Você só toma refrigerante ou suco e gosta de comer fora? Então use mais o fogão de casa ou se prepare para gastar mais com jantares, tira-gostos e almoços em bares e restaurantes de Belo Horizonte. O maior rigor da Lei Seca, cujo projeto já foi aprovado no Senado e está em discussão na Câmara dos Deputados, pode atingir não apenas os apreciadores de quantidades mais expressivas de cerveja, vinho ou uísque, que tendem a reduzir o consumo de álcool com a aprovação da nova lei. Ao lucrar menos, os empresários do setor tendem a aumentar o preço dos pratos para compensar o que vão perder com as vendas de bebidas, prejudicando também os adeptos da mesa mais seca, segundo o presidente da seção Minas da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fernando Júnior. Ele também admite que podem ocorrer demissões no setor.
De acordo com Fernando Júnior, compensar em um produto ou serviço a perda de receita registrada com outro ou dispensar funcionários é estratégia comum no comércio em momentos de retração. “O mercado vai se adaptando”, diz o presidente da Abrasel no estado. O dirigente afirma ser a favor de que ninguém beba antes de dirigir, mas reclama da falta de infraestrutura na cidade para que os consumidores possam deixar o carro em casa e usar o transporte público. “Onde está o metrô? Os ônibus prestam um bom serviço? Quem quiser beber tem dificuldade até mesmo para pegar um táxi em Belo Horizonte”, reclama.
O setor de bares e restaurantes de Belo Horizonte reúne cerca de 12 mil estabelecimentos, fatura R$ 2,5 bilhões por ano e tem 72 mil funcionários. Para o presidente da Abrasel, caso a nova lei entre em vigor sua aplicação dependerá da fiscalização que será realizada na cidade. “A questão não é apenas a lei, mas a fiscalização e a conscientização de que não se pode beber e dirigir”, diz Fernando.
Tolerância zero
Para presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte, o endurecimento da legislação é um caminho natural que o Congresso Nacional já deveria ter seguido. “A Lei Seca é para ser obedecida e, na prática, não há diferença se o motorista consumiu menos ou mais de 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido. Deve ser mantida a tolerância zero”
Segundo ele, o projeto de lei em tramitação na Câmara pode contrariar alguns setores, que alegam a inconstitucionalidade da proposta, mas beneficia a sociedade, pelo seu caráter humanitário. “A matéria visa à redução do número de acidentes. E a questão deveria ir além, discutindo também a ampla divulgação do consumo de bebida na mídia. Não existe a máxima de ‘beba com moderação’. Quem bebe um copo de cerveja não para em apenas um”, avalia.