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Estado de Minas

Cartões-postais de Minas estão ameaçados pelos incêndios

Fogo consome vegetação no entorno da Praça do Papa e ameaça mansões na Zona Sul da capital. No Caraça, chamas derrotam bombeiros e brigadistas, deixando santuário isolado


postado em 12/09/2011 07:03 / atualizado em 12/09/2011 07:28

Colunas de fumaça se erguem a partir dos picos da área de preservação há 12 dias(foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Colunas de fumaça se erguem a partir dos picos da área de preservação há 12 dias (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press)

Quem procurou avistar um belo horizonte ontem, na capital, encontrou uma névoa cinza. O céu da cidade foi tomado por uma nuvem de fumaça e de partículas de poeira provocada pelo tempo seco, com umidade relativa do ar em torno de 17%, e pela fumaça de focos de queimadas registradas em vários pontos. Entre as mais graves ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros, uma pôs em risco importante área de proteção ambiental, a Serra do Curral, no Bairro Mangabeiras, Região Centro-Sul. O fogo começou por volta das 12h30 em uma área particular vizinha à serra, a poucos metros da Praça do Papa, e ameaçou pelo menos três imóveis de alto padrão. Até o início da noite, as chamas ainda desafiavam militares. Moradores ajudaram no combate ao incêndio e com suas mangueiras tentavam a apagar os focos mais próximos da rua. O combate desigual é travado também em outro cartão-postal do estado: o Santuário do Caraça, reserva que há 13 dias arde em chamas e onde o abastecimento de água e o turismo já foram comprometidos.

Nas vizinhanças da Praça do Papa, de acordo com o sargento Geraldo Dorotéia, do 1º Batalhão de Bombeiros Militares (BBM), a estimativa é de que cerca de 40 hectares de vegetação tenham sido queimados. “Foi uma área muito grande e um prejuízo enorme para a flora, que aqui é composta de cerrado e remanescente de mata atlântica. Muitos animais morreram”, contou o sargento. Além de oito bombeiros, o combate contou com o reforço de 10 brigadistas do Parque dos Mangabeiras e dois da Brigada 1, que é voluntária. Foram usadas duas viaturas. A primeira, carregada com 1,5 mil litros de água, não foi suficiente e teve que ser substituída por outra de 5 mil litros.

Da porta de casa, a aposentada Arlete Sayar Ferreira, de 72 anos, lamentou a devastação das chamas que avançavam pela vegetação rasteira e pelos pinheiros localizados do outro lado da rua. “Eles estão aqui há anos. Nasceram de sementes levadas por passarinhos de árvores da mesma espécie que eu tinha em minha casa. São meu xodó!”, disse. Desde que viu os primeiros focos, Arlete, o marido e outros vizinhos tentavam ajudar a apagá-los com a água de casa.

Mirante

Na tarde em que o casal de namorados Marconi Vieira de Assis, de 36, e Mariana Carvalho, de 27, buscaram uma visão privilegiada da capital, pouco pôde ser visto. “Sou de BH, mas moro no Rio. Viemos aqui porque sei que a vista é muito bonita, mas o céu hoje está cinza. Não tivemos sorte”, lementou. Já Mariana estranhou o tempo seco. “Durante a viagem, me chamou muito a atenção a quantidade de queimadas. Aqui em BH, está difícil até de respirar”, disse.

De acordo com o técnico de planejamento hidroenergético da Cemig Geraldo Paixão, a fumaça no céu da capital registrada ontem é resultado da suspensão de partículas na atmosfera, devido à falta de umidade no ar. O fator se associa aos constantes incêndios. O quadro, segundo ele, poderá mudar a partir de amanhã com a passagem de uma frente fria sobre o Sudeste do país. “A umidade deverá subir para cerca de 30% e a temperatura pode cair até 3 graus, chegando a 29 graus”, explicou. Em alguns pontos da Grande BH há, inclusive, possibilidade de pancadas de chuva, mas na capital, onde não cai um pingo há 96 dias, Paixão adianta: “Não há previsão de chuva pelo menos nos próximos 10 dias”.

Batalha no caraça

Santa Bárbara e Catas Altas - Usando esguichos de água fracos das bombas que trazem nas costas e chicotes de borracha, uma tropa cansada e maltrapilha de 80 bombeiros e brigadistas luta e sofre seguidas derrotas contra chamas de mais de 12 metros que escalam morros e consomem árvores inteiras quando o vento as alimenta. Essa batalha desigual tem sido a tônica do combate a dois grandes focos de incêndios que já devastaram mais de 500 hectares de mata atlântica e de campos rupestres do Santuário do Caraça, na Região Central de Minas, entre Santa Bárbara e Catas Altas. A área corresponde a 4,5% dos 11.255 hectares da reserva particular de preservação natural. As chamas já deixaram parte de Catas Altas sem água e provocaram o fechamento do santuário para o turismo. Enquanto os combatentes entram nas matas fechadas, dois pequenos aviões monomotores despejam 1.500 litros de água sobre a floresta fumegante. “Precisamos de mais aeronaves para combater esses focos. A situação aqui é muito grave. O fogo atingiu as copas das árvores e não pode ser debelado por homens em solo”, afirma a bióloga do santuário, Aline Abreu.

A força-tarefa que reúne Corpo de Bombeiros, Instituto Estadual de Florestas (IEF), brigadistas e voluntários conta também com um helicóptero para transportar os combatentes aos locais mais distantes. A agilidade das chamas,que se alastram com os ventos e aumentam sua velocidade em terrenos altos, obrigou a força-tarefa a mapear constantemente o movimento do fogo com o helicóptero. No início da manhã, de acordo com o comandante da força-tarefa, major Rildo Alves, do Corpo de Bombeiros, o foco de incêndio mais devastador se encontrava entre a Serra do Caraça e algumas fazendas, na área da Serra da Água Quente. O outro,que estava menor, consumia o Pico da Conceição e podia ser visto da estrada que leva ao santuário. “Enviamos 11 homens para o Pico da Conceição e estamos concentrando nossos esforços no outro foco”, disse. Porém, por volta das 14h, o grupo de bombeiros e brigadistas do santuário que combatia o fogo no Pico da Conceição, uma área de vales íngremes e mata fechada, começou a aparecer na estrada, quase sem fôlego pelo esforço de se deslocar e por causa do desgaste ao combaterem as chamas. “Temos de caminhar uma hora e meia até o fogo. Usamos as bombas com água e os chicotes, mas, quando a água acaba, precisamos andar mais uma hora para abastecer.

O helicóptero não conseguiu nos entregar almoço, por isso viemos até a estrada”, desabafou um dos bombeiros. Do vale coberto pelas árvores e pela fumaça densa do incêndio, os bombeiros começaram a gritar para pedir orientação aos colegas que tinham conseguido chegar à estrada. “Onde vocês estão?”. “A estrada já é aí?”.“Tem alguém para nos buscar?”.À medida que foram saindo do mato, os homens tratavam de remover suas botas rachadas, rasgadas, algumas até sem solado.

Os uniformes grossos também se partiram no esforço. A pele suada e suja de fuligem exibia arranhões e vergões. Um dos bombeiros,que pediu para não ser identificado por não ter permissão para dar entrevistas, chegou mancando. “Caí logo cedo, quando descia a serra. É muita mata fechada e mato alto entre as árvores. Quase não vi o chão. Mesmo com dor, tive de continuar. Não poderia parar para ser medicado. A gente vai aguentando”, desabafou. Na beira da estrada, os homens receberam marmitas. Enquanto comiam, comentavam as dificuldades nesses três dias seguidos de combate às chamas. De lá, podiam ver na mata de onde saíram o fogo aumentar bruscamente, recuperando terreno que tinha perdido depois de horas de árduo combate, tomando de fumaça o vale do Pico da Conceição.

Pelo horário avançado, foram chamados de volta à base. “Não há como voltarem para esse foco. Até chegarem lá, anoiteceria. Como é que poderiam voltar em segurança?”, disse o major Alves. Quando a reportagem deixou o santuário, o fogo já se aproximava da estrada que dá acesso ao santuário e à igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, na sede.O caminho já estava coberto pela fumaça. A previsão dos bombeiros é de que, no mínimo, haja mais três dias de combate, se a situação não piorar.

Veja as imagens do incêndio no Caraça



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