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Estado de Minas

Tráfico de drogas desafia Porto Seguro

Delegado reconhece presença de traficantes de outros estados no Sul da Bahia e admite dificuldade em combater comércio de drogas. Moradores pedem reforço no policiamento


24/07/2011 07:33 - atualizado 24/07/2011 13:12

Rua de Arraial D'Ajuda: segundo a polícia, consumo de crack tem crescido no distrito e também em Porto Seguro, Trancoso e Caraíva
Rua de Arraial D'Ajuda: segundo a polícia, consumo de crack tem crescido no distrito e também em Porto Seguro, Trancoso e Caraíva (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Porto Seguro - O aumento da violência em Porto Seguro é em parte atribuído por moradores e pela polícia ao tráfico de drogas no Sul da Bahia. O delegado Rafael Zanini, mineiro de Belo Horizonte e responsável pela apuração dos crimes cometidos em Arraial D'Ajuda, Trancoso e Caraíva, admite que não há como “zerar” o tráfico na região. “Logo quando cheguei aqui percebi que o consumo era uma questão cultural. Existia uma espécie de turismo em que a pessoa vinha aqui para utilizar droga livremente. A gente tem feito diligências e abordagens para tentar conter essa prática, em parceria com a Delegacia de Proteção ao Turista”, disse.

O crack, segundo o delegado, é a droga mais consumida na região. Mas uma recente apreensão de oxi no município vizinho de Guaratinga preocupa Zanini. A droga é mais letal do que o crack. "Acredito que o oxi já esteja circulando na nossa região”, reconheceu. Segundo o delegado, a maior parte dos traficantes são nativos, mas levam criminosos de fora para a região. "São esses de fora que fazem o varejo, que é o repasse de drogas. Também temos traficantes de São Paulo vivendo aqui. Um dos maiores deles a gente conseguiu prender no ano passado”, conta. “A situação fica um pouco controlada, mas, se não têm drogas aqui, eles vão buscá-las em outro lugar, enquanto houver a procura”, disse o delegado.

Em fevereiro do ano passado, a quadrilha de um traficante paulista conhecido como Igor Cavalheiro trocou tiros com criminosos de Arraial D'Ajuda, disputando o comando do tráfico na região. A adolescente Dandara Monteiro, de 13 anos, passava de carro com a família e foi morta por uma bala perdida. A presença de traficantes paulistas na região reforça a suspeita da polícia de que haja ramificação de organização criminosa de São Paulo. Em 2006 e 2009, a polícia mineira prendeu mais de 50 traficantes em três operações na região de Teófilo Otoni, Vale do Mucuri, em Minas, muitos dos quais paulistas que viviam em Porto Seguro e abasteciam traficantes mineiros.

"Vários já foram mortos nessa guerra do tráfico ou estão presos", informou Rafael Zanini, que reconhece a existência de crime organizado na região de Porto Seguro. Grande parte da droga chega a Porto Seguro via terrestre, segundo o delegado, em “veículos mulas”, transportando grandes quantidades de cocaína, maconha e crack. “No início do ano, um caminhão foi apreendido em Santa Cruz de Cabrália com mais de meia tonelada de maconha", ressaltou. Dos três distritos comandados pelo delegado, Trancoso é o mais perigoso, na opinião dele. “O ideal seria ter uma segunda delegacia lá, ou mesmo um contingente maior de policiais ostensivos (PMs). A gente tem apurado os crimes e tentando controlar a criminalidade dessa forma”, disse.

União

O presidente da Associação do Conselho de Segurança de Trancoso, Claudiney Peruzzo, conta que a falta de policiamento foi um dos motivos que levaram moradores a se unir, há três anos, para pedir providências. “Na época, as quadrilhas estavam começando a ser formadas aqui dentro. Muitos traficantes vinham de fora e acabam ficando. Criamos o Conselho de Segurança. Fizemos diversas reuniões pedindo uma delegacia, fomos à Secretaria de Segurança em Salvador, mas nosso esforço foi em vão", disse Claudiney.

Segundo ele, há 20 anos Trancoso tinha três policiais militares fazendo o policiamento ostensivo. "Na época, tínhamos em Trancoso três mil habitantes. Hoje, temos quase 20 mil e continuamos com apenas três PMs. Eles sozinhos não têm como combater o tráfico de drogas”, reclama. “De dois anos para cá, as maiores vitimas têm sido os turistas. Por mês, são pelo menos dez assaltos à mão armada aqui em Trancoso, fora os que não são registrados. Muitas vítimas desistem de viajar 40 quilômetros para fazer o boletim de ocorrência", denuncia.

Muitos empresários, diz Claudiney, desistiram de investir em Trancoso. Ele cita o dono de uma fábrica de gelo. "Ele veio, comprou o terreno, mas foi assaltado, desanimou e passou para o sócio”, disse. “Turista assaltado também desiste de ficar o restante das férias aqui e vai embora", acrescentou. O Estado de Minas esteve no pelotão da PM na tarde de sexta-feira e encontrou os três PMs vendo televisão. "A gente só registra ocorrência de perda de documento, mas a pessoa também pode fazer pela internet”, disse o sargento Gerenaldo Saturnino. O estado de conservação do único carro dos PMs é outro retrato do descaso: os pneus são carecas e o carro só funciona no tranco.


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