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Estado de Minas

Chuva deixa moradores de áreas de risco em alerta

Para moradores de áreas de risco, como a vizinhança do Córrego do Onça, aproximação da estação das águas desperta sensação de impotência frente a problemas que tendem a voltar


postado em 04/10/2011 06:00

A chuva fina que voltou a Belo Horizonte embala o sono de muita gente quando bate no telhado. Mas para a dona de casa Maria Salete Braz dos Santos, de 36 anos, e suas três filhas, de 15, 13 e 12 anos, a água que se acumula no solo e escorre do asfalto para o Córrego do Onça, engrossando a correnteza, é um ruído pavoroso, que não deixa a família dormir. O curso d’água, que segundo especialistas é uma das áreas de risco mais sensíveis da capital na época chuvosa, passa a 15 metros da janela do quarto delas, no bairro Novo Aarão Reis, Região Nordeste. "É só cair uma chuvinha que parece que as águas estão passando dentro da minha casa. Como foi no ano passado, quando perdemos quase tudo nas enchentes", lembra.

Os temporais do ano passado deixaram um saldo de 18 mortes na cidade e a fúria do Onça trouxe prejuízos e desolação para a região da Avenida Cristiano Machado e entre os bairros Novo Aarão Reis e Ribeiro de Abreu. A força da correnteza de águas negras deixou muitas marcas assustadoras em volta da casa de Maria Salete. Parte do muro, do quintal e da plantação de bananeiras foi arrancada e engolida pelo ribeirão, que ainda teve força para derrubar parte de um quarto que ainda vinha sendo erguido. Rachaduras avançam pelas paredes e pelo piso. "Paramos com a construção. Não é seguro ninguém dormir perto desse rio. Quando a chuva vem e o rio sobe, os bombeiros até nos pedem para sair, mas não temos lugar para ir. Aí, a gente fica aqui, rezando e torcendo, enquanto os móveis e as roupas bóiam na água fedorenta", conta.

A filha dela, Bruna Sofia Braz Ferreira, de 15, que cursa a 8ª série do ensino médio, lamenta os prejuízos materiais e também a perda de aulas por causa do isolamento que as águas provocam. "No ano passado, perdi 10 dias de aula. Não dá para sair de casa quando o rio enche, porque a água cerca a rua. Quando a água vai embora, a gente precisa ajudar a limpar a lama suja, tirar os bichos mortos e a porcariada que o rio traz", reclama a adolescente.

Outra vizinha do Ribeirão do Onça que já perdeu o sossego logo na primeira chuva é a diarista Luciana Aparecida Santos, de 33. Ela e os irmãos tinham conseguido conter as enchentes do córrego com a construção de um muro longo em torno da moradia. Mas a barreira de um metro e meio de altura também não resistiu à força das águas e já está com trincas que cabem até um dedo. "Vamos ter de fazer outro muro, antes que as chuvas venham com força. Mesmo com o muro, a água ainda entra pelo esgoto e precisamos passar o dia tirando com baldes. Nessa época, além, do mau cheiro, começam a aparecer baratas e ratos", recorda.

A vizinhança dos bairros mais suscetíveis às cheias do Ribeirão do Onça recebeu ontem, pelo correio, panfletos com dicas de prevenção para o período chuvoso, distribuídos pela Agência Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Os livrinhos educativos alertam para o aparecimento de trincas nas casas e sinais de inundação, como aumento do nível dos córregos e rios e a cor barrenta da água. Outro alerta que parece ser ignorado pela vizinhança é quanto à formação de bota-foras e o despejo de lixo nos córregos. Por toda região do Aarão Reis, Ribeiro de Abreu e até na Cristiano Machado há muito lixo e depósitos clandestinos de detritos ameaçando as bordas dos rios.

Em Belo Horizonte há 208 vilas, favelas e conjuntos habitacionais populares, que representam 5% do território. De 1º de abril até 14 de setembro, técnicos da Urbel vistoriaram 1.256 moradias em áreas de risco. Neste período, 66 famílias foram removidas. A região com mais áreas de risco é a Leste, com 13 remoções definitivas, a maioria da Vila Fazendinha e Taquaril. A Nordeste está em segundo lugar, com 10 remoções, principalmente na Vila Beira-Linha.


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