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Estado de Minas

Entidade que representa flanelinhas também reclama

Aumento da presença de guardadores clandestinos é apontado pela própria entidade que se apresenta como representante de quem é cadastrado. Entre motoristas, o clima é de medo


postado em 13/07/2011 06:00 / atualizado em 13/07/2011 06:06

A sensação de que todos os ventos sopram a favor da ilegalidade dos flanelinhas em Belo Horizonte não é só dos motoristas. A própria “categoria” alega que mais guardadores de carro não licenciados estão atuando na capital. O Sindicato dos Trabalhadores, Lavadores, Guardadores, Manobristas e Operadores de Automóveis Autônomos em Estacionamentos Particulares e Lavajatos de Minas Gerais (Sintralamac), reclama que há mais de um ano o município não credencia flanelinhas. Além disso, um dos símbolos do cadastro, o colete, que ajudava o condutor a diferenciar pelo menos quem agia com permissão oficial, não é mais distribuído pela prefeitura, que alega não ser essa sua função.

“Quem paga o pato é o próprio guardador cadastrado, pois ele pensa: cadastrar para que, se estão todos de volta à rua sem nenhum problema?”, questiona Martim dos Santos, presidente da Sintralamac. A Regional Centro-Sul informa que os cadastrados têm crachá e que os coletes são de responsabilidade do sindicato. A regional também informou que há um ano não faz cadastros por falta de demanda.

Mesmo aqueles que se apresentam como credenciados cobram mais fiscalização e temem a disputa com os que tentam tomar pontos à força (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
Mesmo aqueles que se apresentam como credenciados cobram mais fiscalização e temem a disputa com os que tentam tomar pontos à força (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press)
S.S., de 24 anos, atua há cinco anos como flanelinha na região hospitalar da capital. Há três anos é cadastrado pela PBH, mas está desanimado com a pressão dos clandestinos, que, segundo ele, chegam com violência e querem tomar o ponto à força.

Ganhando em média R$ 100 por dia, ele diz que “as portas estão abertas para quem quiser ocupar os quarteirões”. Segundo ele, moradores de rua estão “tomando conta” e ameaçando os motoristas. “Há infratores e usuários de drogas fazendo o mesmo, o que prejudica quem está aqui para sustentar a família”, critica.

Há oito anos atuando como guardador de carros no Bairro Funcionários, A.D. não gosta de usar o crachá da PBH, apesar de ser cadastrado, mas não sabe explicar o motivo. Diz que a falta de vagas de estacionamento na cidade tem impulsionado a ocupação. “Tem mais carros nas ruas e menos lugares para parar. Os ilegais ficam de olho”, adverte.

Nesse clima, motoristas se dizem reféns do medo. O advogado Rogério Senna destaca que a abordagem já mudou. “Antes era um cafezinho, mas agora é R$ 5, R$ 10. Eles estipularam o valor. O poder público tinha que parar de se preocupar só em multar e abrir os olhos para essa realidade, ter uma ação efetiva contra isso.” O engenheiro civil Gleidson Luiz Lopes da Silva já teve o pneu do carro esvaziado e um dos faróis quebrados por flanelinhas. “Está ficando pior”, constata.

Na Savassi, o medo de motoristas é constante. Morian Faria, fisioterapeuta e comerciante da região, se sente ameaçada. “Eles te obrigam a comprar a folha de estacionamento e é um perigo contrariá-los, pois não há fiscalização. Como paro todos os dias, a gente acaba se rendendo, por medo. Com mulheres é ainda pior. Estão protegendo nossos carros de quem?”

Entrevista

O.S.D.
Flanelinha clandestino

“Isso está aumentando e ficando perigoso”

Há 16 anos trabalhando como guardador de carros na Rua dos Otoni, na Região Hospitalar, O.S.D. não está cadastrado pela prefeitura e, por esse motivo, já foi levado duas vezes pela Polícia Militar. Fiscalização que, para ele, não passa de “perda de tempo” e de dinheiro. Chegando a contabilizar cerca de R$ 100 por dia com o trabalho, ele não pensa em largar a profissão tão cedo.

Você já foi detido por atuar na rua ilegalmente. Como foi essa prisão?

É uma verdadeira perda de tempo. A polícia não faz nada e os fiscais, também não. Você vai para a delegacia, fica sentado e depois, no mesmo dia, é liberado. Já fui detido duas vezes e voltei no mesmo dia. O que eu perdi com isso? O dinheiro do meu trabalho, porque tem um cliente para pagar a cada minuto.

 

E a multa de R$ 1,5 mil, você chegou a pagar?

Multa? Não falaram nada disso. A fiscalização é um zero à esquerda. No meu caso, foi tudo arquivado. Eles já me conhecem. Sou antigo aqui e, muitas vezes, fico com a chave dos clientes.


Mas você pretende se cadastrar para entrar na legalidade?

A prefeitura não está legalizando ninguém. Em uma das minhas prisões, o delegado chegou até a me sugerir fazermos uma greve na cidade, para abrir o cadastro de novo. O grande problema são outros guardadores que estão chegando e pegando nosso espaço. Isso está aumentando e ficando perigoso.


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