. Porém, o local para levantar as novas estruturas, hoje, é um aterro com 23 metros de altura.

“Como é que vamos construir alguma coisa aí? Essa obra acabou com meu sossego e com minha saúde. Todo dia temos de correr para tirar os carros estacionados, porque dizem que vão rolar terra e que vai soterrar tudo embaixo, justamente onde está minha casa”, reclama a senhora que vive com o filho, a nora e uma neta de 19 anos.

As intervenções para a obra puseram abaixo os muros da casa da aposentada. Sem essa proteção, ela diz que seu quintal se tornou ponto de passagem de pessoas da vizinhança durante o dia e de circulação de criminosos à noite. “Não tem um dia que alguém não rouba minha horta. Levam alface, cebolinha, couve, o que querem. Se ainda fosse para comer, mas já ouvi que é para vender. Outro dia, um bandido invadiu minha casa, entrou no meu quarto e levou o dinheiro que tinha separado para fazer compras”, reclama.

O clima de insegurança obriga a família a trancar portas e janelas e a reforçar esses acesso. A rotina os obrigou a nunca deixar a casa sem alguém, por medo de saques. De acordo com a Sudecap, até o final da obra a montanha de terra será removida, como combinado, e a moradora poderá reconstruir a casa, caso deseje. (MP)
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)